
O vento quente de abril confirmou minha chegada à África. A costa oeste, tão pouco visitada - Gana, Costa do Marfim, Serra Leoa, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal - abria com timidez sua ancestralidade encoberta pelas mazelas, ainda não digeridas, do colonialismo. Era o início de uma daquelas viagens nada convencionais, costuradas por reflexão, aprendizado, transformação, curiosidade e por que não dizer “pitadas de apreensão”. Afinal estamos falando de uma região sabidamente infestada de piratas, o Golfo da Guiné. Não foi por acaso que ao me despedir dos meus filhos recebi a missão de mandar notícias “todos os dias”. Eu estava embarcando para desvendar uma face da África que eu pouco conhecia, além de Angola. Minhas andanças pelo mundo já tinham me levado para Tanzânia, Ruanda, Zâmbia, Zimbábue, Botsuana, Egito, Marrocos e África do Sul com experiências focadas na vida selvagem, na história antiga e no viés cultural. No entanto, o mergulho agora era mais denso, ligado aos assombros da escravidão de mais de 12 milhões de africanos.