O QUE FAZER NO SUL DO SRI LANKA
Imagino que você já tenho visto alguma foto da costa sul do Sri Lanka onde pescadores se equilibram sobre estacas no mar agitado em busca de alguns peixinhos. Isso mostra que o mar nessa parte da ilha não é propriamente calmo e foi exatamente por isso que suas praias se popularizaram entre os surfistas - quando as portas do Sri Lanka se abriram em 2009, depois de uma longa guerra civil - e começaram a atrair olhares de quem está a procura de destinos fora da curva.
Praias do sul do Sri Lanka.
Se por um lado, o turismo vem crescendo nessa região e os tais “pescadores cingaleses” vem abandonando essa modalidade inusitada de pesca (e o fazem agora prioritariamente como modo de exibição, em troca de uma gorjeta polpuda), por outro lado a vida nos vilarejos à beira-mar continua a acontecer sem pressa. A essência da ilha se mantém preservada entre templos budistas, praias, coqueirais, parques nacionais com fauna riquíssima e muita tranquilidade. Foi exatamente em busca desse ritmo desacelerado que combina mais com a velocidade de um elefante do que de um carro e que valoriza mais o sabor de uma água de coco do que de um computador, que incluí no meu roteiro: três dias em Hambantota (Shangri-La Hambantota) e dois em Yala (Wild Coast Tented Lodge), depois de ter conhecido a capital Colombo.
Mapa do sul do Sri Lanka.
DE GALLE A YALA
O sul do Sri Lanka é demarcado por uma sequência de praias e
reservas naturais que vão de Galle ao Parque Nacional de Yala. Saiba que algum
desses cantinhos certamente combinará com você.
Galle (diga Gaul) é um antiga cidade colonial desenvolvida
inicialmente pelos portugueses e depois pelos holandeses que construíram
muralhas de proteção contra os invasores. A parte mais antiga é conhecida como
Forte de Galle e é exatamente onde fica o histórico hotel Amangalla, num prédio
do século XVII que foi recentemente restaurado com o carinho e o luxo
característicos do grupo Aman. Só passei pela cidade no caminho de Colombo a
Hambantota. É um lugar bacana para ficar hospedado por um ou dois dias.
Depois de Galle, seguindo estrada, a costa é pontilhada por
pequenos povoados que vivem da pesca, das plantações de coco e do turismo. Unawatuna
é conhecida como destino de mochileiros. Pelo caminho, dezenas de tuk-tuks transitam
para lá e para cá entre crianças, bicicletas, cachorros, carros, pedestres e
ônibus. É o meio de transporte mais usado pela população local. No entanto,
eles não são muito cuidadosos em suas manobras e acidentes são frequentes. Quem
dita as regras no trânsito são os veículos maiores e os outros que saiam da
frente. Vi um tuk-tuk sair rolando ao bater na lateral de uma caminhonete. Momento
tenso mas por sorte ninguém se machucou.
A seguir vem Kogalla, famosa pelos tais pescadores sobre
estacas. Um dos locais mais fáceis para encontrá-los é no vilarejo de Ahangama.
Depois vem Midigama, um reduto de surfistas seguido pela tranquila Weligama e
logo Mirissa, um bom ponto para observação de baleias. Se você pensa que o Sri
Lanka não oferece muita coisa
saiba que é puro engano. O país é de uma diversidade espantosa.
A cidade de Matara vem na sequência. Ela é bem grande em
relação às demais da região. No passado, foi um reduto de importância comparável
a Galle para os holandeses na comercialização da canela, um dos produtos mais
nobres do país ainda hoje, juntamente com o chá cultivado na região montanhosa
central. Alguns quilômetros afastado do centro de Matara fica o templo Weherehena
com uma imagem imensa de Buda de 39 metros de altura.
Tangalla vem a seguir e tem mais fama pelos belos templos
budistas, como Wewurukannala e
Mulkirigala, do que pelas praias. Visite também o Parque Nacional de Bundala,
uma área preservada para desova de tartarugas marinhas. Alguns quilômetros à
frente está Hambantota, que foi meu paradeiro por três dias deliciosos e
intensos.
Nessa região, faça um passeio de barco pelo rio Walawe para
ver dezenas de pavões selvagens, morcegos gigantes pendurados nas árvores,
muitas espécies de aves e crocodilos de arrepiar convivendo tranquilamente em
áreas bem povoadas. Não perca de maneira nenhuma o safári no Parque Nacional de
Udawala com elefantes, búfalos, javalis e outros animais vivendo livres na
natureza. Informe-se sobre os horários em que os elefantinhos órfãos são
amamentados. É emocionante e imperdível. Fique hospedado no luxuoso hotel Amanwella pé na areia ou no resort familiar Shangri-La Hambantota. Fiquei
realmente surpresa com a qualidade e com a quantidade de hotéis que encontrei
no Sri Lanka.
SHANGRI-LA HAMBANTOTA
O resort é espalhado por um área imensa, à beira-mar,
repleta de coqueiros que no passado fez parte da Rota das Especiarias. Ele tem menos de dois anos e seu perfil familiar lembra muito os grandes
resorts do nordeste do Brasil. Mesmo sendo enorme, tem um astral intimista e
aconchegante.
Assim que cheguei e o carro entrou pelo portão fui recebida
por um grupo de pavões que passeavam livremente entre os coqueiros, na beira de
um lago. Como não amar? Essas aves tão nobres são encontradas facilmente no Sri
Lanka. No Shangri-La Hambantota estão por todos os lados.
No lobby, uma equipe super simpática me recebeu com um
drinque de boas-vindas, sorrisos e muita tranquilidade. Pressa não combina com
o Sri Lanka. Entre no ritmo local. Desacelere!
Enquanto fui conhecer o hotel num carrinho elétrico, as
malas foram diretamente para o quarto. Na primeira parada me encantei com o
vilarejo chamado “The Artisan Village”, cheio de bangalôs típicos da região, de
frente para um lago com flores de lótus, onde artesãos confeccionam peças do
artesanato local e até convidam você auxiliar no preparo. Claro que marquei uma
hora no dia seguinte para confeccionar uma máscara e uma caixinha de madeira.
No passeio de reconhecimento, visitei o campo de golfe com
18 buracos de frente para o Oceano Índico e todas as alas do hotel. A
arquitetura é um dos pontos fortes. Pés direitos altos, grandes pilastras, muita
madeira, em espaços amplos decorados com peças de artesanato local, baús
antigos, grandes vasos e ventiladores de teto charmosos.
Os 300 apartamentos são amplos e incluem 21 suítes que variam
de tamanho conforme a categoria. Estão distribuídos em prédios de quatro
andares, com alas familiares e outras destinadas a adultos. Os quartos que
ficam no andar térreo têm terraços abertos diretamente sobre o gramado, já nos
andares superiores, contam com varandas com vista para o mar ou para os
jardins. Os quartos são aconchegantes com camas enormes, almofadas coloridas,
tapetes feitos à mão e peças revestidas com mosaicos de casca de coco. Os banheiros
são amplos, revestidos de mármore, com banheira separada do chuveiro. Mimos não
faltam. Todos os dias eram servidos frutas e doces no quarto.
Basta escolher o tipo de quarto ou suíte que combina com sua família.
Há várias opções no Shangri-La Hambantota.
Piscinas são várias já que o mar é agitado nessa parte do
país e com fortes correntes. Tem uma exclusivamente para adultos, uma familiar
e outra cheia de brinquedos para crianças. Para quem quiser circular pelos
arredores há bicicletas disponíveis aos hóspedes. Para relaxar depois da pedalada
vale marcar um tratamento no Chi Spa ou fazer uma aula de ioga ao pôr do sol. A
academia do hotel é enorme e excelente. Para os mais destemidos tem até um
trapézio de sete metros de altura, com trampolim. O hotel é interessante tanto para
quem gosta de jogar golfe, viagem em família ou casais.
A piscina infantil do Shangri-La Hambantota é um verdadeiro parque aquático.
A piscina familiar é mais tranquila e ainda tem outra exclusivamente para adultos.
Para as refeições há várias restaurantes disponíveis.
Bojunhala é o espaço principal para as refeições. Serve café
da manhã, almoço e jantar num espaço descontraído onde é servido um buffet com
pratos típicos do Sri Lanka e cozinha internacional.
O Sera tem comida do sudeste Asiático. É o restaurante mais
charmoso do hotel para um jantar a luz de velas no gramado, na mesa do chef ou
no salão descontraído-chic. Meu favorito.
Ukpatha Club House and Bar é perfeito para uma refeição
rápida, no almoço ou no jantar, no Golf Club. Tem uma área aberta, com
simpáticos ombrelones e visual lindo para o campo de golfe.
O Gimanhala Lounge é um bar aberto de decoração charmosa,
ótimo para o chá da tarde ou para um drinque no final do dia.
De Colombo até Hambantota são aproximadamente 4 horas e meia
de carro ou um voo de hidroavião de 40 minutos com a Cinnamom Air até o
aeroporto de Hambantota Matalla, a companhia aérea que faz os voos internos no
Sri Lanka. Optei por ir de carro para ter um contato mais estreito com a
cultura local. As estradas são bem movimentadas, estreitas e praticamente sem
acostamento. Viajei apenas com uma amiga e sentimos as pessoas muito receptivas
e gentis o tempo todo. O país não é perigoso. Muita gente acha que por ser
colado à Índia tem alguma semelhança em termos de assédio feminino. Não tem! Vá
sem medo. A maioria da população é budista e isso faz uma tremenda diferença.
Depois de passar três dias em Hambantota, a próxima parada foi no Parque Nacional de Yala, onde vivi uma experiência ímpar
ficando hospedada dois dias num luxuoso “cocoon” do Wild Coast Tented Lodge. O
hotel tem o selo Relais & Chateaux, foi inaugurado recentemente e fica praticamente
dentro da reserva. Mais exclusivo, interessante e especial, impossível.
Parque Nacional de Yala.
SAFARI EM YALA
O Parque Nacional de Yala é um dos lugares imperdíveis numa
visita ao Sri Lanka. De Hambantota levei aproximadamente 40 minutos de carro
para chegar. Por meia hora, o carro andou por uma estrada que passava por
vilarejos. De repente, as casas foram ficando para trás e a vegetação da
reserva tomou conta. A quantidade de animais que apareceu pelo caminho foi
grande. Já deu para ter uma ideia do que estava por vir quando estivéssemos
dentro do parque nacional, uma vez que ainda estávamos do lado de fora e vimos
pavões, búfalos, gazelas, macacos e muitas espécies de aves.
A chegada no hotel rústico-chic foi uma bela surpresa. Que
lugar! Diferente de tudo. Espetacular para quem curte a natureza no seu estado
mais puro e com estrutura de muito conforto, numa pegada a la Indiana Jones.
São apenas 28 tendas à beira-mar, numa área de mar muito agitado,
a cinco minutos de carro do portão de entrada do Parque Nacional de Yala.
Fomos recebidas com água de coco e muita gentileza. Nosso
“cocoon” ficava a alguns metros da recepção, de frente para um pequeno lago,
onde um bando de javalis descansava sem se importar com nossa presença. A
primeira advertência do funcionário foi para deixar a porta constantemente
fechada para nenhum animal entrar e evitar deixar qualquer objeto na varanda,
pois os macacos poderiam gostar e levar embora. Ah! E em caso de emergência
havia um botão vermelho de alarme. Afinal, estávamos no habitat natural de
elefantes, leopardos, ursos e outros animais mais amigáveis, separados apenas
por um muro do parque nacional. Claro que depois do entardecer não era permitido
andar sem a companhia de um guia. E no caso de dar fome ou sede? Não se preocupe. As tendas são super bem
equipadas. Tem água, café, chá, frutas, biscoito, castanhas, cerveja e vinho incluídos
na diária.
Os “cocoons” são tendas ao estilo “glamping”, com decoração vintage,
totalmente em sintonia com o astral do lugar, em tons de terra, com baús de
couro e tapetes coloridos. As camas são super confortáveis, com dossel e
travesseiros maravilhosos. O banheiro é todo em cobre, inclusive a banheira
maravilhosa posicionada bem no centro. Apenas os produtos de higiene fornecidos
pelo hotel devem ser usados para não agredir o meio ambiente e não danificar as
peças em cobre. O banheiro tem uma parede toda envidraçada com super visual da
mata.
Algumas tendas têm piscina privativa e são uma boa escolha
para casais em lua-de-mel que optam por uma viagem diferente. E vou te falar
que é uma boa ideia, pois o Sri Lanka é muito interessante, especialmente se
conjugado com as Maldivas, Omã ou Emirados Árabes.
O Wild Coast Tented Lodge foi um dos lugares onde
experimentei a melhor cozinha do Sri Lanka. Tudo caprichado do café da manhã ao
jantar. Vale lembrar que a pimenta e o curry são uma constante. Afinal, a Índia
está a alguns passos. As refeições são servidas numa grande tenda
restaurante-bar, toda aberta, feita em bambu, conjugada com uma piscina linda
que serpenteia até o spa e a biblioteca.
No final do dia, antes do jantar, drinques são servidos no
gramado em frente ao mar. Tochas iluminam o caminho. Enquanto
as pessoas sentam sobre as pedras com suas taças na mão, seguranças do hotel
ficam de olho na vizinhança. Dizem que eventualmente aparece algum elefante
desfilando na praia durante o Happy Hour. Pena que não presenciei essa cena.
Os safáris são organizados diariamente pelo hotel, em dois
horários, um pela manhã e outro ao entardecer, evitando os momentos mais
quentes do dia. O custo é de 100 dólares por pessoa. Os guias e os motoristas
são muito sagazes e sabem muito sobre a fauna local. Os carros são abertos, de
modo que a proximidade com os animais é grande. Em certo momento, eles param o
carro num local seguro e servem um lanche enquanto explicam sobre os hábitos
dos animais. O elefante, por exemplo, quando começa a morder a tromba e caminhar
em sua direção, mostra que está aborrecido. É hora de partir rápido caso você
esteja por perto. E eles são capazes de virar um carro, derrubar uma cerca ou
até danificar uma casa. As pessoas no Sri Lanka respeitam muito os elefantes,
pois convivem com uma grande população selvagem e relatam histórias
assustadoras. Durante o safári vi vários filhotinhos de elefante sendo cuidados
pela manada e tive a sorte de observar um leopardo desfilando na estrada, em
frente ao carro. Os ursos pretos não cheguei a ver. Preciso retornar quando
eles não estiverem hibernando.
Ao voltar do safári, nada como relaxar no spa, curtir a
piscina deliciosa do hotel ou ver o por do sol à beira-mar. Fiquei apenas dois
dias em Yala e adoraria ter ficado mais dois. Um lugar cinematográfico e
inesquecível.
Piscina do Wild Coast Tented Lodge entre o restaurante, o spa e a biblioteca.
ENFIM
O sul do Sri Lanka é interessante para quem
busca praias intocadas, vida selvagem bem preservada e cultura com personalidade própria. Depois de passar dois dias em Colombo, fui de carro até Hambantota num percurso de pouco menos de
cinco horas. Permaneci três dias no Shangri-La Hambantota. Minha parada
seguinte foi no Parque Nacional de Yala onde fiquei dois dias no espetacular
Wild Coast Tented Lodge. Minha próxima parada foi à região central do Sri Lanka,
nas plantações intermináveis de chá, minha paixão antiga e o que instigou minha
curiosidade de viajar ao antigo Reino do Ceilão.
Apenas mulheres trabalham na colheita do chá do Ceilão.
CLAUDIA
ResponderExcluirParabens
as fotos e textos deste teu post estão MARA!
abs
VS
Obrigada, VS
ExcluirRecomendo que visite o Sri Lanka. Um país lindo!
Demais!!!
ResponderExcluirRegina, o Sri Lanka me surpreendeu. Lugar incrível!
ExcluirBeijos