NANJING, A EX-CAPITAL DA CHINA
Minha “maior” surpresa com Nanjing foi “literalmente” o seu
tamanho. Cidade enorme. Muito espalhada. Avenidas largas. Prédios altíssimos e
modernos. Muito trânsito. Muito verde. Muitos lagos. Não esperava encontrar
isso tudo. Impossível trilhar a cidade caminhando como eu costumo fazer. Afinal, ela já foi diversas vezes capital da China. É uma cidade importante, apesar de ser pouco
explorada pelo turismo ocidental. Ao redor dos séculos I e II foi capital de
pequenos reinos regionais. Mais tarde, de 1368 a 1644, foi a capital da
Dinastia Ming. Também foi capital do Reino Celestial de Taiping no século XIX e
da primeira República da China sob as ordens de Sun Yat-sen, um político
poderoso. Tem uma história vasta e um legado fantástico. Seu nome pode ser
traduzido como “capital do sul” ao passo que Beijing é a “capital do norte”.
Como qualquer cidade da China, Nanjing tem gente saindo pelo
ladrão. Nada mais nada menos do que 10 milhões de habitantes. Então, é preciso
estar preparado para grandes multidões nas ruas, nos parques, nos museus, nos
ônibus ou no metrô. Os transportes públicos são abarrotados, especialmente na
hora do rush. E, tem briga de foice para conseguir um táxi. Isso mesmo. Os táxis
são muito poucos para dar conta de tanta gente. Melhor usar ônibus ou metrô já
que não dá para flanar pela cidade sem o auxílio de um meio de transporte mais
eficiente do que os pés, tendo em vista as distâncias enormes. Só na Montanha
Púrpura caminhei 6 horas sem parar e não consegui conhecer tudo. A cidade tem
muito chão. O preço do ônibus é ridículo: 1 yuan. E, do metrô não fica atrás: 2,
3 ou no máximo 4 yuan dependendo da distância percorrida. Super barato e cobre
boa parte da cidade. No metrô é fácil comprar os bilhetes e as rotas são
sinalizadas em inglês. Ufa. Alguma coisa tinha que ser compreensível.
E, por falar em comunicação, ninguém fala uma palavra além
de mandarim e quando arrisca
algumas palavras em inglês não dá para entender quase nada, tal o sotaque. Mas,
eles são simpáticos e fazem de tudo para agradar. Só que a boa vontade não
basta. A comunicação realmente é uma grande barreira em Nanjing. Em Hong Kong,
Macau, Pequim e Shanghai já se encontra mais gente falando inglês. São cidades
mais cosmopolitas. O número de turistas ocidentais é maior. Eles inclusive já
estão mais acostumados por lá com nossas feições do que os chineses de Nanjing.
Aliás, esse foi outro capítulo interessante da viagem. Como
sou loira chamo muita atenção. Andando sozinha pela cidade quando eu menos
esperava surgia uma câmera fotográfica mirando na minha direção. Isso quando
não se formava uma cortina de fotógrafos ávidos por uma figura de traços
diferentes para humanizar seus cliques nos cenários bucólicos dos parques. Então,
quando eu menos esperava, já estava cercada de gente querendo me fotografar.
Muito engraçado. Não sei se me enquadrava mais na categoria de ET ou de
celebridade diante dos olhos amendoados dos chineses curiosos.
Nanjing fica às margens do rio Yang-tsé-kiang e próxima a
Montanha Púrpura. A cidade é linda. Tem cenários bucólicos. Parques belíssimos.
Ruas repletas de plátanos e alamedas pontilhadas de cerejeiras que florescem no
mês de março. Por sorte, fui brindada pela mãe natureza e presenciei o período
de floração. Magnífico! Mais bonito impossível. As cerejeiras são uma
celebração à vida. Elas renascem sempre na mesma época, depois do inverno, no
mês de março e duram pouco, apenas uma semana. Por isso, simbolizam a renovação
e a beleza efêmera. Quando caem formam um tapete de pétalas, totalmente poético.
Para completar, Nanjing é cercada por uma grande muralha.
Grande mesmo. Quando se pensa em uma cidade murada logo vem à cabeça um pequeno
povoado medieval morando numa área protegida. Doce ilusão. Na China, tudo é grandioso.
Os muros têm simplesmente 33 quilômetros de extensão e grande parte (ao redor
de 75%) se mantém preservada cobrindo uma vasta área impossível de ser
explorada a pé.
MONTANHA PÚRPURA
Um bom lugar para se começar a exploração da antiga capital
chinesa é a Montanha Púrpura. Dizem que esse nome foi dado em função do
colorido das pedras. Bem, eu não consegui observar esse colorido porque fiquei impactada
mesmo foi com a beleza dos templos cercados por alamedas cobertas de cerejeiras
em flor. Fui até lá de metrô. Sozinha. Muito fácil. Ao chegar na montanha dá
para ir andando pelos caminhos sombreados do bosque ou tomar um trenzinho que
leva às principais atrações: o Mausoléu de Sun Yat-sen, o complexo do Templo
Linguu, o túmulo do primeiro imperador Ming e o jardim Sakura com belíssimas
alamedas de cerejeiras. De todo modo, prepare-se para caminhar um bocado e
subir muitas escadarias.
Sun Yat-sen comandou a primeira República da China. Foi um
líder revolucionário e morreu em 1925. Seu mausoléu fica no alto de uma
escadaria gigantesca de 392 degraus. É curioso porque têm telhas azuis em vez
das tradicionais telhas amarelas dos imperadores. As cores azul e branca
representam o Partido Nacionalista. Para a construção do mausoléu, ele fez um
concurso para escolher o projeto do túmulo. O vencedor foi o arquiteto Y. C.
Lu. O sarcófago fica embutido no piso. É de uma imponência imperial.
Mausoléu de Sun Yat-sen, na Montanha Púrpura.
Relativamente perto do mausoléu, mas recomendo usar o
trenzinho para encurtar a caminhada, fica o túmulo do primeiro imperador Ming, Xiao Ling. Sua construção data de 1405 e apesar de ter sido parcialmente
destruído na Rebelião de Taiping no século XIX, boa parte ainda se mantém
preservada. Muito interessante é a avenida que conduz ao túmulo, chamada de
avenida sagrada, com enormes estátuas de pedras, de pares de animais. Essa
avenida é acompanhada por um parque espetacular repleto de cerejeiras, o Sakura
Park.
Sakura Garden com as cerejeiras em flor.
Outra área que gostei de ter visitado na Montanha Púrpura
foi a área cênica de Linguu onde fica o Templo de Linguu e o Pagode de Linguu.
O pagode é impressionante com seus 8 andares. Foi construído em 1929 em memória
aos soldados mortos em uma das tantas revoluções que houve por ali.
Na montanha tem um teleférico que conduz até o cume para
quem quer ver a cidade do alto. No entanto, havia muita neblina na cidade e
optei por não me aventurar no meio da multidão de chineses que fazia fila para
subir. Olhar a cidade do alto do Mausoléu de Sun Yat-sen já foi o suficiente.
TEMPLO DE CONFÚCIO
O confucionismo é uma das três linhas filosóficas chinesas.
As outras duas são o budismo e o taoísmo. Confúcio foi um pensador e professor
que falava muito sobre a importância da família e sobre a obrigação dos
governantes de fazerem um trabalho baseado no bem e na honradez. Ele viveu de
551 a 479 a. C. Na época não foi muito valorizado. Depois de sua morte, seus
discípulos divulgaram seus ensinamentos. Na China Imperial seus postulados se
tornaram a filosofia da elite. Mais tarde, no período comunista foi considerado
um pensamento reacionário vinculado à antiga aristocracia dominante. O Templo
de Confúcio, em Nanjing, remonta ao século XI. É um templo relativamente
simples. Ao redor dali, as ruas têm casas com beirais de pontas levantadas. A
área é bastante turística. Tem muitas lojas que vendem produtos chineses e restaurantes
com comida local. Fica às margens de um canal onde se pode tomar um barco para
ir até a Porta Zhonghua, uma das quatro entradas da muralha.
Templo de Confúcio.
Arredores do Templo de Confúcio.
Muitos turistas chineses circulam em torno do Templo de Confúcio. Ocidentais são raridade.
MUSEU DO MASSACRE DE NANJING
Esse museu é impressionante. Não tem como sair dali sem
sentir raiva dos japoneses que atacaram os chineses em 1937, durante a Segunda
Guerra Mundial, e permaneceram na cidade de Nanjing por seis meses cometendo
atrocidades. Dizem que mais de 300 mil chineses foram mortos no incidente. Os
japoneses ali permaneceram até 1945 quando se renderam e Nanjing voltou a ser a
capital da China até o comunismo transferir a capital novamente para Beijing em
1949.
Museu do Massacre de Nanjing.
Eles fazem questão de frisar o número de chineses mortos no massacre.
JIMING TEMPLE
Esse templo foi construído inicialmente em 557 na Dinastia
Liang, mas foi destruído muitas vezes. Sua última reconstituição foi em 1387
durante a Dinastia Ming. É considerado o templo budista mais antigo de Nanjing.
Fica bem perto do Lago Xuanwu, na parte mais central da cidade. A Alameda à sua
frente é repleta de cerejeiras. Durante o período de floração, em marco, o
astral do templo é mágico.
Jiming Temple entre as cerejeiras em flor.
Entrada principal do Jiming Temple.
Os budistas em prece queimam incenso para ajudar nas orações.
LAGO XUANWU
Ao norte do Jiming Temple, mas numa distância que pode ser
percorrida a pé fica o Lago Xuanwu cercado por uma parte da muralha Ming. O
parque é enorme. Tem ao redor de 2,5 quilômetros de extensão. Dentro do lago há
cinco pequenas ilhotas conectadas por pontes. No dia em que visitei o parque
uma névoa cobria o lago e o cenário ficou marcado na minha lembrança como o
mais bucólico de Nanjing. Muita água, cerejeiras em flor, barquinhos circulando
pelo lago, crianças correndo pelo parque e aquela névoa densa. Inesquecível!
Sugiro que a entrada seja feita pela Porta Xuanwu com seus três grandes arcos
que acompanham o muro.
Flores não faltam nos jardins chineses. Podem ser tulipas...
... ou cerejeiras.
PALÁCIO PRESIDENCIAL
Esse palácio tem uma longa história. Fez parte das Dinastias
Ming e Qing, além de ter abrigado o Gabinete do Presidente da República da
China. Agora é um museu.
Considerado o maior museu de História Moderna da China. Mas, o que mais me
encantou foram suas áreas externas com jardins espetaculares. Segundo a
filosofia taoísta a contemplação da natureza em meditação leva à iluminação. Com
esse objetivo, os jardins chineses têm a tradição de combinar paisagem com
serenidade. Assim, costumam
mesclar quatro elementos básicos: pedras, água, plantas e construções. E, o
resultado é espetacular.
Nos jardins do Palácio Presidencial, pedras...
... água,...
... flores, e ...
... belas construções.
COMO CHEGAR
Do Rio à China boa opção é ir de Emirates até Dubai (14 horas de voo) e de lá fazer outro voo até Pequim (mais 8 horas). De Pequim fica fácil chegar em qualquer outra cidade menor de avião ou de trem. No caso, fiz Pequim - Nanjing de avião em 1 hora e meia, de Air China.
INDICAÇÃO DE HOTEL
Adorei o hotel Fairmont. Novíssimo. Quartos enormes com janelões de vidro. Super bem decorado. Banheiro moderno. Café da manhã excelente. Academia muito bem equipada. Spa de ambiente convidativo. Funcionários atenciosos. Aliás, muitos funcionários. A desvantagem é que o hotel fica um pouco fora do centro, ao sul da muralha, pertinho da estação de trem. Mas, fica a uma quadra da estação do metrô. Então, tudo fica resolvido. Pois, essa é a melhor forma de locomoção na cidade.
Hotel Fairmont Nanjing.
PARA CONCLUIR
A China sempre me fascina. Essa foi minha quinta vez nesse
país gigantesco, que congrega mais de 20% da população mundial, faz fronteira
com 14 países, tem uma cultura absolutamente peculiar, paisagens extremamente
variadas, uma língua difícil de se entender e uma história riquíssima. Faz
pouco tempo que suas fronteiras foram abertas aos estrangeiros. Sorte que hoje
podemos entrar sem medo na China e desfrutar de uma cultura que ainda guarda
tantos mistérios aos olhos ocidentais.
Nanjing, ou Nanquim, a “capital do sul” me encantou. Não esperava encontrar uma cidade tão grande e tão pouco explorada pelo turismo. Fiquei uma semana na cidade. Nesse período encontrei menos de meia dúzia de ocidentais pelas ruas. No metrô e nos parques eu era atração. Os chineses, mesmo sem conseguir se comunicar muito bem em outra língua, que não o mandarim ou dialetos locais, se mostraram muito solícitos para ajudar. Inclusive, saíam da sua rota para me levar até onde eu pretendia chegar. Trago boas lembranças. Especialmente, por ter visitado a cidade exatamente na semana de floração das cerejeiras. Fui brindada pelo acaso. Se é que existe acaso. Volto à China quantas vezes a vida me levar. Sempre feliz!
Nanjing, ou Nanquim, a “capital do sul” me encantou. Não esperava encontrar uma cidade tão grande e tão pouco explorada pelo turismo. Fiquei uma semana na cidade. Nesse período encontrei menos de meia dúzia de ocidentais pelas ruas. No metrô e nos parques eu era atração. Os chineses, mesmo sem conseguir se comunicar muito bem em outra língua, que não o mandarim ou dialetos locais, se mostraram muito solícitos para ajudar. Inclusive, saíam da sua rota para me levar até onde eu pretendia chegar. Trago boas lembranças. Especialmente, por ter visitado a cidade exatamente na semana de floração das cerejeiras. Fui brindada pelo acaso. Se é que existe acaso. Volto à China quantas vezes a vida me levar. Sempre feliz!
Simplesmente UAUUUU.
ResponderExcluirLindas fotos e lugar interessantíssimo.
Claudia
ResponderExcluirAdorei como sempre o seu post e também suas fotos.
Tenho apenas uma obs: pode ser mais fácil chegar em Nanjing pousando em Shangai e pegando um trem ou ônibus, e assim eliminando uma perna de voo.
O q vc acha?
Abs
VS
Entrei por Chengdu de avião... outro avião até Hong Kong. fui de trem bala pra Shanghai, depois pra Nanjing e em seguida para pequim... tudo de trem bala. Não troco o trem bala nem pelo ônibus espacial. De trem bala cruzei a China toda... muito bom!!!
ExcluirAi ai... mta saudades da Ásia qdo vejo isso! Que lugar cheio de cultura e magia né? E não conhecia Nanjing ainda, adorei Claudia!!!!
ResponderExcluirBjossss
Acaso ou não, lá estavam as cerejeiras e lindas.
ResponderExcluirSó para dizer que estou por aqui lendo suas preciosas postagens. Lendo e viajando junto. Obrigado.
ResponderExcluirDiogo,
ResponderExcluirA China me conquista cada vez mais. Um país enorme cheio de particularidades e com uma cultura tão distante da nossa. É um lugar que faz a gente pensar e quebrar paradigmas.
VS,
ResponderExcluirShanghai é realmente perto. Fica a menos de 300 km de Nanjing e no trem de alta velocidade o trajeto pode ser feito em uma hora e meia. Super fácil.
É uma outra possibilidade.
Manu,
ResponderExcluirA Ásia é meu xodó. Adoro ir para aquele lado do planeta. Sempre que posso escolher é para lá que meu coração aponta. Em breve quero conhecer Cambodja, Laos, Vietnan e Miamar. Prioridades da minha lista da Ásia. Rs.
Bjs
É verdade Elizabeth.
ResponderExcluirLindas mesmo. Um super espetáculo.
Muito obrigada, Rui.
ResponderExcluirQuanta gentileza. Fico feliz!
Oi Claudia eu adoro o seu blog sou fã mesmo, eu queria saber como vc faz pra tirar essa fotos tão lindas? qual é a câmera e se vc edita as fotos ?
ResponderExcluirObrigada.
ResponderExcluirUso uma Canon G 15 e edito muito pouco no I Photo, que é onde armazeno as fotos.
Emocionante a beleza das fotos e a riqueza do texto. Lindo,lindo.Bj
ResponderExcluirOi Aldema!
ResponderExcluirSempre muito bom ver você aqui no blog. Espero que esteja tudo correndo bem com você.
Um beijo
Claudinha, acompanhei as tuas fotos pelo insta e pela quantidade de corações que deixei lá para você já deve ter percebido o quanto amei né?!
ResponderExcluirBeijo enorme querida!
Oi Brenda,
ResponderExcluirEu amo a China. Já estive muitas vezes por lá e cada vez fico mais apaixonada. A cultura é incrível. Com valores muito diferentes dos nossos. Sempre um belo aprendizado.
Beijos
Cláudia, você é SHOW!! Texto, fotos e a emoção que você transmite! Estou indo pra Pequim na semana que vem e mais uma vez já peguei suas dicas! Ana Luisa Dornelles
ResponderExcluirOi, Claudia! Tudo bem?
ResponderExcluirSou responsável por parte do conteúdo da GOL Linhas Aéreas na Agência CASA, e gostaria de propor uma parceria a você. Você poderia me mandar seu e-mail, ou entrar em contato comigo pelo bruna.valandro@casa.ag?
Muito obrigada!
Abraço!
Ana Luiza,
ResponderExcluirAproveita muito. Esse país é fantástico. Se precisar qualquer ajuda é só falar.
Bjs
Oi Bruna,
ResponderExcluirMeu e-mail é claudia@viajarpelomundo.com
Aguardo seu contato.
Ah! que lindo
ResponderExcluirparece um sonho
um dia vou lá