BAGAN, O REINO DOS DEZ MIL TEMPLOS


Era uma vez um reino encantado, muito distante, que nasceu cercado de lendas e templos no coração da Birmânia. Tudo começou quando um poderoso rei chamado Anawrahta subiu ao trono em 1044 e governou aquelas terras por 30 anos. Ergueu quatro grandes templos budistas para demarcar seu território, mostrar seu poder e conquistar a alma do povo. A partir dali foram construídos mais de 10 mil templos, estupas e monastérios entre os séculos XI e XIII. Cada novo rei que assumia o controle tentava aumentar mais e mais o poder do Reino de Pagan, cuja capital era Bagan, para agradar a Buda. E assim, o reino foi o primeiro a unificar as regiões que hoje formam o Mianmar. 

Interior de um dos tantos templos de Bagan.

Uau! Que bela história e que legado! Impossível não começar com "era uma vez". Bagan tem magia no ar. A pequena planície de 41 quilômetros quadrados é emoldurada por florestas, recortada por rios e pontilhada por centenas de templos que são de arrepiar.

É impressionante pensar que desses 10 mil templos construídos pelos 55 reis que por ali passaram, mais de 3 mil permanecem em pé, sendo que dois mil são originais e os outros mil foram reconstruídos. Um patrimônio arqueológico de valor inestimável e de uma força sobrenatural. Pois, mesmo com tantos terremotos e ataques de inimigos, Bagan continua firme contando sua história. A espiritualidade paira no ar. Tive a mesma sensação quando visitei os templos adormecidos do Camboja, em Siem Reap.


Pagoda Shwezigon, um dos locais sagrados mais importantes de Bagan.
Começou a ser construído em 1044.


Dá para entender perfeitamente porque Bagan é o destino mais visitado do Mianmar. A região merece ser explorada pela terra e pelo ar sem pressa. Reserve pelo menos três ou quatro dias para se aventurar - a pé, de charrete, de taxi ou scooter - pelas estradinhas singelas de terra repletas de templos de todos os tamanhos, e pelo ar - de balão - para curtir essa verdadeira relíquia deixada pelos reis de Burma.


Voo de balão em Bagan.

COMO É BAGAN NA PRÁTICA


A grande Bagan é dividida em três áreas principais: Old Bagan, New Bagan e Nyaung U, entremeadas por um turbilhão de templos. Escolhi ficar hospedada no Aureum Palace Bagan, na aldeia Min Nanthu, e recomendo totalmente. O hotel fica a cinco minutos do aeroporto, o que é  super prático e perto de todos esses vilarejos, mas numa área bem sossegada.


Mapa com as três regiões que compõe a Grande Bagan: Old Bagan, New Bagan e Nyaung U.
Observe que o hotel Aureum Palace fica perto do aeroporto e tem acesso fácil à todos os pontos.

A vida é simples nos povoados, todos vestem longyis (pareôs tradicionais do país) e circulam sem pressa pelas estradinhas de terra com seus carros de boi, bicicletas, antigas motocas ou em paus de arara. É um lugar de personalidade própria. Diferente de tudo. Uma volta no tempo. 


Bagan.

O caminhão tipo pau de arara é o meio de transporte mais usado em Bagan. 


Charretes têm por todos os lados em Bagan.


Os carros de boi são uma constante pelas estradinhas de terra, 
afinal a região é essencialmente rural.

As pessoas são sorridentes e têm sempre o rosto desenhado com tanaka (uma pasta que é uma espécie de filtro solar feita de raspas de sândalo com água, que usam para proteger a pele do sol e retardar o envelhecimento). Adoram ser fotografadas, diferente de outros países como por exemplo, o Marrocos

A vida é simples em Bagan e os sorrisos são fáceis, como o dessa vendedora de artesanato. 


Os birmaneses também se orgulham muito de sua arte. Os objetos feitos em laca são famosos pelo processo artesanal cuidadoso. A arte passa de pai para filho. Além disso, são habilidosos na tecelagem e fazem peças lindas de artesanato. O país também é grande produtor de jade. 

 Menina produzindo peças em laca.

Mulher-girafa tecendo um longyi.

Fantoches coloridos de Bagan.

New Bagan tem ruas mais organizadas, mais hotéis, mais movimento, alguns restaurantes e até casa de massagem. Mas, não espere luxo. É um lugar onde a simplicidade e a espiritualidade dão o tom.

A vida em Bagan.

Para você se achar entre tantos povoados e templos contrate um motorista de taxi, um guia ou uma van para ajudar na exploração inicial. Circule no conforto de um bom ar condicionado pelos templos maiores: Pagode Shwezigon, Gubyaukgyi, Htilominlo, no simpático Alotawpyi, no maravilhoso templo branco Ananda, no Bupaya que fica na beira do rio Ayeyarwady, Thatbyinyu, Lawkananda, e no final do dia curta o pôr do sol no imenso Dhammayangyi ou no Pagode Shwesandaw.

Até pouco tempo era possível subir nos templos para ver os balões passando no céu ao amanhecer e para curtir o pôr do sol. Agora, as escadarias estão fechadas para evitar acidentes e garantir a preservação. Em boa hora.

Pagode Shwezigon.

Templo Gubyaukgyi.

Ananda, o Templo Branco da Dinastia Pagan, data de 1105. É um dos mais bonitos. 
Foi construído em homenagem ao discípulo que melhor guardou os ensinamentos de Buda.

 
 Templo Sulamani construído pelo rei Narapatisithu.

Templo Thatbyinyu é um dos mais altos da Velha Bagan, com 61 metros.

 Pagode Bupaya, um dos mais antigos de Bagan. 
Fica às margens do rio Ayeyarwady. 

Há uma grande questão em pauta com a Unesco para que Bagan faça parte da lista de Patrimônios Mundiais da Humanidade. Isso ainda não aconteceu porque muitos locais foram restaurados sem respeitar as regras arquitetônicas da época, com a utilização de materiais muito diferentes da construção original. 

Nos dias seguintes, alugue uma scooter elétrica, peça um mapa de papel no hotel e saia sem rumo por onde o coração mandar. Não tenha medo de se perder pelas estradinhas de terra cheias de rebanhos e pastores. GPS não funciona, o sinal de wi-fi é péssimo. Mas, as pessoas estão sempre dispostas a apontar o caminho certo e ajudar. Você não terá dificuldade. Desfrute do astral mágico de Bagan. Há muitos templos lindos totalmente desertos que nem aparecem nos mapas.

Explore os templos com calma.

Iza Gawna Pagoda e muitos sorrisos.

Templo Khe Minga.

São tantos templos em Bagan que não dá para saber o nome de todos. 

Sempre haverá boas surpresas no caminho.

DICA: Cubra pernas e ombros para entrar nos locais religiosos, use sapatos fáceis de tirar dos pés, pois eles ficaraõ do lado de fora dos templos e não tire fotos de costas para as imagens de Buda.

Saiba que é preciso pagar um ingresso de 25.000 Kyat para entrar em Bagan Archaeological Zone por 3 dias. Você deve manter o ingresso com você o tempo todo para mostrar nos templos.

VOANDO DE BALÃO EM BAGAN


Aventure-se num passeio de balão. Há várias empresas que oferecem os voos no período seco, de outubro a março, fora da época das monções. Optei pela Balloons over Bagan, num balão com cesta para 8 pessoas.

Passeio imperdível em Bagan.

Também dê uma olhada na Golden Eagle Ballloon e na Oriental Balloon. Uma experiência que vale cada centavo, mesmo não sendo muito barata. Os preços variam de 300 a 450 dólares por pessoa, dependo do tamanho da cesta. Ver o sol nascer a bordo de um balão, com aquela névoa misteriosa encobrindo parcialmente o horizonte repleto de templos é inesquecível.

Ver Bagan do alto é mágico.

A aventura começa bem cedo. Às 5 horas da manhã, antes do raiar do dia, um charmoso ônibus vermelho vintage, que já foi usado durante as guerras, mas que agora exibe astral de paz, passa pelos hotéis para buscar a galera. Ainda no escuro, um café é servido enquanto os balões estão sendo preparados. Já começa o frio na barriga vendo a grande movimentação de inflar os balões ainda no chão.

 Começando os preparativos para o voo de balão em Bagan.

Meu piloto era um senhor inglês muito experiente que transmitia confiança. Depois de embarcar nas cestas, o balão começa a subir cortando a neblina da manhã enquanto o sol desponta no horizonte. Durante uma hora você nem conseguirá piscar. Centenas de templos de todos os tamanhos plantados no chão. Uma cena de filme! Na volta brinde com champagne para comemorar o voo e um belo café da manhã é servido no gramado. Uma experiência sensacional.

 
 Pilotos experientes dão muita segurança durante a aventura.

Voar sobre Bagan é espetacular.

COMO CHEGAR A BAGAN


Depois de passar dois dias em Yangon, meu destino seguinte foi Bagan, a uma distância de aproximadamente 700 quilômetros. O avião é definitivamente a melhor opção. Há várias companhias aéreas internas que fazem esse trecho em voos de pouco mais de uma hora. Escolha entre Mann Airline, Air KBZ, Golden Airline ou Yangon Airline. 

ONDE FICAR MUITO BEM HOSPEDADO EM BAGAN


Os hotéis são rústicos, com atendimento muito simpático e têm preços convidativos. Fiquei hospedada num bangalô encantador, imenso, de frente para um laguinho lindo e para algumas estupas do Parque Arqueológico de Bagan, no Aureum Palace Bagan. Escolha acertada. O hotel tem decoração birmanesa rústica e ao mesmo tempo elegante.

A piscina de borda infinita, voltada para os templos é simplesmente sensacional! Ao lado do hotel, tem uma torre de observação de onde se pode ver o sol nascer e os balões rasgando o céu cheio de neblina. (Aliás essa torre é motivo de grande discussão com os ambientalistas que a consideram fora de propósito para o local.)

Piscina de borda infinita do Aureum Palace Bagan. 

E ao fundo, muitos templos e o Monte Popa. 

Escadaria que conduz ao lobby do Aureum Palace Bagan.

Um bangalô para chamar de meu em Bagan.

Como não amar?

ONDE COMER EM BAGAN

Em New Bagan vá ao Zarchi ain, no número 10 Myat Lay Street e aproveite para fazer uma massagem na casa anexa que pertence a mesma família e vive lotada.

Perto do hotel Aureum Palace, num vilarejo muito simples adorei o restaurante Min Nan Thu onde vivi uma história maravilhosa. Era véspera do meu aniversário. Estávamos sentados numa mesa sob um ombrelone e havia apenas mais uma mesa ocupada no restaurante. Em determinado momento, apareceu um músico com seu violão e começou a tocar virado para nós. Então, acompanhamos o ritmo da canção com batidas de palmas e aplaudimos ao final. O senhor da outra mesa levantou e veio nos cumprimentar. Disse que era o proprietário de um outro restaurante na cidade. Conversa vai conversa vem e ele nos convidou para celebrar meu aniversário no restaurante dele no dia seguinte. Ele foi extremamente gentil. Ao chegarmos lá, além de sermos convidados para o almoço, ele havia mandado fazer um bolo confeitado com meu nome e com velinhas para comemorar meu aniversário. Foi um dia especial e inesquecível. O carinho com que fui recebida no Mianmar vai ficar no meu coração para sempre. Sabe qual o nome do restaurante? Zarchi ain, esse que citei acima e que é considerado um dos melhores de Bagan.

Esses momentos ficam para sempre! 
Obrigada Bagan!!!

QUANDO IR A BAGAN


Opte por ir do final de outubro ao início de março, quando a temperatura está mais amena e fora do período de monções.


Bagan combina religiosidade, beleza e calma.

Bagan é a cidade que melhor traduz a história do Mianmar. É simples, tem uma religiosidade que flutua no ar, pessoas encantadoras de passado sofrido e uma personalidade tão marcante que fica guardada na memória para sempre. Daqueles destinos que levam à reflexão Enriquecedor!

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COMENTÁRIOS

  1. Claudia,

    E o balão? Parece incrível. Mas, não dá um medinho?

    Beijos

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    1. As equipes são muito bem preparadas e transmitem segurança. Não tive nenhum medo do voo de balão. Mas, imagino que haja algum risco, como tudo nessa vida. rsrs
      Bj
      Claudia

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  2. Vou conhecer esse lugar incrível!

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