FILHA DA LUA ECOLODGE, UM BELO REFÚGIO EM PIPA

O sol me deu as boas-vindas com aquele sorrisão típico do Rio Grande do Norte que faz acender o azul do mar. Mas bastou o astro-rei se despedir para a lua inundar a praia das Minas com reflexos prateados estonteantes num grande espelho formado pelo oceano. E não é que o acaso se encarregou de me levar para Pipa exatamente numa semana de Lua cheia, se é que “acasos” existem... Naquele instante meu coração perdeu o compasso e entendi perfeitamente o que inspirou Inga e Fred d’Ansemburg, ela modelo e cantora lírica polonesa, ele belga kitesurfista apaixonado pelos ventos da costa brasileira, a fincarem ali as estacas de um “hotel-projeto” tão especial.


Filha da Lua Ecolodge.

Pois os ventos conspiraram a favor e da história de amor desses dois estrangeiros pelas praias do Rio Grande do Norte em plena Lua cheia nasceu o Filha da Lua Ecolodge. O hotel abriu as portas corajosamente em dezembro de 2020, em plena pandemia, na praia das Minas entre Sibaúma e a praia do Amor, no município de Tibau do Sul, a 85 quilômetros da capital Natal e a dez minutos de carro do centrinho de Pipa. Em menos de dois anos já ganhou uma legião de fãs, entre os quais me incluo.

Praia do Amor, a alguns passos do Filha da Lua.

Usei acima a expressão “hotel-projeto” porque ele foi o primeiro hotel do Grupo Filha da Lua e significa apenas a pontinha cinco estrelas do iceberg de uma engrenagem socioambiental grandiosa iniciada há quase 10 anos por Inga e Fred, com o objetivo de fazer a diferença no mundo e dar luz a um turismo responsável.

Filha da Lua Ecolodge.

NASCE UMA ESTRELA

Já deu para perceber que o Filha da Lua Ecolodge veio ao mundo para brilhar. Tem 17 suítes imensas - que vão de 82 a 182 metros quadrados - espalhadas por 9 bangalôs em estilo balinês, cercadas de verde por todos os lados, de frente para o mar.

Bangalôs com inspiração balinesa do Filha da Lua.

O ecolodge foi concebido com práticas de construção sustentável. O amor pela natureza abraça todos os ambientes. Cada bangalô foi edificado com madeira de reflorestamento de eucalipto sobre palafitas para preservar o solo, sendo a estação de resíduos 100% ecológica.

Acomodações impecáveis.

Fui surpreendida ao abrir a porta do bangalô 9, Galathea, com um cartão simpático de boas-vindas, uma cesta de frutas e flores por todos os lados. Suspirei mil vezes enquanto circulava pelo quarto, pela varanda, pela cozinha, pelo closet e pelo banheiro rústico com pias e chuveiros duplos. 

A decoração das suítes é um arraso. A começar pelas camas com dossel de onde desce um cortinado delicadíssimo com amarração de conchas e exala um suave perfume dos lençóis de 600 fios em algodão. 

Os móveis vieram quase todos de Bali, além dos roupões lindíssimos. Os ganchos para pendurar as toalhas, em ferro, têm o formato de um calango. Há várias peças de artesanato espalhadas pela acomodação. O bom gosto é orquestrado pelo casal com base nas suas tantas viagens pelo mundo.

Banheiro rústico-chic.

É fácil perceber como a preservação da natureza é um dos principais valores do grupo. A utilização de plástico foi abolida da propriedade, seja em embalagens, canudos ou toucas de banho. 

Nos banheiros, os amenities além de serem feitos artesanalmente por farmacêuticas da própria região com produtos que não agridem o meio ambiente, são oferecidos em charmosas embalagens de cerâmica com reposição diária. 

Já, o creme dental é 100% natural feito a base de argila branca dolomita, óleo de coco, essência de menta e cravo e bicarbonato de sódio, as escovas de dentes são de bambu sendo 100% biodegradáveis e para tirar a maquiagem os disquinhos são feitos em crochê, em vez de algodão. A atenção aos detalhes é total.

Amenities realmente conscientes com o meio ambiente.

A gastronomia do Filha da Lua também rouba a cena. A cozinha é 100% sem gluten e lactose. Os pratos são sempre elaborados com produtos orgânicos vindos da fazenda Pachamama, numa explosão de cores e sabores. 

Por trás do menu maravilhoso está Inga que é celíaca e domina a arte da gastronomia. A lembrança do café da manhã servido de frente para a piscina principal, tendo o mar como coadjuvante, não sairá jamais da minha lembrança. Foi ali que experimentei o melhor leite de amêndoa da vida, pães maravilhosos sem glúten, pudim de chia com frutas e ovos caprichadíssimos servidos em panelinhas de barro.

Um café da manhã que não esquecerei.

E por falar em piscina vale lembrar que o hotel conta com duas piscinas, uma de borda infinita de frente pro mar e outra interna deliciosa posicionada entre a academia e o spa. Aliás, vale agendar uma massagem ayurvédica para relaxar ou uma aula de yoga na área destinada a essa prática.

Piscina interna do Filha da Lua, em frente ao meu bangalô.

Somado a isso tudo, a localização do Filha da Lua é perfeita. A praia das Minas é circundada por Mata Atlântica, repleta de dunas e acompanhada por falésias em quase toda sua extensão. Um lugar de energia única. 

A praia é praticamente deserta, tem 7 quilômetros, perfeita para longas caminhadas ou para uma corridinha, excelente para a prática de kitesurfe, paragliding e se mantém muito bem preservada. Por isso mesmo é uma das preferidas das tartarugas marinhas para desova entre os meses de novembro e abril, quando a equipe do Projeto Tamar monitora e acompanha a abertura dos ninhos. Por pouco não presenciei a abertura de um ninho em frente ao hotel. Impossível não se apaixonar.

Impossível não se apaixonar!

O limite entre a praia das Minas e a famosa praia do Amor (no formato de um coração quando vista do alto das falésias do Chapadão) é definido pela Pedra do Moloque, que além de demarcar a mudança no rumo dos ventos e de ser o ponto em que a praia se torna mar aberto, é conhecida pelo nome de Pipa desde que os portugueses se aproximaram da costa e avistaram uma grande pedra no formato de uma pipa, termo que em Portugal se refere a um barril de vinho ou azeite. Um lugar cercado de lendas. 

Aliás, há fortes indícios de que os portugueses tenham chegado primeiro no RN, e não no sul da Bahia como é ensinado nas escolas, em função dos ventos e das correntes marítimas, como diz a pesquisadora e turismóloga Rosana Mazaro.

BONS VENTOS

Deixando as incertezas históricas de lado, o fato é que o Filha da Lua Ecolodge é apenas parte de um projeto gigantesco costurado por muita responsabilidade socioambiental. 

Tudo começou quando Inga e Fred planejavam apenas ter uma casa no Brasil para fugir do frio europeu e curtir os bons velejos do Rio Grande do Norte. O ponto de partida foi a criação de duas escolas para lecionar inglês, educação ambiental e atividades vocacionais para a comunidade local, como forma de fazer a diferença no mundo. A Hello Pipa hoje tem aproximadamente 400 alunos e a Hello Barra, em Barra do Cunhaú, 200 alunos.

Área de descanso da KiteMaster, ao lado da escola Hello Barra.

Ainda em Barra do Cunhaú foi criada a escola KiteMaster com excelente estrutura para a prática de Kitesurfe, além de hydrofoil, wing foil, wakeboard, caiaque, surfe e canoa havaiana, oferecendo inclusive equipamentos e professores especializados para todos os níveis de aprendizado e um barco de 32 pés para os hóspedes. O mais interessante é que os professores contratados são na maioria nativos que frequentaram as escolas Hello Barra e Hello Pipa. Ao lado da KiteMaster em breve será inaugurado o hotel Filho do Vento.

Uma pequena travessia de balsa conecta Sibaúma a Barra do Cunhaú.

No entanto, a paixão pelo Nordeste os levou ainda mais longe. Além do Filha da Lua, da KiteMaster e do novo Filho do Vento, o grupo tem uma fazenda de produção orgânica focada em permacultura, um restaurante italiano maravilhoso no centrinho de Pipa chamado Cicchetti e prevê para o segundo semestre a abertura do hotel Sempre Vivo, a alguns passos da praia do Amor, de perfil familiar. Não é pouca coisa.

O hotel Sempre Vivo está as vésperas de abrir as portas.

FAZENDA PACHAMAMA

Fiquei muito bem impressionada ao perceber que todas as ações do grupo são conectadas e focadas na permanência. Com 11 hectares, a Fazenda Pachamama é outro projeto lindo desde a escolha do nome que se refere à energia máxima da abundância. A proposta é comandada com paixão por Amanda Cruz, uma engenheira agrícola com especialização em Permacultura, na Austrália. 

É dali que saem sem agrotóxicos as frutas e hortaliças que abastecem a cozinha 100% gluten free da Filha da Lua e do restaurante italiano Cicchetti, citado como um dos melhores de Pipa.

Fiquei encantada com a Fazenda Pachamama.

Talvez você tenha ficado curioso com o termo “Permacultura” assim como eu fiquei. Trocando em miúdos significa “cultura permanente”, ou seja, é o equilíbrio entre as pessoas e o ambiente, de modo que as necessidades de alimentação, energia, bens de consumo e moradia sejam supridas de maneira sustentável. É uma ciência holística que se preocupa com nossa permanência como espécie na Terra. Aprendi muito com Amanda ao visitar a Fazenda Pachamama.

Com Amanda Cruz, Björn Bonnes, Nathalia Gomes e Juliana Nakad.

O MELHOR DE PIPA

Pipa, um simples vilarejo de pescadores, saiu do anonimato ao ser descoberta pela galera zen e pelos surfistas entre as décadas de 70 e 80. Não demorou a alçar fama e se tornar um dos lugares mais badalados do litoral nordestino.

Com uma temperatura deliciosa ao longo do ano todo, Pipa consegue agradar todas as tribos por ter praias praticamente desertas que convidam ao descanso, ótimos ventos para kite, boas ondas para surfe, hotéis para todos os perfis, bons restaurantes, bares movimentados, muitas lojinhas, noite agitada para quem é do fervo e uma beleza natural estonteante com águas azuis que contrastam com as falésias avermelhadas. Tanto que costuma figurar entre as 10 praias mais bonitas do Brasil.

Centrinho de Pipa.

Entretanto saiba que a costa do Rio Grande do Norte guarda tesouros incríveis. Por isso, sugiro que alugue um carro em Natal para facilitar a chegada e ter maior liberdade nos deslocamentos. Se preferir um motorista indico o gentil Ebson Camilo, contato +55 84 9951 6284.

Comece o dia vendo o nascer do sol no Chapadão. Lá embaixo do penhasco, a enseada da praia do Amor se encarrega de colorir o horizonte em diversos tons de azul até encostar na orla que tem formato de coração. Um cenário de arrepiar.

Chapadão, Rio Grande do Norte.

Depois caminhe pela praia do Centro onde se formam piscinas naturais entre as pedras na maré baixa. Vá até a Baía dos Golfinhos e com sorte será brindado pela presença dessas simpáticas figuras. Na praia do Madeiro, depois de dar um belo mergulho, suba até o alto da falésia e almoce sem pressa no jardim do hotel Madeiro Beach tendo um visual estonteante como coadjuvante.

Almoço no Madeiro Beach.

Estique até a deserta e lindíssima praia da Cacimbinha, conheça a praia do Giz que tem esse nome pela cor esbranquiçada das falésias e não deixe de tomar um drinque ao pôr do sol na Creperia Marinas, às margens da lagoa Guaraíras. Essas são as praias no sentido norte, rumo a Natal. Para seguir além da lagoa, apenas de balsa.

Pôr do sol na Creperia Marinas, na Lagoa Guaraíras.

No dia seguinte tome o sentido sul, rumo a João Pessoa, e a sequência de praias vai fazer seu queixo cair. A praia das Minas, onde fica o Filha da Lua é semi deserta, protegida para desova de tartarugas e tem piscinas naturais deliciosas na maré baixa, mas tome cuidado com as fortes correntes na maré alta.

Praia das Minas, em frente ao Filha da Lua.

A seguir vem Sibaúma onde há um pequeno vilarejo quilombola cercado por falésias imponentes. O maior movimento se concentra do lado direito do povoado onde a balsa do rio Catú dá acesso a Barra do Cunhaú. Essa região tem trechos de mar muito calmo protegido por recifes com piscinas naturais e locais excelentes para kitesurfe, por isso mesmo a escola de KiteMaster nasceu ali.

Em Sibaúma com @natripdaju e @kids2gether

Vale atravessar mais uma balsa e chegar em Baía Formosa, terra belíssima do surfista Ítalo Ferreira e ainda um paraíso intocado, tanto que o grupo Six Senses comprou uma propriedade imensa na região.

Baía Formosa.

No fim da tarde, o point pode ser a Avenida Baía dos Golfinhos que enfileira lojinhas, bares e restaurantes animados, recomendo o Cicchetti e ao lado dele não deixe de conhecer a loja Pede Jaca com curadoria incrível de roupas e artesanato de Bali. Se for noite de Lua cheia você não pode perder o jantar ao ar livre do Filha da Lua, com cardápio especial e música ao vivo enquanto a lua se encarregada de dar um show ao refletir no mar. Uma lembrança que levo comigo para sempre.

Jantar da Lua Cheia de frente para a praia das Minas, no Filha da Lua.

ENFIM...

Foram cinco dias de imersão nas paisagens paradisíacas de Pipa, hospedada no Filha da Lua Ecolodge, um dos hotéis mais especiais do Brasil por seguir práticas verdadeiramente sustentáveis em todas as suas frentes. Mas o que realmente roubou meu coração foi a hospitalidade. A equipe é formada por profissionais do Brasil e de várias partes do mundo. A gentileza impera desde o check in regado a espumante, na organização dos passeios pelo concierge chileno Juan Auger, no café da manhã servido delicadamente pelo argentino Luiz, nos bons papos com o sócio polonês Lucas Stanislawczyk e com o diretor de comunicação Björn Bonnes, um alemão de astral brasileiro que já passou pelos hotéis mais badalados de Londres e é um craque na arte de bem receber. Difícil mesmo foi na hora da despedida quando todos eles nos cercaram e fizeram perceber quanta saudade estava por vir.

Pipa aqueceu nosso coração!

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COMENTÁRIOS

  1. Que lugar incrível. Já na lista.
    Amei a dica, Claudia

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  2. Claudinhaa, ameiii relembrar nossa experiência encantadora com essa matéria! Que delícia! Que tenhamos muitas viagens como essa! Beijos, Ju

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    1. Ju vou levar sempre as melhores lembranças comigo! Vocês fizeram a diferença. Melhores companheiras de viagem!!!! Beijos

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