JERUSALÉM, O ENDEREÇO DA FÉ EM ISRAEL


Há uma força que invade os sentidos. A fé paira no ar em Jerusalém, o epicentro da religiosidade de Israel, a 70 quilômetros da moderna Tel Aviv. Católicos acompanham os passos de Jesus Cristo pelos labirintos estreitos da Via Dolorosa até a crucificação. Judeus deixam seus pedidos nas fendas do Muro das Lamentações onde oram junto aos resquícios do Templo de Salomão. As mesquitas fazem o chamado para as tantas rezas diárias dos árabes que continuam contestando a perda das terras sagradas. E ateus circulam incrédulos sem se incomodar se é sexta-feira/sábado de Shabat, dia de descanso para os judeus, quando tudo para.

Mapa de Israel.

Toda viagem à Israel tem que incluir Jerusalém no roteiro. Uma das cidades mais antigas do mundo, localizada nas montanhas da Judéia, no centro do país, entre o mar Mediterrâneo e o mar Morto. Sua população é de aproximadamente 900 mil habitantes sendo que 65% são judeus, 30 % muçulmanos e a minoria, cristãos. A Terra Santa é considerada sagrada para essas três religiões monoteístas, o que gera uma turbulência histórica.

Jerusalém atrai milhares de turistas do mundo todo. 
Na foto, a entrada da Basílica do Santo Sepulcro.

Mergulhe na energia de Jerusalém sem se importar se os sorrisos não são fartos e se a gentileza demora a chegar. A experiência transcende a esses humores enquanto o judeu ortodoxo passa apressado, o muçulmano fala alto chamando o vendedor de doces árabes, o policial de metralhadora em punho controla a entrada para a Esplanada das Mesquitas e um grupo de senhoras refaz os passos de Jesus pela Via Dolorosa. A espiritualidade dita as regras.

Meninos judeus caminham pelo mercado árabe na Cidade Antiga de Jerusalém.

Jerusalém é a atual capital de Israel. No entanto, israelenses e palestinos disputam a lendária cidade como sua capital. Ramallah, próxima a Jerusalém, é a capital do Estado da Palestina (que é um Estado em Jure), mas eles também reclamam os territórios da Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental enquanto as comunidades internacionais discordam. Um muro divide Israel e Cisjordânia. Para circular entre os dois territórios é preciso ter um carro com permissão para atravessar os check points.

CAMADAS E MAIS CAMADAS DE HISTÓRIA


Jerusalém transpira fé. Do ponto de vista religioso foi o rei Davi quem estabeleceu o Reino de Israel nas terras conquistadas dos jebuseus. O Primeiro Templo erguido em Jerusalém foi ordenado pelo rei Salomão, filho de Davi. O status de “Cidade Santa” foi reforçado com a crucificação de Jesus Cristo, relatada no Novo Testamento. Para os muçulmanos, Jerusalém é a terceira cidade mais sagrada (ficando atrás de Meca e Medina, na Arábia Saudita) pois foi onde Maomé subiu aos céus para falar com Deus, conforme cita o Alcorão. É incrível como um lugar tão pequeno congrega tantos locais sagrados como a Igreja do Santo Sepulcro, o Muro das Lamentações e a Esplanada das Mesquitas.

A força da fé diante do Muro das Lamentações.

Jardim arqueológico junto ao muro de Jerusalém e a cúpula da mesquita de Al-Aqsa.

As muralhas da Cidade Antiga foram construídas em 1538 durante o comando do sultão Solimão, o Magnífico. Nessa pequena área de um quilômetro quadrado convivem “teoricamente em harmonia” judeus, muçulmanos, cristãos e armênios cada um no seu bairro, desde o início do século XIX.

Ae muralhas cercam toda a Cidade Velha de Jerusalém.

Dentro dos muros e nos arredores da Cidade Antiga de Jerusalém há mais de 3 mil anos de história. Essa longa trajetória foi escrita em dezenas de camadas repletas de disputas. Note que o Muro das Lamentações, sagrado para os judeus por abrigar os resquícios do Templo de Salomão, fica no Monte do Templo exatamente onde ficam as mesquitas al-Aqsa e Domo da Rocha sagradas para os islâmicos. Por esse motivo, o mesmo local é chamado pelos árabes de Esplanada das Mesquitas e pelos judeus de Monte do Templo. É um acordo histórico que parece não ter uma solução simples. Além de muitos detectores de metais e militares armados até os dentes, sabe quem ajuda a controlar essas entradas? A Jordânia. Já, o Santo Sepulcro congrega cristãos de várias linhas como greco-ortodoxos, siríacos, coptas, armênios e etíopes. Para evitar conflitos, a entrada da basílica é de responsabilidade dos muçulmanos. Só visitando para entender melhor essa sinuca de bico.

O Muro das Lamentações e ao fundo a cúpula dourada do Domo da Rocha.

A Velha Jerusalém foi indicada como Patrimônio Mundial da Humanidade, o que não aconteceu devido ao contexto de conflitos da cidade. Uma pena.

CONTRATAR GUIA PARTICULAR: SIM OU NÃO

Para fazer uma exploração inicial vale tanto contratar um guia particular para agilizar a visita e ir direto aos locais que sejam do seu interesse pelas ruelas labirínticas; como contratar um tour em grupo com uma das tantas empresas disponíveis; partir sozinho com um mapa e um bom livreto explicativo; ou fazer um tour gratuito a pé em pequenos grupos.

ANOTA AÍ

> Indicação de guias particulares que falam português.

Jaime Fucs: +972 50 767 7948 e-mail jfucs@netvision.net.il
Marcel Berditchevsky: +972 54 831 8353 e-mail marcelberdi@gmail.com
Yoram: +972 50 853 0702 fale por whatsapp
Dalia: +972 54 493 4566 fale por whatsapp

O valor das diárias desses profissionais varia entre 300 e 400 dólares e se precisar incluir carro ou van é acrescido algo em torno de 200 dólares por dia.

> Tours gratuitos: www.neweuropetours.com partem em diversos horários ao dia do Centro de Informações Turísticas, no Portão de Jaffa e ao final você contribui com uma gorjeta no valor que achar conveniente. As pessoas costumam dar entre 30 e 100 Nis. É a alternativa mais econômica.

> Tour em grupo: www.beinharimtours.com

> Indicação de motorista de taxi que fala português e tem permissão para circular entre Palestina e Israel (o que você não pode fazer com carro alugado). Ehab: +972 54 335 4351. Ele prestou serviços por muito tempo para a Embaixada Brasileira em Israel. É uma boa opção para ir às cidades bíblicas históricas de Belém, Jericó, Rio Jordão onde Cristo foi batizado e nadar no Mar Morto. Ele cobra ao redor de 300 dólares por dia. Taxis em Israel são muito caros.

E POR FALAR EM TAXI

Além dos valores serem muito altos, geralmente os motoristas de taxi querem negociar um preço fechado sem usar o taxímetro, o que acaba gerando desentendimento. Portanto, baixe o aplicativo GETT e assim você não terá nenhuma chateação. São os próprios motoristas de taxi que atendem por esse aplicativo, seguindo o taxímetro e você já paga direto no cartão de crédito. Para os percursos mais longos o valor é tabelado.

Não tem UBER em Israel.

CONHECENDO JERUSALÉM


Optei por seguir meus próprios passos no primeiro dia. Circulei sozinha dentro das muralhas da Cidade Antiga para entender os quatro bairros (dos armênios, judeus, muçulmanos e cristãos), já que eu tinha três dias inteiros para conhecer Jerusalém. A área é relativamente pequena, mas de grande importância histórica e de uma força surpreendente. Eu queria ter tempo para degustar cada cantinho sagrado - tanto para os judeus (Muro das Lamentações), como para cristãos (Via Dolorosa) e muçulmanos (Esplanada das Mesquitas: Al-Aqsa e Domo da Rocha) - sem pressa, o que não é possível com um guia ou em um tour.

Local onde Jesus Cristo ficou aprisionado.

Entre na Cidade Antiga por um dos oito portões: Jaffa, New Gate, Zion, Herodes, Damasco, Lions, Golden, Dung e se perca pelos labirintos.

Pelas ruelas da Cidade Antiga de Jerusalém.

Se entrar por Zion Gate você vai cair diretamente no Bairro dos Armênios, o menos movimentado, mais residencial e repleto de igrejas cristãs. De manhã, o movimento maior é das crianças indo para a escola.

Do lado de fora do Portão de Zion vá a Câmara do Holocausto, a Tumba do Rei Davi (um dos personagens mais significativos da Bíblia) e ao Cenáculo, salão onde Jesus Jesus fez a última ceia com os apóstolos, a Santa Ceia.

Câmara do Holocausto.

Próximo ao Portão de Damasco, entre o Bairro dos Armênios e o Bairro dos Judeus recentemente foi escavado e restaurado o Cardo, uma via romana cheia de colunatas que era direcionada à Tel Aviv. O Cardo foi descoberto recentemente, na década de 70. Ele está 4 metros abaixo no nível das ruas e deixa clara a quantidades de camadas históricas acumuladas nessa região.

O Cardo Romano.

Uma pintura na parede ajuda a ambientar o Cardo.

A Sinagoga Hurva fica em frente ao Cardo Romano.

Dali, atravesse algum dos pontos de segurança e vá ao Muro das Lamentações, o epicentro da fé para os judeus. Esse foi o Segundo Templo erguido no local, o Templo de Herodes, o Grande. Sua extensão original era de aproximadamente 500 metros e esse muro de arrimo servia de sustentação para uma das paredes do prédio principal, mas em si mesmo, não integrava o templo que foi destruído pelo General Tito, que depois se tornaria imperador romano nos anos 70. Sua destruição aconteceu há 2 mil anos. Hoje resta apenas um pedaço de muro de aproximadamente 70 metros, voltado para a praça. Mas, de modo impressionante ele mantém sua força.

Menino judeu reza diante do Muro das Lamentações.

DICA: Há uma bilheteria junto ao muro que oferece passeios guiados por túneis subterrâneos sob o muro do Templo do Monte Moriá – Western Wall - por 35 Nis com duração de pouco mais de uma hora. Informe-se pelo site www.thekotel.org.

Bilhete deixado nos subterrâneos do Muro das lamentações.

Rapazes judeus se preparam diante do Muro das Lamentações.

No alto do Monte do Templo, também chamado de Esplanada das Mesquitas pelos árabes estão as sagradas mesquitas Al-Aqsa e o Domo da Rocha, que pode ser avistado de longe com sua imponente cúpula dourada. Elas foram construídas no século VII. Há apenas alguns horários em que não muçulmanos podem visitar as mesquitas pelo lado de fora, mas não podem entrar.

No alto da esplanada a sagrada mesquita Al-Aqsa.

No Bairro Cristão acompanhe a Via Dolorosa desde a Igreja da Flagelação passando por várias estações até chegar ao Santo Sepulcro. A Basílica do Santo Sepulcro é a estação final da via-crúcis, considerada o local mais sagrado para os cristãos por ter sido supostamente onde Cristo foi crucificado, sepultado e onde ressuscitou.

Ao atravessar a porta principal há uma horda de fiéis debruçados sobre uma pedra rosada, a Pedra da Unção, onde Nicodemus e José de Arimateia teriam lavado o corpo de Jesus Cristo e embebido em mirra antes do sepultamento.

Ainda na basílica, a edícula é o epicentro da fé cristã. A pequenina capela, no interior da basílica, envolve a tumba de Jesus Cristo, conforme relatam as tradições bíblicas. No andar superior, uma escadaria sempre lotada de gente, leva ao Calvário. Aliás, a subida por essa escadaria estreita repleta de gente, com degraus estreitos e irregulares, já é o retrato do calvário.

A Igreja da Flagelação marca o ponto inicial da Via Dolorosa. 

Pedra da Unção na Basílica do Santo Sepulcro.

Edícula da Basílica do Santo Sepulcro.

A Via Dolorosa é composta por 14 estações que acompanham o sofrimento de Cristo desde sua condenação ao sepultamento. Percorrer esse trajeto é emocionante. Nos locais sagrados ouve-se orações em coro, pessoas chorando, rezando e alguns grupos de peregrinos refazendo a via-crúcis carregando uma grande cruz pelo meio dos mercados lotados de gente.


A Via Dolorosa acompanha as estações da Via-Sacra.

No bairro árabe, o movimento é intenso. Sob o sagrado domo dourado da Cúpula da Rocha tem um portal que leva ao Souk Al Qattanin, o Mercado dos Mercadores de Algodão, onde muitos visitantes circulam. Ele funciona desde o século XIV. É interessante ver a vida acontecer num tremendo burburinho. O controle para a entrada de não muçulmanos na Esplanada das Mesquitas é rigoroso e os horários bem limitados. Informe-se antecipadamente.

Os mercados árabes vivem lotados.

Saia das muralhas pelo Portão de Jaffa e o contraste do velho com o novo será enorme. O Mamilla Mall com suas lojas de luxo ao ar livre vai te receber com gente jovem circulando. No final do shopping fica o charmoso hotel Mamilla, que não tem como ser mais bem localizado, pois divide seu muro com a Cidade Antiga.

Mamilla Mall.

Fora da muralha, vá ao sagrado Monte das Oliveiras para ter uma vista panorâmica da cidade e visite o jardim Getsêmani. Essa região é linda e tem muitos locais sagrados importantes. Segunda as tradições bíblicas Jesus teria transmitido muitos de seus ensinamentos nesse monte e no dia anterior à sua crucificação ele rezou nesse jardim com seus discípulos e sua angústia era tão profunda que o suor se transformou em gotas de sangue.

Monte das Oliveiras.

Na Cidade Nova visite o Knesset, o Parlamento de Israel, o Memorial do Holocausto Yad Vashem e o Museu de Israel.

Fora do setor religioso há outro mercado árabe que merece uma visita, o Mahane Yehuda. Movimento, cores vibrantes e aromas fortes. Experimente uma fatia de halva, um doce que parece um “torrone” feito com o sumo do gergelim, tome suco de romã feito na hora. Se preferir algo salgado vá de falafel ou de pita com homus. Para almoçar reserve com antecedência uma mesa no concorrido restaurante Mahane Yehuda.

Jerusalém cresceu muito além do muros. Não deixe de ir à antiga estação de trem que conectava Tel Aviv e Jerusalém que hoje virou uma área de entretenimento super charmosa chamada The First Station com vários cafés e restaurantes. Indico o restaurante Adom.

The First Station.

De Tel Aviv a Jerusalém são 70 quilômetros de distância. Taxis costumam custar ao redor de 350 Nis, dependendo do trânsito, que é pesado nas horas de rush. O bilhete de ônibus custa 16 Nis. Alugar carro também pode ser uma boa estratégia para circular pelo país com mais independência e conforto.

BONS RESTAURANTES

Mona
Adom
Chackra
Mahane Yehuda

BONS HOTÉIS

Mamilla. Um hotel moderno, luxuoso e super bem localizado com o selo The Leading Hotels of the World.

Mamilla.

The American Colony. Distante do Centro Histórico, num local mais sossegado e também com o selo The Leading Hotels of the World.

Eldan. Hotel pequeno, descomplicado e simpático, com bom café da manhã, a duas quadras da Cidade Antiga de Jerusalém.

BATE E VOLTA
  • Tel Aviv
  • Palestina (visite Belém, Jericó, Deserto da Judéia e praia de Qalya no Mar Morto)
  • Masada e Mar Morto
  • Nazaré, Tiberias e Galileia
  • Cesareia, Haifa, Acre e Rosh Hanikra
  • Eilat

COM QUAIS PAÍSES A VIAGEM PODE SER CONJUGADA
  • Jordânia
  • Egito, 
  • Líbano 
  • Palestina


MOEDA USADA EM ISRAEL 

Novo Shekel Israelense que tem o valor aproximado do Real Brasileiro
1 real = 0,91 nis
1 dólar = 3,59 nis

Mercados não faltam. Tenha NIS à mão para negociar.

NÃO PERCA EM JERUSALÉM

Cidade Antiga Murada de Jerusalém (Muro das Lamentações, Esplanada das Mesquitas, Via Dolorosa, Cardo Romano)
Monte Sião (Túmulo do Rei Davi e o Cenáculo)
Museu do Holocausto
Monte das Oliveiras e Jardim Getsêmani
Museu de Israel onde estão os Manuscritos do Mar Morto
The First Station

The First Station.

ENFIM

Uma viagem à Israel precisa incluir Jerusalém no roteiro. Jerusalém tem arrastado uma multidão de visitantes aos endereços sagrados tanto para judeus, como para islâmicos e cristãos. Tente passar uma sexta-feira na cidade e você poderá acompanhar as rezas dos muçulmanos, a procissão das 15 horas pela Via Dolorosa e presenciar o início do shabat ao pôr do sol. É uma cidade densa. Um destino forte que mexe com a emoção seja pelo contexto religioso ou pelas disputas históricas. Programe pelo menos 10 dias para conhecer o país com tranquilidade. Use Jerusalém ou Tel Aviv como base e faça vários bate-e-volta.

Shalon!

Booking.com

Compartilhe:

COMENTÁRIOS

  1. Jerusalém é meu sonho de consumo. Que lugar lindo e com sua explicação me deu ainda mais vontade.
    Texto maravilhoso.
    Beijos
    Ana

    ResponderExcluir
  2. Fantástico relato e que viagem!! Obrigado pelas dicas e por compartilhar!

    ResponderExcluir
  3. super na wishlist e seu relato, como sempre, super completo e inspirador

    ResponderExcluir
  4. Jerusalém Jerusalém é o meu sonho conhecer Jerusalém mas eu não tenho condição de viajar até Israel Mas é lindo maravilhoso que o nosso Deus soberano esteja com aquele

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário. Obrigada!