KHIVA, MEU XODÓ NO UZBEQUISTÃO
Se o Uzbequistão é a cereja do bolo na Ásia Central, então a cidade de Khiva é a cereja, mais o recheio e a cobertura. Fez parte da Rota da Seda. É pequenina. Murada. Histórica. Monocromática. Toda em tons de ocre. Tem no barro, a grande estrela, seja nas casas, madrassas, mesquitas, mausoléus e até mesmo no deserto que a emoldura. Como ornamento, tem minaretes e fachadas em tons de azul. Mais simpática impossível.
Quando estava programando o roteiro, as indicações sugeriam ficar dois dias em Khiva. Como eu já tinha me apaixonado antes mesmo de ir, só pelas fotos que havia visto, resolvi ficar 3 dias e foi perfeito. Imersão no passado, com direito a assistir parte da filmagem de um seriado para a TV uzbeque pelas ruas da cidade.
A CHEGADA
Depois de passar alguns dias conhecendo Tashkent, a capital do país, uma cidade enorme e moldada nos padrões soviéticos era hora de mergulhar no coração do Uzbequistão. (Leia mais sobre Tashkent AQUI.)
O voo Tashkent-Urghent dura uma hora e quarenta minutos. O avião da Uzbekistan Airways desce a 30 quilômetros de Khiva, em Urghent, onde o jeitão russo se manifesta com força. Uma avenida larga e florida desemboca numa praça gigantesca com grandes prédios acinzentados. Até chegar a tão esperada cidade murada, a estrada passa por um turbilhão de carros afoitos, rebanhos de ovelhas pastando, plantações de damasco, maçã e mutirões de trabalhadores colhendo a safra do algodão.
De repente, Khiva. Uma verdadeira joia no meio do deserto.
NOÉ, KHIVA E A FORTALEZA KUNYA-ARK
Khiva é uma cidade cheia de histórias para contar. Uma história bastante inusitada se refere ao nome. Reza a lenda que o pai de Khiva é o profeta Noé. Sabe aquele da Arca de Noé? Ele mesmo. Dizem que quando chegou naquelas terras secas e quentes decidiu ajudar as pessoas a conseguirem água. Ao encontrar um poço com água fresca, exclamou: "Khei-va" querendo dizer "que gostosa". E assim surgiu o nome da cidade. Se diz por lá que o poço de Noé ficava no local onde hoje é o pátio da Fortaleza Kunya-Ark.
A Fortaleza de Kunya-Ark foi construída em 1688 pelo filho de um importante Khan, muitos séculos depois da saga de Noé. No final do século XVII se tornou uma espécie de cidade com vida própria, dentro da cidade de Khiva. Uma muralha a protegia e separava do resto da cidade. Era composta pelos aposentos do Khan, uma sala para audiências, um harém, mesquitas, várias áreas de serviço e uma grande praça central onde ficavam os aparatos de guerra e onde eram executados os prisioneiros. Pouco sobrou do que foi construído originalmente após a invasão iraniana. O que se vê nos dias de hoje foi refeito em 1804.
Para reverenciar o por do sol, o Palácio Kunya Ark é o lugar perfeito. Como o complexo era usado com funções governamentais pelo Khan, ele precisava ter pontos com excelente visibilidade para controlar possíveis invasões. Do alto do palácio dá para assistir de camarote a despedida do astro rei e ver a cidade assumindo tons rosados espetaculares.
POR ONDE IR EM KHIVA
Quando estava programando o roteiro, as indicações sugeriam ficar dois dias em Khiva. Como eu já tinha me apaixonado antes mesmo de ir, só pelas fotos que havia visto, resolvi ficar 3 dias e foi perfeito. Imersão no passado, com direito a assistir parte da filmagem de um seriado para a TV uzbeque pelas ruas da cidade.
Literalmente, uma volta no tempo, em Khiva.
A CHEGADA
Depois de passar alguns dias conhecendo Tashkent, a capital do país, uma cidade enorme e moldada nos padrões soviéticos era hora de mergulhar no coração do Uzbequistão. (Leia mais sobre Tashkent AQUI.)
O voo Tashkent-Urghent dura uma hora e quarenta minutos. O avião da Uzbekistan Airways desce a 30 quilômetros de Khiva, em Urghent, onde o jeitão russo se manifesta com força. Uma avenida larga e florida desemboca numa praça gigantesca com grandes prédios acinzentados. Até chegar a tão esperada cidade murada, a estrada passa por um turbilhão de carros afoitos, rebanhos de ovelhas pastando, plantações de damasco, maçã e mutirões de trabalhadores colhendo a safra do algodão.
De repente, Khiva. Uma verdadeira joia no meio do deserto.
As graciosas muralhas de Khiva.
UM DESASTRE AMBIENTAL PROVOCADO PELO HOMEM
A pequenina cidade, quase cenográfica, fica ao sul do Mar de Aral, aquele que quase desapareceu quando os russos usaram a água dos rios que o abasteciam para irrigar as plantações do deserto e provocaram uma tremenda tragédia ambiental, com a redução de 90% do mar. Deixando esse desastre de lado, a cidade foi declarada como Patrimônio Mundial da UNESCO. É magnífica. Um museu a céu aberto.
A pequenina cidade, quase cenográfica, fica ao sul do Mar de Aral, aquele que quase desapareceu quando os russos usaram a água dos rios que o abasteciam para irrigar as plantações do deserto e provocaram uma tremenda tragédia ambiental, com a redução de 90% do mar. Deixando esse desastre de lado, a cidade foi declarada como Patrimônio Mundial da UNESCO. É magnífica. Um museu a céu aberto.
Qualquer construção feita dentro das muralhas de Khiva precisa respeitar o padrão arquitetônico. Observe os dois homens preparando o barro para revestir a parede da casa.
NOÉ, KHIVA E A FORTALEZA KUNYA-ARK
Khiva é uma cidade cheia de histórias para contar. Uma história bastante inusitada se refere ao nome. Reza a lenda que o pai de Khiva é o profeta Noé. Sabe aquele da Arca de Noé? Ele mesmo. Dizem que quando chegou naquelas terras secas e quentes decidiu ajudar as pessoas a conseguirem água. Ao encontrar um poço com água fresca, exclamou: "Khei-va" querendo dizer "que gostosa". E assim surgiu o nome da cidade. Se diz por lá que o poço de Noé ficava no local onde hoje é o pátio da Fortaleza Kunya-Ark.
Fortaleza Kunya-Ark.
A Fortaleza de Kunya-Ark foi construída em 1688 pelo filho de um importante Khan, muitos séculos depois da saga de Noé. No final do século XVII se tornou uma espécie de cidade com vida própria, dentro da cidade de Khiva. Uma muralha a protegia e separava do resto da cidade. Era composta pelos aposentos do Khan, uma sala para audiências, um harém, mesquitas, várias áreas de serviço e uma grande praça central onde ficavam os aparatos de guerra e onde eram executados os prisioneiros. Pouco sobrou do que foi construído originalmente após a invasão iraniana. O que se vê nos dias de hoje foi refeito em 1804.
Mesquita da Fortaleza de Kunya-Ark.
Para reverenciar o por do sol, o Palácio Kunya Ark é o lugar perfeito. Como o complexo era usado com funções governamentais pelo Khan, ele precisava ter pontos com excelente visibilidade para controlar possíveis invasões. Do alto do palácio dá para assistir de camarote a despedida do astro rei e ver a cidade assumindo tons rosados espetaculares.
Do ponto mais alto de Kunya-Ark, onde havia uma torre de observação, se vê toda a cidade.
Por do sol em Khiva tendo a muralha da Fortaleza Kunya-Ark como pano de fundo.
POR ONDE IR EM KHIVA
Ruelas labirínticas, dentro das muralhas, abrigam tesouros em forma de madrassas, mesquitas, minaretes e mausoléus. Mas, a cidade se espalha além das muralhas. Aliás, é onde a vida pulsa rotineiramente. As muralhas guardam essas relíquias, como se fosse um museu. Pouca gente mora na parte histórica. Meu hotel era do lado de fora, o Ásia Khiva, numa das portas de entrada da cidade antiga. À noite, o movimento é muito pequeno. De dia, é quando o centro histórico ferve.
No final dessa rua fica a Madrassa Muhammad Rakhim-Khan, uma das maiores da Ásia Central e a maior de Khiva. Fica exatamente em frente a Fortaleza Kunya-Ark. Suas paredes são cobertas por tijolos esmaltados em tons de azul que formam desenhos incríveis. A madrassa (escola de islamismo) foi construída em 1876. Tem 76 quartos, mesquita, biblioteca e dois grandes pátios internos.
A alguns passos dali, fica o minarete Kalta Minor, construído para ser o mais alto da região. É lindo. Em vários tons de azul. O projeto contava que a torre chegaria a 70 ou 80 metros, com base tem 14 metros de diâmetro. No entanto, a construção foi
interrompida quando chegou aos 29 metros devido a morte do Khan que ordenou sua edificação. E é exatamente isso que chama atenção. Ele é único. Fora do padrão. Com uma decoração espetacular.
DICA: Colado ao minarete tem uma madrassa linda que hoje funciona como hotel. Se chama Orient Star Khiva Hotel. Indico para quem gosta de ficar hospedado em locais históricos e inusitados. Os quartos são pequenos, mas super interessantes. Afinal, nenhuma hospedagem da cidade oferece muito luxo mesmo. Todos os hotéis têm padrão 3 estrelas. São simples. Serviço simpático, mas fraco. Então, ficar hospedado numa madrassa é a melhor pedida.
Outro minarete imponente é o Islam Khodla que fica junto a madrassa de mesmo nome. Eles foram construídos mais recentemente, em 1910, quase em frente ao belíssimo Mausoléu de Makhmud, que é uma das construções mais bonitas da cidade com seu enorme domo azul arredondado.
Khodla foi uma figura muito importante e querida na cidade. Ele construiu o hospital, o telégrafo, um dos portões da cidade, um palácio para receber visitas oficiais, além de várias outras contribuições. Já, Makhmud foi um poeta famoso em Khiva e também era conhecido por suas habilidades em lutas.
Khiva tem muitos filhos célebres, um deles é Al-Khwarizm da área da matemática, conhecido como o pai da álgebra e de cujo nome deriva o termo “algarismo”. Outro nome importante é Al-Biruni que dominava astronomia, matemática, geografia e história.
Um grupo de turistas do interior do Uzbequistão dança animadamente na rua principal de Khiva.
No final dessa rua fica a Madrassa Muhammad Rakhim-Khan, uma das maiores da Ásia Central e a maior de Khiva. Fica exatamente em frente a Fortaleza Kunya-Ark. Suas paredes são cobertas por tijolos esmaltados em tons de azul que formam desenhos incríveis. A madrassa (escola de islamismo) foi construída em 1876. Tem 76 quartos, mesquita, biblioteca e dois grandes pátios internos.
Madrassa Muhammad Rakhim-Khan vista do observatório da Fortaleza Kunya-Ark.
Detalhes da fachada da Madrassa Muhammad Rakhim-Khan.
Atualmente, a madrassa tem espetáculos circenses e shows de música local.
Em algumas salas da madrassa, simpáticas artesãs uzbeques oferecem seus produtos.
O minarete Kalta Minor pode ser avistado de vários pontos da cidade.
As cores do minarete saltam aos olhos na rua principal do centro antigo de Khiva.
Ao entardecer, Khiva ganha tons rosados e o minarete Kalta Minor se destaca.
DICA: Colado ao minarete tem uma madrassa linda que hoje funciona como hotel. Se chama Orient Star Khiva Hotel. Indico para quem gosta de ficar hospedado em locais históricos e inusitados. Os quartos são pequenos, mas super interessantes. Afinal, nenhuma hospedagem da cidade oferece muito luxo mesmo. Todos os hotéis têm padrão 3 estrelas. São simples. Serviço simpático, mas fraco. Então, ficar hospedado numa madrassa é a melhor pedida.
Que tal ficar hospedado nessa antiga escola de islamismo?
Outro minarete imponente é o Islam Khodla que fica junto a madrassa de mesmo nome. Eles foram construídos mais recentemente, em 1910, quase em frente ao belíssimo Mausoléu de Makhmud, que é uma das construções mais bonitas da cidade com seu enorme domo azul arredondado.
Khodla foi uma figura muito importante e querida na cidade. Ele construiu o hospital, o telégrafo, um dos portões da cidade, um palácio para receber visitas oficiais, além de várias outras contribuições. Já, Makhmud foi um poeta famoso em Khiva e também era conhecido por suas habilidades em lutas.
Madrassa Islam Khodla, Minareto Islam Khodla e Mausoléu de Makhmud.
Minarete Islam Khodla.
Ao lado do Mausoléu de Makhmud essa simpática senhora chama os turistas para o museu.
Khiva tem muitos filhos célebres, um deles é Al-Khwarizm da área da matemática, conhecido como o pai da álgebra e de cujo nome deriva o termo “algarismo”. Outro nome importante é Al-Biruni que dominava astronomia, matemática, geografia e história.
Al-Khwarizm em uma das praças de Khiva.
Para finalizar a exploração de Khiva não deixe de visitar a Mesquita Djuma, uma bela construção do século X. Ela é formada por 213 colunas talhadas em madeira, todas diferentes umas das outras. Pequenas aberturas no teto ajudam a manter uma iluminação suave e garantem boa circulação de ar. Suba no minarete para ter um belo visual da cidade e saiba que na escadaria sempre há casais namorando. As senhoras que tomam conta da mesquita ficam tentando espantar os casais, mas eles insistem em retornar. É engraçado.
Mesquita Djuma.
Ao fundo, o minarete da Mesquita Djuma.
CERIMÔNIA DE CIRCUNCISÃO
Cerimônia de Circuncisão, em Khiva.
O ARTESANATO UZBEQUE
Nas ruas, centenas de barracas vendem gorros de pele, tapetes, bolsas coloridas, lenços, sapatilhas de lã, bordados suzane feitos a mão, peças entalhadas em madeira, cerâmica, fantoches...
Dos três países que conheci na Ásia Central, o Uzbequistão foi o mais convidativo em termos de compras. No entanto, se quiser comprar tapetes espere chegar em Bukhara.
Pela quantidade de peles e sapatos de lã dá para imaginar o frio que faz no inverno do Uzbequistão.
Fantoches coloridos, a cara de Khiva.
Sorrisos não faltam no Uzbequistão.
Fiquei hospedada no Hotel Asia Khiva considerado um dos melhores da cidade. Padrão 3 estrelas. Fraco. Café da manhã bem restrito. Cama pouco confortável. Banheiro antigo. Sua localização não é muito boa. Fica do lado de fora da cidade antiga, na frente de um dos portões. É preciso caminhar uns 4 quarteirões para chegar na rua principal. Como não há boa iluminação na cidade, fica difícil o retorno do jantar. Não indico.
Gostei bem mais do Hotel Orient Star Khiva que citei acima. Super bem localizado, dentro das muralhas da cidade antiga. Ele ocupa as instalações de uma antiga madrassa. Os quartos são pequenos, sem muitas janelas, mas super originais. Bem interessante. Considero a melhor escolha de hospedagem na cidade.
Outra opção que me pareceu interessante foi o Hotel Malika. Também do lado de fora da muralha, mas na entrada do portão principal. Não cheguei a ver os quartos, apenas o hall.
Hotel Malika.
INDICAÇÃO DE RESTAURANTES
Mirza Boshi. Meu preferido na cidade. Pães feitos na hora em forno de barro. Salada de pepino com tomate e pratos tradicionais do país feitos com massa ou arroz. Atendimento super simpático.
Khiva Moon. Super escondido e bacana para jantar. É preciso fazer reserva, pois fica dentro da casa de uma família. +99891 431 5799 Rua Polvon Koriy 101A.
Café Zarafshon. Comida caseira. Atendido pela família.
INDICAÇÃO DE GUIA
Madaminov Timur foi meu guia em Khiva. Um rapaz jovem e disponível que tornou a cidade ainda mais encantadora. Recomendo. E-mail: matimur.80@mail.ru Telefone: +99891 431 5799 ou +99890 579 2199
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Os próximos textos serão sobre as cidades de Bukhara e Samarkand.
impressionante texto e fotos lindas
ResponderExcluirparabens
VS
Obrigada, VS.
ResponderExcluirClaudia
Fiquei encantada! Viajei com tuas lindas fotos e texto sempre excelente!
ResponderExcluirMT,
ResponderExcluirSaudades de ver você por aqui.
Essa cidade é uma fofura mesmo. Fiquei apaixonada.
Bjsss
Cláudia,
ResponderExcluirAbsolutamente espetacular. Obrigada por texto tão informativo e fotos de tirar o fôlego.
Bjs
Ana
Oi Ana,
ExcluirFiquei encantado com o Uzbequistão. Em breve vou escrever os textos sobre Bukhara e Samarkand que são cidades espetaculares.
Bj
Claudia!! Estou adorando seu blog! Cheio de excelentes posts. Parabéns!!
ResponderExcluirSou de Goiânia, mas atualmente moro no Rio também, mas ao contrário de vc, não pretendo ficar por aqui. Quero passar um ano viajando e depois não sei... Rs... Assim, vem minha pergunta. Em todos os países "istão" vc conseguiu guia para visitar os principais pontos turísticos e saber um pouco das histórias locais? Em um dos posts vc fala que os hotéis não são muito bons, e os preços, como são? Pergunto pq tenho dinheiro mais ou menos contado e não é fácil encontrar informação sobre esses países.
Obrigada desde já.
Bju.
Claudia,
ResponderExcluirAdorei seus textos sobre o Quirguistão e UZBEQUISTÃO, me abriu os olhos para incluir esses países em meu roteiro pela Ásia. Sinto-me muito agradecida. Bjs
Conheci o Uzbequistao em 1989. Fpi gratificante rever essas licaludades atraves de suas fitos. Parabens pelo texto.
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