ANEGADA, O TESOURO SECRETO DAS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS
Pela janela do pequenino avião Cesna foram exatos nove minutos de suspiros no trajeto de Tortola a Anegada. Uma prévia do que estava por vir. Anegada é a mais setentrional das Ilhas Virgens Britânicas. E é exatamente por isso que muitas vezes passa batida e não chama muita atenção de quem se aventura pelo Caribe, apesar de ser a segunda maior ilha do arquipélago. Mas, deveria pois é rústica, discreta, azul fluorescente e intocada. Impressionante!
Mapa das Ilhas Virgens Britânicas.
ENTENDA AS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS
As Ilhas Virgens Britânicas (BVI – British Virgin Islands) tem status de território britânico ultramarino. O idioma oficial é o inglês e os carros tem mão inglesa, apesar de muitos deles terem o volante do lado direito. A moeda oficial é o dólar americano e os turistas dos Estados Unidos e Canadá são figuras constantes.
A região foi habitada por índios até a chegada de Cristovão Colombo no século XIV. Também passaram holandeses e franceses por ali, mas foram os ingleses que colonizaram o território no século XVII usando mão de obra escrava na plantação da cana de açúcar e algodão.
O arquipélago, formado por cerca de 60 ilhas e ilhotas, é bem compacto. A maioria delas não é habitada (apenas 11 são). As ilhas mais conhecidas são: Tortola, Virgin Gorda, Jost Van Dyke, Sandy Cay, Anegada, Peter Island, Norman Island e Necker Island.
As Ilhas Britânicas ocupam a mesma região geológica vulcânica que as Ilhas Americanas (St. Thomas, St. Croix e St. John) e são um dos maiores centros de abastecimento de barcos do Caribe, tanto veleiros, como navios. Contam com uma frota de mais de 500 “casas flutuantes”. É mais fácil achar um quarto disponível num barco do que num hotel. Não é a toa que o arquipélago, banhado pelo mar do Caribe e pelo oceano Atlântico, recebe o título de “capital mundial da navegação”. O mar é definitivamente o protagonista. Os extensos recifes de corais da região provocaram naufrágios históricos no passado e hoje seus restos servem como pano de fundo para mergulhos de profundidade entre suas ruínas.
A ESPETACULAR ANEGADA
Anegada é um magnífico atol, plano e baixo. Seu ponto mais
alto fica a apenas 8 metros acima do nível do mar e é exatamente daí que vem
seu nome “Alagada”, em espanhol. Uma pérola para quem gosta de mergulhar,
velejar, praticar kitesurf e curtir a natureza em sua forma mais pura.
A ilha idílica faz lembrar as Maldivas. É o único atol de
corais no arquipélago vulcânico das Ilhas Virgens. Suas praias desertas intermináveis
de areia branca, com água azul turquesa cristalina, centenas de flamingos, iguanas,
bons ventos, piscinas naturais e muito sossego, são o ponto alto. Anegada é
intocada. Você vai andar muitos quilômetros sem encontrar ninguém. É um
daqueles lugares de sonho que ainda existem escondidinhos no mundo. (Mas, não
espalha o segredo!) Aliás, reza a lenda que a região era uma antiga rota de
piratas, sendo o malvado Barba Negra um dos mais famosos.
Anegada fica a 32 quilômetros de Tortola (a porta de entrada
das BVI). Tem uma população de apenas
250 habitantes, além dos tantos cabritos, burricos e vacas que circulam por
conta própria, sem dono, até que vez ou outra alguém resolva adotar alguns deles.
Muita gente vai até a ilha de barco para passar o dia, ou
faz um bate e volta de ferry a partir de Tortola. No entanto, a ilha merece uma
visita relaxada, compatível com o espírito de um lugar que vive no seu próprio
ritmo. Quatro dias é perfeito para explorar seus 38 quilômetros quadrados e
mergulhar nos corais se sentindo dentro de um aquário repleto de peixes de
todas as cores, arraias, tartarugas e pequenos tubarões.
Mergulhei em dois pontos diferentes e recomendo. Um deles é
Loblolly Bay Beach onde tem um restaurante simpático pé na areia que serve como
ponto de apoio para chegar nadando nos corais a partir da praia. Aproveite para
almoçar ali. Foi um dos lugares onde vi mais turistas. Um grupo de dez pessoas.
Já, o outro local incrível para mergulhar precisa de um barco. Indico o simpático
Kelly Sea Tour +12845449661 um rapaz de vinte e poucos anos que foi uma
simpatia e nos levou com sua embarcação simples a um ponto fantástico para
mergulhar de snorkel, ver os flamingos e a “Montanha de Conch” (diga konk). Essa
“pilha de conchas” vem sendo feita há séculos, desde que os índios habitavam a
ilha. Depois de tirar a carne da concha nativa da região - deliciosa por sinal
- os pescadores descartam as conchas nesse ponto para que não sejam levadas
pela maré até a praia. O barco para pertinho da pilha. Mas, se uma concha do
alto da pilha chamar sua atenção nem pense em subir para pegar, elas podem se
movimentar e machucar. Suas bordas cortam feito navalha.
Loblolly Bay Beach tem um bom ponto de apoio com restaurante e área de descanso.
Montanha de Conch, o principal cartão postal de Anegada.
Com o furacão Irma as conchas foram espalhadas e a montanha reduziu de altura.
No final do passeio ao descer no píer, almoce no The Lobster
Trap. Esse foi nosso restaurante favorito da ilha para almoçar. Um local
simples, pé na areia, onde a chef Irwa preparava diariamente exatamente o que
queríamos comer com peixes, camarões, conchs e lagostas fresquíssimos,
temperados divinamente. Um lugar delicioso, sem frescura, para ficar gravado na
memória.
RELATO SOBRE O FURACÃO IRMA
Fizemos amizade com Irwa - a cozinheira de mão cheia do The Lobster Trap - batemos
longos papos sobre a vida na ilha. Ela contou sua experiência desesperadora de
estar no “olho do furacão”, como tantas outras pessoas. Viu o telhado da casa
onde estava acomodada ser arrancado e ir pelos ares, sem ter para onde correr.
Um relato pesado e assustador. A maioria das pessoas foi erroneamente evacuada
para Tortola, inclusive Irwa, onde imaginavam que estariam mais protegidas
pelas montanhas, já que Anegada é um atol raso e poderia ficar coberto pela
água. Engano. Os ventos foram devastadores e Tortola foi um dos pontos mais
devastados do Caribe pelo Irma. Felizmente, apenas uma pessoa perdeu a vida em Tortola, os danos maiores
foram emocionais e materiais. Agora, aos poucos tudo vai voltando ao normal.
Mesmo assim, a quantidade de casas destelhadas, árvores arrancadas do solo,
barcos e carros quebrados é enorme. Muitos hotéis, restaurantes e lojas ainda
não voltaram a funcionar. Em breve isso tudo será apenas parte do passado. Eles
são guerreiros.
Por incrível que pareça, Anegada foi a ilha que “menos”
sofreu estragos com o descontrole da natureza, durante a passagem do furacão
Irma de categoria 5, em setembro de 2017. Isso não quer dizer que tenha saído
ilesa. Longe disso. A ilha ficou sem luz por um mês e muitas casas e barcos
foram avariados. Mas, eu poderia até dizer que a ilha foi “poupada”.
As cores de Anegada.
Sorrisos são uma constante na ilha.
GLAMPING EM ANEGADA
Acertei na mosca ao escolher o Anegada Beach Club para meus
dias nas BVI, na Cow Wreck Bay. O hotel é totalmente pé na areia, eco-friendly,
charmoso, no melhor estilo “glamping” de luxo, sem frescura e foi totalmente
renovado após a passagem do furacão em inacreditáveis 3 meses. Ganhou sete tendas sobre as dunas, de frente para a melhor praia da ilha. Acordar cedinho todos os dias, com o galo cantando, vacas pastando e o sol entrando pela tela é daquelas experiências que não tem preço.
Nosso bangalô ganhou o carinhosos apelido de “Casa dos Três Porquinhos”. Chave na porta? Para que? Afinal, lobo mau não se cria por ali. A segurança é total. Todo mundo se conhece e não tem para onde correr. Ar condicionado também não precisa. O ar fresco circula pelo quarto charmoso que é conectado ao banheiro por um corredor de madeira. Mais simpático impossível.
Anegada Beach Club, luxo rústico no Caribe.
Bangalô 305, o único com duas banheiras ao ar livre...
... para curtir o pôr do sol em grande estilo.
Nosso bangalô ganhou o carinhosos apelido de “Casa dos Três Porquinhos”. Chave na porta? Para que? Afinal, lobo mau não se cria por ali. A segurança é total. Todo mundo se conhece e não tem para onde correr. Ar condicionado também não precisa. O ar fresco circula pelo quarto charmoso que é conectado ao banheiro por um corredor de madeira. Mais simpático impossível.
Os bangalôs têm varandas enormes com rede.
O hotel também conta com uma sede mais antiga com algumas suítes de frente para a piscina (única piscina da ilha) e para o restaurante pé na areia onde é servido café da manhã, almoço e jantar. As refeições são deliciosas, preparadas com carinho pela equipe de cozinha do hotel. Também tem um bar na praia, estrutura para praticar kitesurf, caiaque, stand up paddle e até uma lojinha.
O staff é incrivelmente gentil, com muita gente proveniente da República Dominicana, Haiti e outros locais das redondezas. Destaque para Kasha, a moça vinda da Guiana que resolve tudo que os hóspedes solicitam, sempre sorrindo e com agilidade.
A ala antiga do Anegada Beach Club fica em frente a piscina.
Única piscina de Anegada.
Mas, vamos combinar que piscina nem faz falta com esse marzão lindo.
Pé na areia é o diferencial do Anegada Beach Club.
E um mar que faz suspirar mil vezes.
Para circular em Anegada indico alugar um carro pelo menos
por um dia. Os carros não são muito novos e são pouquíssimos na ilha. O nosso
foi alugado por 45 dólares ao dia com o Michael (que também é o bombeiro do
aeroporto).
DICA: Serviço de taxi em Anegada e aluguel de carro Lauren e
Michael +1 2843426455 /+1 2844410563 e-mail: dmmjeeprental@gmail.com
Rodamos a ilha toda, fomos ao “Settlement” onde mora a
maioria das pessoas, visitamos o Santuário das Iguanas, fomos ao ponto de
observação dos flamingos, a Loblolly Bay para mergulhar, circulamos pelo porto.
A ilha é bem pequena.
Por onde quer que você vá em Anegada tem sempre uma concha por perto.
A PORTA DE ENTRADA TORTOLA
Tortola é a base do turismo local. É a maior das Ilhas
Britânicas e o centro administrativo e comercial do território. Abriga 25 mil
pessoas do total de 29 mil habitantes das BVI. Tem montanhas cobertas por muita
vegetação e um mar lindo circunda seus 95 quilômetros quadrados. O ponto mais
alto da ilha é o Monte Sage com 530 metros de altitude.
A cidade é formada por um emaranhado de ruas que sobem e
descem as montanhas, repletas de casinhas coloridas ao estilo caribenho, com
calçadas estreitas para a circulação de pedestres e grande movimento em alguns
horários.
Tem algumas enseadas de águas tranquilas como Long Bay. Um pouco mais isolada, a Cane Garden Bay é onde se localiza a destilaria mais antiga em funcionamento no Caribe, a Callwood, que produz vários tipos de rum, alguns passam por um processo de produção que leva até dez anos. Não pude visitar pois a destilaria foi fortemente danificada com a passagem do furacão Irma.
Tem algumas enseadas de águas tranquilas como Long Bay. Um pouco mais isolada, a Cane Garden Bay é onde se localiza a destilaria mais antiga em funcionamento no Caribe, a Callwood, que produz vários tipos de rum, alguns passam por um processo de produção que leva até dez anos. Não pude visitar pois a destilaria foi fortemente danificada com a passagem do furacão Irma.
O aeroporto fica em Beef Island, à leste. Road Town, a
sudoeste, é onde fica a região governamental e o porto. Fiquei hospedada no
hotel Maria’s By the Sea, ao lado do porto, dá para ir andando mesmo com mala.
Prático para dormir uma noite antes de partir para alguma outra ilha. Mas, não se
demore muito em Tortola. As ilhas do entorno tem muito mais a oferecer.
BATE E VOLTA A OUTRAS ILHAS BRITÂNICAS A PARTIR DE TORTOLA
1. VIRGIN GORDA é a terceira maior ilha das BVI. Tem
população de quase 4.000 pessoas. É famosa por ter praias magníficas e exóticas, mar
cristalino e costa pontilhada de rochas gigantescas de granito conhecidas
como The Baths, à noroeste da ilha, onde se formam grutas labirínticas
incríveis banhadas pelo mar, com piscinas naturais no seu interior. Imperdível!
Para chegar na ilha há voos diretos de St. Thomas e ferry de Tortola – Virgin
Gorda: 7am, 10am, 3:30pm
e de Virgin Gorda – Tortola 7:50am, 2pm, 4pm, com duração de
30 minutos.
Ao chegar, contrate um motorista para dar um giro pela ilha.
Inclua no roteiro de um dia: parada no mirante Hogs Heaven View, parada na
belíssima Savannah Bay, visita as ruínas da antiga Mina de Cobre, ao vilarejo
chamado de Spanish Town e fique pelo menos duas horas no The Baths e Spring
Bay, as praias imperdíveis.
DICA: Indico o motorista Andy (um senhor de
77 anos adorável) que teve grande perda durante o furacão. A história da família
de Sandy se mistura com a história de Virgin Gorda. Um ícone imperdível! Figura
ímpar!). Eles são os proprietários do simpático e simples Hotel Fisher’s Cove
Beach que está sendo reconstruído +1 2845451984/ +1 284495 5252/ +112845440681 www.fischerscove.com O hotel é pé na
areia, a cinco minutos da praia The Baths e serve como ponto de apoio para os
navios que fazem parada de um dia em Virgin Gorda.
2. JOST VAN DYKE tem seu próprio charme com menos de 300
habitantes, praias lindas e bares rústicos. Ganhou eletricidade apenas em 1991.
Great Harbour tem restaurantes e White
Bay é a praia mais frequentada por quem faz bate e volta. Também vale
conhecer Little Harbour e Diamond Cay. Tem ferry conectando Tortola a Jost Van
Dyke.
3. SANDY CAY. Essa ilhota é um parque nacional pertinho de
Jost Van Dyke.
4. NECKER ISLAND. Colada na Virgin Gorda, essa era minha
escolha inicial para ficar hospedada nas BVI, no hotel do grupo Virgin LimitedEdition, de Richard Branson. No entanto, a ilha foi devastada pelo furacão. O
hotel está sendo reconstruído e em breve reabrirá as portas. O grupo também tem
um barco maravilhoso para quem optar por desbravar a região “al mare”, que
também está em manutenção. Em função disso, minha segunda opção acabou sendo a
fantástica e intocada Anegada.
5. NORMAN ISLAND. Procurada para mergulho.
DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA ENTRAR NAS BVI
Brasileiros não precisam apresentar visto, porém serviço de
imigração em Tortola é lento, tenha paciência. Uma fila enorme de passageiros
se forma. É preciso preencher formulário para entrar no país, mostrar todos os
voos de conexão de ida e volta, pagar taxa ambiental de 10 dólares por pessoa.
Se seu voo passar pelos Estados Unidos ou Porto Rico para fazer conexão, o visto americano será solicitado.
Vale lembrar que o aeroporto não tem raio X para a inspeção de bagagem. Tem que abrir a mala e mostrar tudo. Demora um pouquinho, mas a simpatia das pessoas compensa. Sorrisos abertos são uma constante. Para quem não tem visto americano, boa pedida é voar pelo Panamá com escala em St. Martin.
Se seu voo passar pelos Estados Unidos ou Porto Rico para fazer conexão, o visto americano será solicitado.
Vale lembrar que o aeroporto não tem raio X para a inspeção de bagagem. Tem que abrir a mala e mostrar tudo. Demora um pouquinho, mas a simpatia das pessoas compensa. Sorrisos abertos são uma constante. Para quem não tem visto americano, boa pedida é voar pelo Panamá com escala em St. Martin.
COMO CHEGAR
Não há voos diretos do Brasil. É possível para voar de Miami até Tortola fazendo escala em Porto Rico ou República Dominicana; ou pelo
Panamá via St. Martin, República Dominicana ou Jamaica.
De Tortola para Anegada:
= ferry: dois horários por dia – 35 dólares one way – o
trajeto leva 1h e 15 minutos
= avião: voo de 9 minutos das VI Airlink com capacidade para
9 pessoas (avião Cesna Turbo hélice), 85 dólares.
Como eu estava vindo de Turks and Caicos precisei fazer dois
voos até Tortola e outro até Anegada, nas British Virgin Islands:
-
Inter Caribbean: de Turks and Caicos para a
República Dominicana (1 hora de voo)
-
Inter Caribbean: da República Dominicana para
Tortola BVI (1 hora)
-
Vi Airlink: de Tortola para Anegada (9 minutos)
QUANDO É MELHOR
É quente e ensolarado durante o ano todo. Vale evitar os
meses de agosto a outubro quando a região pode entrar na rota de furacões,
especialmente em setembro. Muitos hotéis fecham nessa época.
MAIS INFORMAÇÕES
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Que maravilha seu blog !!! Tudo super bem explicado ! Muito obrigado !!!
ResponderExcluirObrigada. Fico feliz. Seja muito bem-vindo e volte sempre.
ExcluirClaudia
Que agua! Nem os cabritos escaparam das fotos. Lugar lindo demais ��
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