NO EMBALO DE CARAÍVA

Era uma vez um vilarejo tranquilo no extremo sul da Bahia, nascido em terras indígenas, por volta de 1530, após a chegada dos primeiros portugueses no Brasil. A pequenina Caraíva se acomodou em uma estreita língua de areia entre o rio e o mar. Desde então, os dias aconteciam anônimos, sem pressa, em torno da pesca e da exploração de madeira, em total isolamento, sem luz elétrica, de modo rústico e singelo. Até que na década de 70 chegaram os primeiros visitantes. Eram os hippies de Trancoso que caminhavam quilômetros pela praia até chegar ao pacato povoado. Acabaram por revelar o destino. Pouco a pouco, aquele refúgio até então parado no tempo, que ganhou luz elétrica apenas em 2007, começou a chamar atenção e se tornou um destino descolado, jovem, badalado, cheio de restaurantes, bares e com inúmeras pousadinhas.


Caraíva.

Muita gente sonha em deixar o carro estacionado em Nova Caraíva, de onde ele não pode continuar, e atravessar o rio de canoa, com a mala em punho, para descer na margem oposta já de pés descalços. Mas o que você precisa ter em mente é que o turismo num lugar tão especial como esse precisa de muito respeito.

Chegada de canoa em Caraíva.

ENTÃO VAMOS COMEÇAR PELA TAL DA MALA

Desapegue. É exatamente esse o primeiro ensinamento de Caraíva. Você precisará de muito pouco para ser feliz. Roupas leves: biquíni, maiô, saída de praia, vestidos coloridos, chapéu, óculos e uma sandália que encare sem medo as vielas de areia. Salto alto está fora. Produções mega elaboradas não fazem o menor sentido. A elegância está exatamente em ter sintonia com a simplicidade. 

Entre em sintonia com Caraíva.

Agora vamos mais longe nessa análise... Ao desembarcar em Caraíva haverá oferta de “Juber” ou seja carroça puxada por jumento para levar as malas. Pense duas vezes. A maioria dos burricos trabalha exaustivamente. Animais bem tratados me enchem de felicidade, mas esse não é o caso. Vi alguns mancando, com o pelo machucado, totalmente suados pelo esforço, magrinhos, visivelmente tristes. Portanto, leve o peso que você mesmo consegue carregar ou contrate um carregador com carrinho de mão. Seja consciente.

Ajude os burricos a viverem felizes.

LÁ VEM OLAVO

Com a carinha pintada de azul, todos os dias eu encontrava aquele burrico solto, passeando a seu bel prazer pelas ruas de Caraíva. Seu nome. Olavo. No dia seguinte, ao passar por ele, chamei. Levei até um susto quando aqueles olhos brilhantes me fitaram com doçura. Gordinho e saudável, sua história teve final feliz. Depois de puxar uma carroça pesada por anos, ele foi abandonado pelo dono por estar sem forças, magrinho, supostamente no fim. Duca, uma moradora de Caraíva, passou a cuidar dele. Todas as manhãs o alimentava em seu restaurante. Com carinho, Olavo se recuperou. Então, o antigo dono resolveu colocá-lo no serviço novamente. Mas sua fada madrinha não deixou. Comprou Olavo, pintou sua cara de azul para que ele fosse facilmente reconhecido por todos e assim ele virou um símbolo de liberdade em Caraíva. 

Esse é Olavo.

Por sorte alguns projetos vem sendo discutidos para eliminar as carroças e substituir por algum tipo especial de carrinho elétrico já que veículos motorizados são proibidos.

PARA SE SENTIR EM CASA

Tem muitas pousadas charmosas em Caraíva. Mas acordar tendo o mar ao alcance dos olhos e a dois passos da porta do quarto é um privilégio. A pousada Cores do Mar é pé na areia, num ponto bem central. Tem apenas 12 acomodações de decoração rústica, em bangalôs branquinhos e a piscina mais bonita de Caraíva no meio de um gramado imenso, aconchegada na sombra de coqueiros. A equipe é muito gentil e faz com que os hóspedes se sintam acolhidos. O café da manhã é delicioso. Outro ponto alto é a academia de cross fit. Muito bem equipada e toda aberta. A Cores do Mar é pet friendly e aceita day use no seu Beach Club. Um lugar que faz todos se sentirem em casa.

Pousada Cores do Mar à beira-mar.

  
A piscina mais charmosa de Caraíva.

Bangalô térreo da Pousada Cores do Mar.

Outra dica bacana é a Casa Hotel Le Paxa, exatamente ao lado da Cores do Mar. Tem apenas dois bangalôs rústicos tranquilamente acomodados numa propriedade imensa, praticamente um sitio à beira-mar. A decoração das acomodações é muito caprichada. A Le Paxa ainda não reabriu as portas desde o início da pandemia. Como Caraíva não tem hospital, e sim apenas um pequeno posto de saúde, o proprietário francês, optou por esperar mais um pouco. 

Le Paxa.

Aliás, leve em conta que se você precisar de algum auxílio médico terá que ir a Eunápolis ou Porto Seguro. Tenha consciência coletiva. Use máscara, evite aglomeração e fuja das festas clandestinas de Caraíva.

Outra pousada que visitei e achei muito simpática é a Villa Fulô Caraíva. Ela tem sete acomodações próximas da praça da igreja, numa ruazinha simpática. A decoração é linda e em sintonia com a cultura local. Muito charmosa. Mas não é pé na areia.

A praça da igreja é um dos pontos mais charmosos de Caraíva.

PARA EXPLORAR A REGIÃO

Caraíva é banhada tanto pelo mar como pelo rio. A principal característica do vilarejo é exatamente esse encontro do rio com o mar. Então, escolha uma barraca na PONTA DA BARRA, dê um mergulho no rio, tome uma caipirinha no cacau e entre no clima de Caraíva. Na outra margem do rio o Beach Tênis é a estrela. Atravesse de barco e divirta-se.

Ponta da Barra.

Se tiver disposição para boas caminhadas vá até a PRAIA DO SATU. São 3 quilômetros até o animado Beach Club do Satu com música alta e badalação. Caso o sossego seja sua prioridade ande mais 3 quilômetros (no sentido de Trancoso) e chegará na PONTA DE JUACEMA, uma enseada belíssima e selvagem cercada por falésias. Canoa havaiana é boa opção para ir de Caraíva até a Ponta de Juacema. Quer saber se tem hotel por ali? Tem sim: Fazenda Ponta de Juacema. Super exclusivo com apenas 5 bangalôs sobre a falésia. Vale uma experiência. 

Ponta de Juacema.

Praia do Satu.

Nas noites de lua cheia, muita gente faz o trajeto de Caraíva  até a Praia do Espelho pela praia. São 10/11 quilômetros, tendo um trecho sobre a falésia. Belíssimo. Vale consultar a Tabua de Marés para não passar aperto. Se quiser ficar hospedado na praia do Espelho recomendo as pousadas Bendito Seja, Maion e Cala e Divino. 

Praia do Espelho.

No sentido oposto, em direção a Corumbau a praia se estende a perder de vista por mais de 10 quilômetros. Há muitas piscinas naturais pelo caminho e quase ninguém, já que o burburinho se concentre na altura do rio Caraíva. 

Corumbau.

Dá para ir de buggy até o rio Corumbau e atravessar de barco até o povoado pataxó de Corumbau. Aliás recomendo ficar 3 ou 4 dias (pelo menos) na Fazenda São Francisco do Corumbau. Um luxo!

Outro lugar que virou point no pôr do sol é a PRAINHA. Vá de barco rio acima ou caminhe 20 minutos no sentido do bairro Xandó (1,5 km por estradinha de areia) para curtir o pôr do sol. Há um bar na prainaha. Vá depois de 15 horas e volte de boia pelo rio ao entardecer.

Prainha.

Lembre-se de recolher seu lixo. O lixo é um problema sério em Caraíva, especialmente na alta temporada, pois a coleta é difícil e todos precisam ajudar. Especialmente nessa caminhada até a Prainha fiquei chocada com a sujeira. Tenha cuidado com micoses e bicho-de-pé. Nem tudo é cor de rosa na Costa do Descobrimento. As dores do crescimento são inevitáveis. Além da dificuldade na coleta de lixo pelas ruelas de areia do povoado, o saneamento básico ainda é precário. Nem todos os estabelecimentos têm fossa ecológica, o risco de contaminação do lençol freático é grande. 

O povoado pataxó cresceu.

OS MELHORES BEACH CLUBS

Para aqueles dias em que você só quer sombra e água fresca escolha um beach club com boa estrutura para curtir o dia. Abaixo algumas dicas:

Cores do Mar Caraíva

Vila do Mar Caraíva

Pousada Coco Brasil


PARA JANTAR OU “ALMOJANTAR”

ODARA. Restaurante novo que já figura entre os melhores do vilarejo, serve drinks elaborados e pratos lindos de cozinha contemporânea. Destaque para a salada de grãos e para o polvo.

   
Restaurante Odara.

JACARANDÁ. Numa casa charmosa, o restaurante serve pratos muito bem apresentados e saborosos. O cardápio muda com frequência, acompanhando a sazonalidade dos produtos. Serviço gentil.

Jacarandá.

KOA. Restaurante do ator Marcelo Faria mas estava fechado quando estive em Caraíva. Muitos elogiaram. Fica a dica.

CARAÍVA CACHAÇARIA. Não tive tempo de experimentar, mas foi muito bem recomendado e pelo astral parece mesmo delicioso. 

BAR DO PORTO. Debruçado sobre o rio, tem visual charmoso, bons drinks e pizzas feitas em forno de barro. Ótimo para curtir o por do sol no fim da tarde.

Bar do Porto.

COMUNE. Badalado, tem comida deliciosa, astral festivo, bons drinks e gente bonita. Peça a burrata. Também legal para o pôr do sol.

BOTECO DO PARÁ. Tem mesas ao ar livre, na sombra das árvores e vive lotado. É famoso pelo pastel de arraia e pela cerveja da casa. Concorrido no pôr do sol, pois fica às margens do rio.

Boteco do Pará.

E por falar em pastel, a galera local adora o BOTECO DO VÂNIO em Nova Caraíva. A sugestão é pedir uma caipirinha de cajá com pastel. 

FUXICO PÓS JANTAR 

Está pensando que ao escurecer o povoado se recolhe? Nada disso. Mesmo com iluminação precária, o vilarejo é pequeno, dois quilômetros de caminhada para dar a volta completa. Então, acione a lanterna do celular e tome o rumo de algum dos tantos bares da praça da igrejinha ou o Beco da Lua. Mas, evite aglomeração. Opte por mesas afastadas e lugares abertos.

Beco da Lua.

COMO CHEGAR

A aeroporto mais próximo de Caraíva é o de Porto Seguro. O trajeto até lá é feito em duas horas ou mais de carro sendo parte em estrada asfaltada e parte em estrada de terra. Tem a possibilidade de reduzir caminho atravessando de balsa até Arraial D’Ajuda, mas a espera para fazer a travessia pode ser demorada e nem compensar. Mas qualquer que seja a rota, ao chegar em Nova Caraíva é preciso deixar o carro estacionado e então atravessar o rio Caraíva de canoa. São cinco minutos até o vilarejo-sonho. 

Caraíva.

ENFIM...

Caraíva é um pequenino povoado onde vivem nativos da região pataxó e pessoas que fugiram da cidade grande em busca de tranquilidade. Não há motos nem carros, esteja preparado para caminhar nas ruas de areia. É tudo pertinho. No máximo serão dois quilômetros para contornar a simpática vila adornada por casinhas coloridas e cercada de água por todos os lados. Caraíva não tem banco, nem caixa eletrônico. Muitos estabelecimentos aceitam cartão de crédito e débito, mas leve dinheiro. O melhor sinal de celular é da operadora Vivo, se ficar desconectado relaxe e entre no clima. Afinal, Caraíva é um convite à calma. 

Cuide bem de Caraíva!

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