PIKAIA, O SUPER-ECO-LODGE DE GALÁPAGOS

Com o coração acelerado cheguei em Galápagos, um dos últimos redutos intocados do mundo. Pisei na ilha de Baltra, com o pé direito. Enquanto o sol abria um sorriso, uma iguana se debruçava sobre uma pedra praticamente na porta do saguão do aeroporto. Dez minutos à frente, um mar azul escandaloso ofuscava meus olhos e magníficas fragatas pairavam no ar sem pressa. Nesse exato instante, o barqueiro que conduzia a pequena travessia de Baltra à Santa Cruz, anunciava a companhia de um tubarão-tigre. Eu estava entrando num sonho! Meu destino: Pikaia Lodge, ilha de Santa Cruz, Galápagos, Equador.


Pikaia Lodge.

A vitrine da evolução se escancarava a minha frente. Um caldeirão de espécies únicas num arquipélago totalmente formado por atividade vulcânica. O isolamento das ilhas Galápagos, no Oceano Pacífico, favoreceu o desenvolvimento de plantas e animais incomuns, como a iguana marinha, a tartaruga gigante, as aves de patas azuis e os tantos tipos de tentilhões que inspiraram o cientista britânico Charles Darwin a defender a Teoria da Evolução, após sua visita ao arquipélago em 1835. Claro que esse tesouro foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade, pela Unesco. 

Iguana marinha de Galápagos.

Das quatro ilhas habitadas de Galápagos, escolhi Santa Cruz para o meu “batismo evolucionista”. Afinal, um lugar assim tão especial merece uma hospedagem igualmente especial: Pikaia Lodge. Pois acertei no alvo! A começar pelo nome: “Pikaia” se refere ao ancestral mais primitivo dos seres vertebrados, na escala da evolução. Eis nossa origem permeando a filosofia de concepção de um dos lodges mais sustentáveis do mundo.

Lobby do Pikaia Lodge, ao fundo a Árvore da Vida.

O hotel foi projetado para oferecer um serviço diferenciado, de padrão luxuoso, suprindo as necessidades de água e energia dos hóspedes com selo “carbon free”. Opera de acordo com as especificações do programa LEED, de Liderança em Energia e Design Ambiental, do US Green Building Council. Foi exatamente por esse motivo que cheguei a ele quando pesquisava sobre os hotéis mais responsáveis do mundo com o meio ambiente.

O Pikaia Lodge recebeu o Troféu de Sustentabilidade Relais & Chateaux 2021.

Foram exatos 40 minutos de carro do porto de Santa Cruz até chegar ao cone de um vulcão extinto, na extremidade leste da ilha, onde se aninha o Pikaia Lodge. Singular! Meus olhos escaneavam os 31 hectares da propriedade do empresário e cônsul suíço-equatoriano Herbert Frei quando deram de cara com as verdadeiras donas do pedaço. 

O pequenino Pikaia diante da vastidão natural de Galápagos.

Várias tartarugas-gigantes devoravam o veludo verde formado pela vegetação que cobre o pântano. Nem se preocuparam em interromper o almoço para dar as boas-vindas. Afinal, elas chegam a comer 30 quilos de folhas por dia. Algumas pesam inacreditáveis 400 quilos. São imensas, brutas e muito simpáticas. Parecem ter saído diretamente da pré-história. E sabem quantos anos podem viver? Bem, a famosa Harriet, que foi levada por Darwin ainda pequenina, viveu até os 175 anos num zoológico da Austrália. Foi alçada a categoria de celebridade. Basta dizer que entrou para o Guinness, livro dos recordes, como o animal mais velho do mundo. 

As espetaculares Tartarugas de Galápagos.

Passado o encantamento inicial com as tartarugas-gigantes-de-Galápagos, o carro seguiu caminho e logo parou em frente à escadaria do hotel. Fomos recebidos com muita gentileza, sendo os primeiros hóspedes do Pikaia desde o início da pandemia do coronavírus. Mais especial e exclusivo impossível! Todo o staff à nossa disposição por quatro dias.

Piscina de borda infinita do Pikaia Lodge.

Dizem que a melhor maneira de conhecer Galápagos é de navio. E isso funcionou bem para Darwin, porque ainda não existia o Pikaia. O cientista sofreu com enjôos constantes durante a expedição pois Galápagos tem muitas correntes marítimas e o barco balança mesmo. Se dá indisposição? Sim! Até na galera que já está habituada ao balanço do mar.

Em terra firme, o Pikaia Lodge tem design contemporâneo que se mescla harmoniosamente com a topografia vulcânica da região. Sua construção foi feita com o mínimo possível de concreto para não agredir o meio ambiente. Colunas e vigas de aço, um material mais limpo, foram trazidas pré-fabricadas para a propriedade. Nos pisos e paredes foram utilizadas pedras de lava natural da própria ilha, retiradas de regiões autorizadas.

  
Um hotel construído em harmonia com o ambiente natural.

Água é um recurso precioso no arquipélago. Por isso, os telhados do hotel recolhem a água da chuva, que é armazenada em reservatórios de aço inoxidável, para ser aproveitada. As telhas são tratadas sem produtos químicos nem tinta. Para coletar energia há painéis solares e turbinas eólicas. A natureza agradece!

Água é artigo de luxo em Galápagos.

Suas 14 acomodações (12 apartamentos e 2 suítes) são espaçosas, indevassáveis e têm vista tanto para o Parque Nacional de Galápagos como para o Oceano Pacífico. Além disso, os janelões de vidro deixam entrar muita luz natural e um sistema de ventilação ajuda a minimizar a necessidade de ar condicionado. Não precisei de ar em nenhum momento no amplo apartamento. Bastava abrir a porta, manter a tela fechada para evitar a entrada de insetos e a temperatura ficava muito agradável. Aliás, tão confortável e aconchegante que dava vontade de ficar horas na varanda olhando aquele horizonte sem fim debruçado sobre o mar.

A manta da cama do Pikaia Lodge tem o DNA como inspiração.

Como trilha sonora, Nando Reis e Skank dividiam a melodia “Galápagos” com o canto das aves: “nas ilhas de Galápagos, na linha do Equador, no marco zero. Assim que o sol se pôs e a lua despontou no azul do céu...”  

Entardeceres diferentes a cada dia pois o clima muda a todo instante.

Não há outro hotel tão inspirador como o Pikaia em Galápagos. É isso que chamo de luxo! A maioria dos móveis, portas e pisos são feitos com madeira de bambu cultivada de forma sustentável, para evitar desmatamento ilegal no Equador. Os quartos imensos (a partir de 61 metros quadrados) têm camas king-size que abraçam, lençóis e travesseiros deliciosos, máquina de café, chás, frutas frescas, chips de frutas secas, um mini-bar bem equipado e uma bandeja com cálices para servir a bebida alcoólica típica do Equador feita a base de frutas, Espiritu. No quarto você recebe uma mochila para usar nos passeios e uma garrafa de alumínio para água. Mimos que ajudam a cuidar do meio ambiente.

   
Quem não gosta de ser mimado?

E o banheiro? Imenso. Lindo! A banheira, com visual espetacular do vale, pelo janelão de vidro, convida a um merecido descanso no final do dia após as atividades oferecidas pelo hotel. Amenities biodegradáveis, roupão delicioso e pantufas charmosas de lona em tom cru. Conforto e bom gosto.

Banheiro espaçoso em mármore.

Produtos biodegradáveis.

Mas se preferir relaxar no spa garanto que você vai adorar. Tem sauna, sala de atividade física, uma piscina de hidromassagem aquecida e um belo cardápio de tratamentos corporais.

Sumaq Spa.

A piscina de borda infinita é o ponto central do hotel. Ao redor dela tudo se espalha: a charmosa recepção, os salões cheios de obras de arte produzidas pela ex-ministra da cultura Larissa Marangoni, com temas relacionados a evolução das espécies, o delicioso restaurante e o super spa.

A piscina é o epicentro do Pikaia.

Também há um belo trabalho de responsabilidade social. Os funcionários são contratados da própria ilha, há programas de educação estimulando os alunos das escolas próximas a participarem de ações ecológicas e projetos científicos. Muitos produtos utilizados na cozinha do hotel são produzidos na região, inclusive o café, que é delicioso! A maior parte do staff - 85% - é contratada da própria ilha. Pessoas maravilhosas que tornaram a viagem tão especial. 

E por falar em cozinha quero dar destaque aos pratos apresentados com tanto carinho pelo chef Carlos Moran. Uma explosão de sabores com ingredientes fresquíssimos. Um prazer sentar à mesa. A comida do Equador é maravilhosa.

Restaurante da Evolução.

   
Cozinha caprichada do Chef Carlos Moran.

Antes de partir para as aventuras é obrigatório assistir aos 3 episódios do documentário Galápagos 3D, de David Attenborough na sala de projeção do hotel, com direito a pipoca, drinques e óculos 3D. “Em uma vida inteira fazendo filmes de história natural, estive em muitos lugares maravilhosos, mas nenhum mais extraordinário do que Galápagos. Aqui a natureza produziu suas maiores experiências, pois a vida nas ilhas evoluiu de forma isolada”, diz Attenborough. 

Lounge Homo Sapiens.

Devido à sua localização central, o Pikaia é uma excelente base para explorar o arquipélago. As possibilidades são muitas tanto por terra como pela água. Há trilhas lindas de caminhada que partem do hotel; as praias Brava e Mansa de Tortuga Bay (uma belíssima reserva de tartarugas e iguanas marinhas) podem ser alcançadas de bicicleta; vale visitar o vilarejo de Puerto Ayora (se quiser comer por lá vá ao restaurante Muelle de Darwin ou a Galapagos Deli); visite a Estação Científica Charles Darwin onde há um centro de criação de Tartarugas Terrestres Gigantes e vá até a belíssima praia El Garrapatero.

Puerto Ayora.

Iguanas marinhas na Playa Brava.

Estação Científica Charles Darwin, Puerto Ayora.

Como muitos dos encantos de Galápagos só podem ser alcançados pelo mar, o Pikaia tem um yacht próprio de 105 pés, com oito cabines, capacidade para 16 passageiros muito bem acomodados, para passeios diurnos, com uma tripulação maravilhosa, formada por nativos das ilhas. Tem equipamentos de mergulho e roupas de neoprene.

M/Y Pikaia Yacht.

Nos passeios de barco pela ilha, Luis Rodriguez, o guia naturalista mais famoso de Galápagos parece uma enciclopédia ambulante. Não deixa uma pergunta sequer sem resposta. Sabe muito! É um observador sagaz e um grande apaixonado pelo arquipélago. Com ele, exploramos a ilha de Seymour Norte, onde observamos colônias de fragatas magníficas do papo vermelho na época do acasalamento, patas azuis cuidando dos seus filhotes, iguanas ao sol e lobos marinhos com bebês recém nascidos.

Fragata do Papo Vermelho em época de acasalamento.

Patas azuis com filhotes.

Iguana terrestre.

Colônia de lobos marinhos.

   
De bote descendo do yacht em Seymour Norte.

A proximidade com os animais é muito grande. Eles são de uma inocência ecológica incrível, pois não têm predadores terrestres. Por isso são extremamente relaxados. E depois de oito meses sem receber turistas estavam ainda mais tranquilos. 

Aproveitamos o dia ensolarado para mergulhar de snorkel em Las Bachas com cardumes de peixinhos coloridos, iguanas e tartarugas marinhas. Muitos patas azuis, pousados sobre as pedras vulcânicas, observavam nossos movimentos sem medo nenhum enquanto um flamingo solitário encarava o lanchinho da tarde. Daquelas experiências que não tem preço! 

Flamingo.

Cardume de peixinhos coloridos.

Luis Rodriguez, o guia naturalista mais famoso de Galápagos.

Iguana marinha ao sol. Elas não têm nenhum receio da proximidade.

   
Experiência inacreditável! Galápagos é sensacional!

PARA ENTRAR EM GALÁPAGOS

Nesse momento de pandemia é preciso apresentar teste PCR negativo feito até 96 horas antes da chegada, passaporte com validade de 6 meses, certificado internacional de vacina contra febre amarela, pagar taxa de entrada de 50 dólares por pessoa referente ao Pacto Andino ou MERCOSUL (para americanos e europeus o valor é o dobro), além de uma taxa de 20 dólares para o controle de trânsito em Galápagos.

QUANTO TEMPO FICAR

Recomendo pelo menos 5 dias, mas considero 8 dias o ideal para circular pelo maior número de ilhas. Se puder ficar 10 dias, ainda melhor.

PARA CHEGAR NO PARAÍSO 

Chegar em Galápagos por sorte não é fácil. O paraíso agradece. O Pikaia Lodge fica na ilha de Santa Cruz e pode ser acessado por voos a partir de Guayaquil ou Quito, no Equador, que pousam no Aeroporto de Baltra. 

A partir daí é preciso tomar um ônibus (trajeto de 15 minutos) até a marina de onde saem pequenas embarcações que conectam as duas ilhas, separadas por um estreito braço de mar (trajeto de 10 minutos). 

Nesse ponto, contrate o transfer do hotel que levará mais 40 minutos até o destino final. Assim, você chegará a um dos últimos redutos intocados do planeta. Apenas 3% de Galápagos é habitado, o restante é Parque Nacional controlado com bastante rigor.

Galápagos é emocionante. Um poema de amor à vida!

Com essa experiência no Pikaia Lodge, Galápagos entrou para minha lista de TOP 10 DESTINOS MAIS EXCLUSIVOS DO MUNDO.

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COMENTÁRIOS

  1. Que sonho, Claudinha! Galápagos acabou de entrou para a minha lista de desejos. E esse hotel é de outro mundo. Maravilha!!!

    Beijos nórdicos da Ka!

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  2. Fotos lindas. Mas dá para chegar assim tão perto dos animais mesmo? É fácil encontra-los? Ou é como fazer safari que pode ser que dê sorte... ou não...

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