GALÁPAGOS A BORDO DO YACHT LA PINTA
Sim! “Navegar ‘em Galápagos’ é preciso!” Certamente essas teriam sido as palavras de Fernando Pessoa se tivesse tido a chance de fazer uma expedição ao extraordinário arquipélago equatoriano. Afinal, esse conjunto de ilhas vulcânicas - diferente de tudo que seus olhos já viram - é formado por 19 ilhotas e 13 ilhas maiores (sendo 4 delas habitadas), a mil quilômetros da costa do Equador. Poucos lugares do mundo conseguem ser tão impactantes. É um verdadeiro universo paralelo, com apenas 3% do seu território habitado. Os outros 97% são protegidos e neles habitam animais exóticos dotados de uma inocência emocionante. Sem barco... nada feito.
Depois de muito pesquisar sobre o Equador me deparei com o Yacht La Pinta, um dos três barcos pertencentes a Metropolitan Touring, uma empresa fundada no país em 1953, pioneira no turismo sustentável e nas expedições para Galápagos. Opa! Uma luz verde sinalizou o caminho.
A Metropolitan Touring nasceu de uma parceria com o Governo do Equador para que o arquipélago fosse protegido dos ataques frequentes de piratas na região. Assim, as ilhas foram designadas como o “Primeiro Patrimônio Natural da Humanidade” e o turismo foi a ferramenta adotada como malha de proteção. Essa costura me chamou atenção.
Além dos barcos La Pinta (para 48 passageiros), Isabela II (para 40 passageiros) e Santa Cruz (90 passageiros) que operam em Galápagos, a Metropolitan Touring é uma holding que também tem o hotel Finch Bay, na ilha de Santa Cruz, em Galápagos, e os premiadíssimos Casa Gangotena, um belo Relais & Chateaux no centro histórico de Quito e Mashpi Lodge, na floresta nublada do Equador (a três horas de Quito de carro).
Assim comecei a desenhar meu roteiro incluindo uma parada no Casa Gangotena e uma esticada até o Mashpi Lodge, além de passar 10 dias em Galápagos. Acertei nas escolhas. Tive o prazer de viver experiências marcantes. O Equador conseguiu me surpreender muito além do que eu poderia supor.
Para explorar o mar de Galápagos, o Yacht La Pinta é perfeito. Sabe por quê?
Por ser um dos menores navios a operar na região, o que significa exclusividade. Por levar seus passageiros a locais que não são compartilhados com outras embarcações e isso faz com que os animais estejam mais relaxados. Por oferecer explorações com grupos reduzidos de no máximo 11 pessoas acompanhadas por guias naturalistas especializados. Por apresentar diariamente em palestras de história natural, com recurso multimídia, o que será visto no dia seguinte. Por ter um médico de plantão a bordo 24 horas por dia. Por ser um cruzeiro sustentável e preocupado com o impacto ambiental. Por ter design contemporâneo (foi renovado recentemente). Por ter cabines amplas. Por ter amenities L’Occitane (que amo!). Por ter uma jacuzzi aquecida no deck superior com vista espetacular. Por ter academia. Pelos drinques deliciosos. Pelo serviço gentil da equipe. Por ter atividades para todos os gostos: caiaque, stand up paddle, barco com fundo de vidro, mergulho com snorkel (com todo o material disponível) e com sorte na companhia de curiosos lobos-marinhos, iguanas, tubarões-martelo, tartarugas, peixinhos coloridos e pinguins. E além disso, por exigir PCR negativo para todos os passageiros embarcados. Uma segurança a mais nesse momento tão delicado que estamos vivendo.
O Yacht La Pinta tem 24 cabines e oferece roteiros exclusivos de 5 dias (pelas ilhas do norte ou pelas ilhas do leste), 7 dias (pelas ilhas do lado oeste) ou 9 dias (norte + leste). Escolha o itinerário com a ajuda do seu coração e saiba que quanto mais tempo puder ficar em Galápagos, mais feliz você voltará.
ROTEIRO DE 5 DIAS PELAS ILHAS LESTE
DIA 1. Baltra e ilha Plaza Sul
DIA 2. Ilhas de Santa Fé e San Cristobal
DIA3. Ilha de San Cristobal
DIA 4. Ilha Española
DIA 5. Ilha de Santa Cruz e Baltra
Optei pelo roteiro de 5 dias pelas ilhas leste (Ilha de Baltra, Ilha Plaza Sul, Ilha Santa Fe, Cerro Colorado e Punta Pitt na ilha San Cristobal, Punta Suarez e Bahia Gardner na ilha Española, ilha Santa Cruz) pois fiquei 4 dias em terra no Pikaia Lodge, na ilha de Santa Cruz antes de embarcar nessa aventura “al mare”. Mas quer saber? Se pudesse voltar no tempo escolheria o roteiro completo de 9 dias. Galápagos é um sonho! Uma daquelas viagens que mexe com qualquer um e traz muitos ensinamentos.
Com mais de seis milhões de anos, o arquipélago de Galápagos se formou devido a erupções vulcânicas ocorridas no Pacífico. A vida que floresceu por ali encontrou caminhos muito diferentes dos outros lugares do mundo. O isolamento permitiu com que a fauna e a flora ganhassem características únicas. Tanto que serviu como fonte de inspiração para a Teoria da Evolução descrita por Charles Darwin. Esse fato por si só já faz a viagem valer a pena. Por isso, costumo dizer que o mundo é uma escola.
Embarquei na Ilha de Baltra para uma das aventuras mais impactantes da minha vida. Navegar pelas águas turquesas de Galápagos, que contrastam com as terras vulcânicas do arquipélago, é estarrecedor. Uma paisagem singular. Na primeira parada do cruzeiro, descemos em pequenos grupos, de bote, na ilha Plaza Sul para um trekking. A caminhada foi sobre rochas negras contornadas por uma vegetação rasteira de cor avermelhada. Vez ou outra grandes cactos cortavam o caminho. Imensos! Na sombra, iguanas terrestres de Galápagos buscavam os frutos caídos. Já, os lobos-marinhos faziam algazarra à beira-mar enquanto dezenas de aves, entre elas gaivotas de cola bifurcada e patas azuis, cuidavam de seus ninhos e de seus filhotes. De chorar de emoção.
Vale lembrar que estive em Galápagos no final do mês de novembro. Época espetacular tanto por ser período de reprodução de muitas espécies como em relação a temperatura. E, por ser baixa temporada.
De volta ao barco, a rotina se repetia deliciosamente. Drinques ao pôr do sol, hidromassagem na jacuzzi, palestras com os guias naturalistas e um jantar leve para sonhar com as aventuras que estavam por vir no dia seguinte.
Próxima parada: Ilha Santa Fe, a 24 quilômetros da costa de Santa Cruz. É interessante como cada cantinho de Galápagos guarda um mistério. Nessa ilha vivem as iguanas terrestres de Santa Fe. Uma espécie endêmica que vive apenas nessa ilha. Elas são herbívoras mas eventualmente comem insetos, sua coloração é amarelo-alaranjada, tem o focinho mais afilado e espinhos dorsais menores do que as demais espécies. Parecem estar sempre sorrindo. As iguanas de Santa Fe são as maiores estrelas da ilha, mas durante a caminhada vários gaviões de Galápagos se exibiam nos galhos dos arbustos enquanto os bebês lobos-marinhos mamavam sem se preocupar com nossa presença.
Ainda deu tempo para um rolé de meia hora de caiaque, pelas águas cristalinas de Santa Fé antes do almoço ser oferecido. Pela tarde, depois de 3 horas de navegação e um pouco de enjôo com o balanço do mar (sim! o mar tem muitas correntes) descemos em Puerto Baquerizo Moreno, na ilha de San Cristobal. Demos uma pequena caminhada pelo vilarejo onde está nascendo um hotel Six Senses que promete trazer novos ventos ao arquipélago e de ônibus, por terra, em 40 minutos chegamos ao Cerro Colorado para visitar um centro de criação de tartarugas-gigantes. Essa espécie terrestre está em risco de extinção. São as maiores tartarugas existentes no mundo podendo chegar a 400 quilos.
Leia o livro Sapiens, o Nascimento da Humanidade, de Yuval Harari antes de ir à Galápagos para entender melhor sobre a singularidade da evolução das espécies e a importância do arquipélago como testemunha. A versão de Sapiens em quadrinhos encerra com uma audiência interessante, onde Harari aborda de forma ilustrada a extinção de muitas espécies de grande porte, como os mamutes e os cangurus gigantes, com a chegada do homo sapiens. Os animais tinham uma certa inocência ecológica por não conhecerem o poder devastador dos humanos e se deixavam abater com facilidade, apesar do seu tamanho. Observe que na África e na Ásia, alguns animais gigantes ainda existem, pois aprenderam a temer e fugir dos humanos. Mas, em termos evolutivos, esse comportamento demora muito a mudar. Os animais da Oceania e das Américas não tiveram tempo suficiente para aprender a se defender e muitos foram extintos. As ilhas Galápagos por serem remotas e por não terem sido habitadas até o século XIX foram poupadas. Assim mantiveram sua fauna preservada até a idade moderna. Nessa época, as tartarugas-gigantes quase foram extintas com a chegada do homem, que agora tenta reverter a situação. Isso explica a tal inocência dos animais em Galápagos e o motivo de se poder chegar tão perto deles, sem que eles tenham medo. Praticamente não tem predadores terrestres. Viajando e aprendendo.
Punta Pitt, na ilha San Cristobal é um lugar perfeito para mergulhar na companhia de jovens lobos-marinhos, peixinhos, tubarões e tartarugas. Também há uma trilha entre ninhos de patas azuis, piqueros de Nazca, patas vermelhas e gaivotas de cola bifurcada que leva ao topo de uma montanha onde se tem um visual incrível. Cada passo traz uma surpresa. Muita beleza e muita vida. Ainda em San Cristobal, ilha lindíssima, vale conhecer Cerro Brujo a praia de corais brancos onde Darwin desembarcou em setembro de 1835.
A cada amanhecer, novas surpresas. Ao chegar na ilha Española fomos recebidos por um cardume de mais de 300 golfinhos. Eles acompanharam o bote até a praia, fazendo piruetas. Daqueles momentos mágicos. Ao desembarcar uma centena de iguanas marinhas se preparava para entrar no mar em busca de uma refeição. Como não se emocionar diante da simplicidade e da perfeição da natureza? Um trekking de arrepiar nos levou até o famoso “soplador”, onde uma fenda na pedra faz a água jorrar a muitos metros de altura, como um gêiser.
Para encerrar com chave de ouro, no dia seguinte, de volta a ilha de Santa Cruz, a despedida de Galápagos aconteceu na Estação Científica de Charles Darwin, onde as tartarugas gigantes são estudadas, criadas e preservadas.
Com lágrimas nos olhos e já sofrendo de saudade embarquei no ferry com destino ao aeroporto de Baltra, o primeiro aeroporto ecológico do mundo, onde os tentilhões que tanto inspiraram Darwin insistiam em compartilhar comigo, sem o menor constrangimento, o lanche oferecido na sala VIP. Os animais realmente não tem medo do contato com os humanos. Maravilhoso! Confesso que eu não estava pronta para partir...
Próxima parada: Quito. Hotel: Casa Gangotena.
Uma viagem memorável. De muito aprendizado. Recomendo que seja feita pelo menos uma vez na vida.
Que texto!!! Que fotos! Que lugar incrível! Quero conhecer. Obrigada por compartilhar essas experiências e parabéns pelo teu trabalho.
ResponderExcluirFabi! Obrigada. Tem que levar o Martin. Galápagos é sensacional. Puro aprendizado. Que lugar ímpar no mundo. Um beijo enorme.
ExcluirRealmente, um texto muito inspirador! Não tinha pensado em Galápagos como destino de férias. Agora, por sua culpa, já quero ir! Obrigado por nos inspirar!
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