BELÉM DO PARÁ, DO CÍRIO DE NAZARÉ AO SORVETE DA CAIRU


Pela janela do avião, um tremendo tapete verde formado pela Floresta Amazônica riscado por um emaranhado de rios, anuncia a chegada a Belém do Pará. Pois foi exatamente na curva de um desses rios que desembocam na Baía do Guajará que a cidade portuária se esparramou cheia de personalidade entre espigões, casas coloniais e muita natureza.

Floresta Amazônica.

Belém tem história, artesanato, música, folclore, fé, floresta e uma gastronomia peculiar que vem chamando atenção. Já provou jambu, tucupi, tacacá, maniçoba, cumaru, açaí, uxi, taperebá, filhote, tucunaré, bacuri?

Os sabores exóticos do Pará provocam curiosidade. 

TRADUZINDO...

JAMBU. É uma planta também chamada de agrião-do-Pará que quando se come dá uma sensação de anestesia na boca. É muito usada na cozinha paraense.

TUCUPI. Líquido amarelo, tipo um molho, retirado da raíz da mandioca brava. Deve ser cozido demoradamente antes de consumido, pois cru é venenoso.

Molho de Tucupi.

TACACÁ. Uma espécie de sopa que mistura tucupi, jambu, camarão seco e goma de tapioca.

MANIÇOBA. É a “feijoada paraense”, sem feijão. Na verdade é um prato preparado por vários dias com as folhas da mandioca trituradas – maniva – acrescidas de carne suína e temperos.

CUMARU. Uma semente que caiu nas graças dos chefs e é considerada como uma “prima” da baunilha.

AÇAÍ, UXI, TAPEREBÁ, BACURI. São algumas das tantas frutas exóticas do norte do Brasil.

FILHOTE, TUCUNARÉ. Peixes de rio muito encontrados no Pará.

Fartura nos rios da Amazônia. 

Pois esses foram alguns dos sabores que atiçaram minha curiosidade e me trouxeram para Belém às vésperas do Círio de Nazaré, uma das principais manifestações religiosas não só do Brasil, como do mundo. A festa em reverência à Nossa Senhora de Nazaré acontece todos os anos, no segundo domingo de outubro e traz uma legião de pessoas que acompanham 12 romarias oficiais, incluindo algumas fluviais. Nessa época, a cidade de 1,5 milhão de habitantes chega a receber 2 milhões de visitantes. É muita gente.

Já deu para perceber como Belém do Pará é especial?

Grafite em comemoração ao Círio de Nazaré.

NO COMEÇO

Belém foi fundada em 1616 pelos portugueses a partir do Forte do Presépio. Hoje é uma das maiores cidades da Região Norte, e a principal referência da chegada desses colonizadores na Amazônia. A arquitetura dos bairros mais antigos ainda reflete a herança desse período. Igrejas charmosas e casas com fachada revestida de azulejos, pé direito alto e sótão estão por todos os cantos. Foi a exploração do pau-brasil que deu origem a Belém e depois, no século XX, o extrativismo da borracha impulsionou seu crescimento, no chamado período Belle Epoque.

Belém do Pará.

A proximidade com a floresta sempre foi sua maior riqueza. Mas, esse fato também a eleva ao patamar de “capital mais chuvosa do Brasil”. Chove quase todos os dias em Belém. Esteja preparado para as pancadas da tarde e aproveite para se refrescar pois o calor castiga.

O QUE VER EM BELÉM

É preciso calibrar o olhar para se encantar com os tesouros de Belém, muitas vezes escondidos por lugares um pouco mal cuidados e com pouca segurança. Tome cuidado e divirta-se com a veia exótica desse Brasil tão singular e ao mesmo tempo pouco explorado pelo turismo.

Um pouquinho de atenção é importante na região portuária próxima ao Ver-o-peso.

1. MERCADO VER-O-PESO, ou Veropa para os íntimos é um dos mercados públicos mais antigos do país. Foi fundado em 1625 e continua sendo o principal cartão-postal de Belém. É considerado como uma das maravilhas do estado do Pará. O imenso complexo inclui uma feira livre, o Mercado de Carnes, o Mercado de Peixes e a Praça do Pescador. O mercado traduz a cultura local. É imperdível! Abastece a cidade com alimentos de todo tipo (alguns bem exóticos), cerâmica marajoara e ervas medicinais vindas das ilhas vizinhas e dos municípios do interior, geralmente por via fluvial. Vá cedo. É um programa para ser feito de manhã.

Mercado Ver-o-peso,  Barraca da Carmelita.

Dicas
  • Prove as frutas exóticas da Barraca da Carmelita (bacuri, cupuaçu, taperebá, uxi...) e tome água de buçú que tem propriedades medicinais no auxílio na digestão.
  • Para comer vá ao Box da Lúcia ou ao Box da Eliana
  • Prove o peixe frito do  “alemão". 
  • Vá a Casa das Ervas (Moinho) e compre cumaru.
  • Também compre castanha do Pará fresca. Maravilhosa!
  • Tome uns golinhos de cachaça de jambu

Compre muita castanha-do-Pará. Pode ser torrada ou fresca. 

Procure pelo Moinho, ao lado do Mercado de Ferro e você encontrará todo tipo de ervas.

2. ESTAÇÃO DAS DOCAS. Os antigos armazéns do porto foram restaurados em 2000 e a cidade ganhou um novo pólo gastronômico com área de lazer e calçadão. Ao entardecer, quando o calor dá uma trégua, as Docas se enchem de gente caminhando no calçadão de pedras portuguesas. Crianças correm pra lá e pra cá, algumas pessoas se sentam para saborear o famoso sorvete da Cairu enquanto curtem o pôr do sol de frente para a baía, outras fazem uma pausa para degustar uma cerveja artesanal paraense na Amazon Beer. Também é dali que partem os barcos turísticos de madeira, de dois andares, para fazer passeio pelo rio, ao entardecer. A animação fica  por conta dos músicos e dos dançarinos que exibem o carimbó e falam sobre o folclore local, inclusive a Lenda do Boto muito contada para justificar a gravidez das moças solteiras. Dizem que o boto se transforma num rapaz bonito que seduz com seu encanto, todo vestido de branco e sempre de chapéu, que usa para esconder a narina que não desaparece durante sua transformação. Coisas do norte. A Estação das Docas lembra muito a região de Puerto Madero, em Buenos Aires.

Estação das Docas.

Dicas
  • Aproveite para jantar no Lá em Casa,
  • Tome um sorvete de açaí com tapioca, de castanha do Pará ou de frutas do norte na Sorveteria Cairu (tem várias casas pela cidade).
  • Se quiser provar o açaí paraense durante as refeições atravesse a rua e vá ao Point do Açaí, em frente a Estação das Docas (um dos muitos endereços na cidade). Vá preparado para comer açaí com farinha e peixe frito. Banana nem pensar!
Sorvete Cairu.  Difícil pedir um só!

Os passeios de barco pela baía partem às 17:30 e às 20 hs.

3. FORTE DO PRESÉPIO. Dois quarteirões adiante do Ver-o-peso fica esse marco histórico de Belém. O Forte do Presépio foi construído em 1616 para controlar o movimento na Baía de Guajará e defender a cidade. O visual que se tem de dentro das muralhas para o mercado Ver-o-peso e a baía é lindo. Ainda no forte visite o Museu do Encontro que abriga uma coleção de objetos arqueológicos encontrados no próprio local. Praticamente ao lado fica a Casa das Onze Janelas, edificada no século XVIII pelo proprietário de um engenho de açúcar. A casa, mais tarde, foi transformada em hospital, depois posto militar e hoje é o Centro Cultural Casa das Onze Janelas.

 Portão de entrada do Forte do Presépio.

 Interior do Forte do Presépio.

Ao fundo, a Casa das Onze Janelas. 

Casa das Onze Janelas.

4. CATEDRAL DA SÉ E BASÍLICA. Em frente a entrada principal do forte, do outro lado da Praça Frei Caetano Brandão, fica a Catedral da Sé, projetada pelo arquiteto italiano Antônio José Landi, em 1755. Ela é o ponto inicial da procissão do Círio de Nazaré, que parte para a Basílica de Nazaré após a celebração de uma missa. A Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré é outro local que merece ser visitado pois foi onde a imagem da santa teria sido vista pela primeira vez. Fitinhas coloridas, como as do Senhor do Bonfim, são vendidas ali e milhares são penduradas nas grades em frente a Basílica.

 Catedral da Sé. 

Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.

 Agradecendo a Nossa Senhora de Nazaré com uma fitinha.

Dica
  • Ainda na Praça Frei Caneca Brandão visite o Museu de Arte Sacra de Belém na igreja de Santo Alexandre.

5. MANGAL DAS GARÇAS. Eis um lugar interessante a ser visitado por quem gosta de natureza. O parque foi criado em 2005 pelo Governo do Pará, numa área de 40 mil metros quadrados, revitalizada, às margens do rio Guamá, perto do centro histórico de Belém. Uma bela surpresa. O que antes era uma área alagada, hoje é lugar lindo para fazer uma caminhada pelos jardins, entre diversas espécies de aves da região, subir na torre de observação e visitar o borboletário.

Mangal das Garças. 

Muitas aves circulam livres pelo parque Mangal das Garças.

Dica 
  • Aproveite para comer no restaurante Manjar das Garças que serve um buffet de pratos regionais do Pará no almoço e jantar a la carte.

Restaurante Manjar.

5. THEATRO DA PAZ. O elegante teatro é uma visita imperdível na Praça da República. Ele foi inspirado no Teatro Scala de Milão e edificado, em 1878, com dinheiro do Ciclo da Borracha. Muitos materiais foram trazidos da Europa para sua construção, como os mármores italianos da escadaria, os lustres e as estátuas em bronze, da França. Para conhecer seu interior há visitas guiadas ou você pode assistir a um espetáculo.

Theatro da Paz, Belém do Pará.

Dica
  • Numa das esquinas da Praça da República fica o Bar da Praça. Ele acabou de ser reaberto e vale uma pausa para um café, uma refeição ou um drinque. É um clássico na cidade.

6. MUSEU DO POLO JOALHEIRO. O Espaço São José Liberto é um centro comercial e cultural que abriga o Museu de Gemas do Pará, o Pólo Joalheiro, a Casa do Artesão, o Memorial da Cela, o Jardim da Liberdade e uma capela, num prédio que já serviu como convento e cadeia pública. Um lugar interessante que reúne lojas de joias, artesanato marajoara e moda num local mantido pelo Governo do Pará.

Um espaço cultural lindo no antigo presídio. 

Cerâmica Marajoara vendida no Espaço São José Liberto.

Dica
  • Visite também o Museu do Círio e o Museu Paraense Emilio Goeldi. 
  • Lembre-se que muita coisa fecha às segundas-feiras.

7. LAMBATERIA. Para quem quer curtir a night de Belém e conhecer os ritmos da terra sugiro a Lambateria, às quintas-feiras. O lugar funciona como uma experiência antropológica. Vai do carimbó ao brega de raíz, passando pela guitarrada. Super animado. Foi indicação da minha amiga Gaby Amarantos.  

QUANDO IR

Faz calor o ano inteiro. As temperaturas costumam variar de 20 a 38 graus Celsius. Devido a proximidade com a floresta a umidade é grande e costuma chover praticamente todos os dias. O período mais chuvoso vai de dezembro a maio. Chove menos de junho a novembro. Lembre-se de levar filtro solar e repelente. Afinal, estamos falando de uma região com clima equatorial.

PS: Se quiser esticar até Alter do Chão vá de agosto a novembro.

Alter do Chão.

ENFIM...

Belém guarda com chave de ouro uma história de quatro séculos na entrada da Floresta Amazônica. É singular. A começar pela Estação das Docas, a versão paraense de Puerto Madero. Também se surpreenda com o Forte do Presépio, início de tudo e tão bem preservado; com o presídio-convento transformado em Pólo Joalheiro; com o Museu de Arte Sacra; com o espantoso número de visitantes que vai ao Círio de Nazaré; com o jardim amazônico do Parque Mangal das Garças; com o bochicho do Veropa; com a elegância do Theatro da Paz; com a vastidão da floresta; com os passeios de barco no rio; com a cerâmica marajoara; com a batida do carimbó; e com a gastronomia saborosa. Faça um bate e volta até a Ilha do Combu e Ilha do Mosqueiro. Se der estique até Ilha de Marajó, Salinas e Alter do Chão. Garanto que o Pará vai ficar guardado na sua memória com carinho. 

Belém merece sua visita.

No próximo post te apresento a Ilha do Combu e Ilha do Mosqueiro.

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Onde comer e beber (muito bem) em Belém

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COMENTÁRIOS

  1. Interessante ver a sua percepção sobre a cultura no Pará! Tenho certeza que essa experiência te agregou muito. Como gosto muito de natureza, fiquei curiosa para conhecer o Mangal das Garças, citado no post. Obrigada por compartilhar essas informações :)

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    1. Oi Ju! Eu amei o Pará. Belém tem muita personalidade. O Brasil é lindo demais e muito diverso.
      Beijos
      Claudia

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  2. Claudia: alguma recomendação de hotel em Belém? Um abraço!!

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