O LUXO DO CRISTALINO LODGE NA FLORESTA AMAZÔNICA
Imagine a beleza de ver um casal de araras vermelhas riscando
o céu e fazendo arruaça enquanto ao longe um pica-pau começa seu trabalho ritmado
num tronco de árvore, ao mesmo tempo em que o som de um bugio ecoa pela mata.
Se para alguns a proposta de encarar a vida na selva pode parecer assustadora,
para outros soa como uma verdadeira experiência de luxo.
Mas nesse caso, o luxo não significa ar condicionado,
televisão de tela plana, wi-fi bombando, muito menos ter um mordomo de luvas
brancas. E sim, viver a vastidão da floresta no ritmo lento das horas, ouvir o
canto dos pássaros ao longe, nadar na água limpa dos rios, ver os animais cruzando
livres seu caminho, ter um barqueiro local para chamar de seu, um guia
experiente para conduzir pelas trilhas, uma horta orgânica para abastecer sua
mesa e ficar hospedado confortavelmente num dos bangalôs rústicos do CristalinoLodge, cuidados com tremendo carinho por Dona Vitória, uma mulher de fibra que
do alto dos seus 78 anos comanda uma equipe afinada pelo respeito à natureza.
Mapa das trilhas.
Tudo começou pelas mãos de Ariosto da Riva, um visionário, pai de Dona Vitória, que resolveu desbravar a Amazônia Mato-grossense e, na década de 70, fundou a cidade de Alta Floresta.
RPPN Cristalino.
Tive o prazer de conhecer Dona Vitória, que seguiu os passos do pai e idealizou nos anos 90 o projeto do Cristalino Lodge, em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, que segundo ela é seis vezes maior do que a ilha de Fernando de Noronha, e está inserida no Parque Estadual Cristalino (criado em 2.000 ao redor da RPPN).
Um projeto pioneiro na implantação de atividade de ecoturismo, tão especial, que já foi catalogado pela National Geographic como um dos 25 melhores lodges do mundo, em 2011 recebeu o Prêmio Ashoka e em 2008 foi o vencedor do prêmio World Savers Awards realizado pela Condé Nast Traveler. Precisa mais?
A região onde fica o ecolodge é riquíssima tanto em termos
de flora como fauna. Para se ter uma ideia, um terço das espécies de aves catalogadas
no Brasil podem ser vistas aqui, ao redor de 600 espécies de pássaros, além de
mamíferos (macaco, anta, capivara, porco-do-mato cateto e queixada, onça-pintada, ariranha, lontra...)
e uma profusão de borboletas. Por isso, se tornou o principal destino de
observação de aves da Amazônia. É o reduto favorito dos birdswatchers do mundo todo.
Só não vá pensando que os pássaros estarão todos pousados
nos galhos das árvores pertinho da sede do hotel e que os mamíferos estarão
deitados na porta do seu bangalô, pois você pode sair frustrado. Estamos
falando de uma área vasta de mais de 7 mil hectares da Amazônia Mato-grossense
e de um projeto consciente na implementação de atividades de ecoturismo onde os
animais não são alimentados para atrair a atenção do turismo.
O Cristalino Lodge é o lugar ideal para quem quer se
emaranhar na vastidão da Floresta Amazônica e ao mesmo tempo ficar hospedado
com muito conforto e respeito à mãe natureza.
O hotel conta com uma super infra estrutura tanto em termos
de acomodação como em relação aos guias altamente qualificados e equipados para
garantir sua segurança na aventura de explorar a biodiversidade da floresta. Sim.
Vai ter cobra, vai ter aranha, vai ter muito inseto. E isso faz parte da
riqueza do ecossistema. Basta usar roupas adequadas, botas, repelente e seguir
os ensinamentos de quem conhece os segredos da floresta.
Botas e perneiras fazem parte da indumentária ideal para fazer trilhas na mata.
E, lembre-se, nada de cores chamativas. Faça parte do contexto.
E, lembre-se, nada de cores chamativas. Faça parte do contexto.
São apenas 18 bangalôs espaçosos (que variam de padrão standard a superior), isolados em plena selva,
com janelões protegidos por telas, feitos com materiais naturais, com boa
ventilação, sustentáveis, com tratamento de resíduos e aquecimento solar. A decoração
rústica em madeira garante o charme. Peças de artesanato, feitas na região,
dão um toque especial.
Em alguns bangalôs, uma área de banho ao ar livre traz um astral de aventura,
mas tem outro banheiro interno protegido por tela para não entrar nenhum
mosquitinho, ou caso bata medo de compartilhar o chuveiro com um
macaco abusado.
Do lado de fora, na varanda, uma rede convida ao relax no
meio da mata. Vez ou outra uma capivara ou um pássaro vem fazer companhia.
O acesso ao ecolodge é difícil e isso garante a
exclusividade. De Cuiabá é preciso voar por uma hora até Alta Floresta, rodar uma hora de carro por estrada de
terra e mais meia hora de barco a motor.
A chegada é pelo rio Cristalino. Um deque flutuante que sobe
e desce, conforme o rio dança na época da seca ou das chuvas, dá as boas vindas
aos hóspedes. Vale lembrar que o período chuvoso vai de outubro a abril.
Nesse mesmo deque tem dois grandes ombrelones e estrutura para quem quiser tomar um banho de rio ou curtir um “dolce far niente” ao longo do dia.
Nesse mesmo deque tem dois grandes ombrelones e estrutura para quem quiser tomar um banho de rio ou curtir um “dolce far niente” ao longo do dia.
A área social do hotel é muito aconchegante, tem dois
salões, uma lojinha e uma biblioteca com muitos livros sobre as espécies
típicas da região. Ao chegar fui direto para o salão principal onde Dona
Vitória esperava com o datashow já ligado para fazer uma palestra sobre seu
projeto pioneiro. Detalhe: a apresentação foi em inglês, pois a quantidade de
pesquisadores do mundo todo que aportam na região é enorme.
Passarela de acesso ao bar, biblioteca, lojinha e restaurante.
Muitos cantinhos aconchegantes para descansar.
Muitos cantinhos aconchegantes para descansar.
Ao fundo, a lojinha vende artesanato feito na região.
Entre o salão principal e o refeitório fica o bar. Ele é
aberto para a mata, onde uma lareira é acesa ao cair da noite. Sentar para
beber alguma coisa antes do jantar, ver o céu estrelado e ouvir os “causos”
contatos pelos guias é imperdível. Foi nessa hora que o guia Gilmar me
apresentou a uma aranha caranguejeira moradora do pedaço. Tamanho aproximado:
minha mão. Saber que esse tipo de aranha não é capaz de fazer mal ao ser humano
é importante. O conhecimento afasta o medo.
Depois do jantar maravilhoso, que tem como estrelas as
saladas orgânicas vindas da horta do hotel e os peixes de rio, é hora de
dormir. Cedo! Pois no dia seguinte
você vai querer pular da cama antes do sol nascer para ver a floresta
acordar e garanto que vai experimentar um turbilhão de emoções e sensações. Um
misto de excitação com sono e apreensão é só o começo.
No escuro, com uma lanterna na mão e perneiras como proteção
contra as cobras, um guia experiente te conduz pela trilha cerrada da mata em
direção a torre de observação de 50 metros. Passos atentos sobre as folhas
secas são a chave do segredo para espantar o receio de pisar em algum bicho.
Cada barulho na mata é um sobressalto no trecho de um quilômetro que conecta o
hotel ao observatório da altura de um prédio de 15 andares.
Lá do alto, os
ouvidos e os olhos se enchem de encantamento quando os primeiros raios de sol
começam a colorir o dia e a algazarra dos animais inicia numa sinfonia
perfeita. Assim, aos poucos, a floresta vai ganhando vida enquanto a névoa que
se forma sobre ela, começa a desaparecer.
Você estará muito metros acima da copa das árvores, num silêncio profundo que será quebrado somente pelo show da mãe natureza. Não tenha pressa. Curta cada segundo desse momento mágico e inesquecível.
Observatório na floresta.
Você estará muito metros acima da copa das árvores, num silêncio profundo que será quebrado somente pelo show da mãe natureza. Não tenha pressa. Curta cada segundo desse momento mágico e inesquecível.
Pouco depois das 5 horas o dia começa a clarear na floresta.
A neblina da manhã dá um ar misterioso.
Depois de mais de duas horas observando a rotina dos animais
na floresta, com o auxílio de binóculos, é hora de voltar para tomar um belo
café da manhã. Tapiocas deliciosas, omeletes preparados na hora, bolos feitos
com produtos locais, sendo a castanha-do-Pará uma das estrelas, frutas da
estação, sucos naturais. É tudo feito com carinho pela fantástica equipe do
hotel que faz os hóspedes se sentirem em casa.
Quando o sol estiver a pino, o calor vai convidar a um banho
de rio no deque flutuante, um passeio de caiaque ou um role de stand up paddle.
O barulho da água e o canto dos pássaros vão acompanhar seu momento. Se der
sorte, talvez veja uma ariranha descendo o rio ou quem sabe algumas antas
atravessando de um margem para outra, mas saiba que isso não é uma certeza. A
região é muito vasta, os animais têm muito espaço para circular livremente e
certamente vão preferir ficar longe de qualquer movimento considerado “risco”
para eles.
E assim os dias vão se sucedendo, entre trilhas na mata para
birdwatching (são mais de 10 trilhas
que passam de 30 quilômetros), subidas nas duas torres de observação para ver o
sol nascer, passeios de barco nas águas escuras e limpas do rio Cristalino e do
Teles Pires para sentir a vida da floresta e procurar um jacaré ou outro
escondidinho por ali.
Não deixe de fazer a Trilha da Castanheira. Uma trilha de três quilômetros cheia de paradas interessantes. No caminho, você vai
passar por um lamaçal chamado de "saleiro", onde os porcos selvagens fuçam na lama repleta de
minerais, se tiver medo dos animais, há uma pequeno observatório que lembra uma
guarita de salva-vidas de praia. Suba nele. Mais à frente, o guia bate no
tronco de um singelo arbusto e diz “observe as formigas que sairão por esse
furo, mas não toque nelas pois são venenosas e sua picada é dolorosa”. São as "Formigas-de-Fogo". Em instantes, o tronco se enche
de formigas e a gente vai embora. A próxima parada é num formigueiro imenso
preso a uma árvore. Dessa vez o guia pede para colocarmos as mãos sobre o
formigueiro e deixar as formigas subirem. Tive receio. Mas, todos fizeram isso
e logo esfregaram as mãos para se ver livres das bichinhas. A surpresa foi um
cheiro parecido com citronela no ar. Lição: quando estiver perdido na mata
procure por esse repelente natural. Mas, cuidado para não meter a mão no
formigueiro errado! No final da trilha, a imensa castanheira de quase mil anos
nos esperava para a foto. Imponente. Ela tem 46 metros de altura. Para
abraçá-la é preciso de sete a oito pessoas. Já passava das 4 horas da tarde e a escuridão
começava a tomar conta. A mata é densa e deixa passar apenas 20% da claridade.
Hora de ir embora.
Escolha entre as tantas trilhas que o hotel oferece.
Em qualquer uma delas a gente se sente pequeno diante da força da natureza.
Quando cansar haverá um cantinho para um pitstop, de olhos sempre atentos. Claro!
Aprendi muito nesses quatro dias. Sobretudo sobre os
mistérios da floresta, seus recursos, o ciclo da vida. A proposta é a interação
com a natureza nesse santuário de tremenda riqueza biológica que merece
reverência.
ASSISTA O VÍDEO ABAIXO E SE APAIXONE
Nosso Brasil é cheio de encantos.
ASSISTA O VÍDEO ABAIXO E SE APAIXONE
*Matéria atualizada em julho de 2023.
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OI CLAUDIA
ResponderExcluirQUE VIAGEM LINDA!
SÓ VC MESMO PARA NOS MOSTRAR ESTES CANTINHOS DO NOSSO BRASIL!!
OBRIGADO
VS
VS,
ResponderExcluirNosso Brasil é lindo demais. E esse é um do hotéis mais exclusivos do Brasil. Merece uma visita com certeza. :)
Muito bacana o relato dessa viagem !!!!! Já coloquei na minha lista dos desejos pra conhecer. Abço,
ResponderExcluirA Amazônia é impressionante. Um lugar de uma vastidão imensa que faz a gente se sentir pequeno. :)
ExcluirOlá....estive lá semana passada com minha esposa.. experiência..única!!!!! Dica sua que minha companheira obteve com você..
ResponderExcluirOi Claudia.. estivemos lá semana passada 5 noites maravilhosas.. e foi dica sua para minha companheira.
ResponderExcluirQue demais! O hotel é muito especial. Um lugar imperdível para quem quer conhecer as várias faces do Brasil.
ExcluirFeliz que tenham gostado.
Adorei receber esse retorno.
Claudia
Olá , em que época do ano você esteve ? Tem ventiladores nos quartos ?
ResponderExcluirOlá, estive em junho. Tem ventiladores sim. O hotel é incrível!
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