O MELHOR DE JERICOACOARA

Já faz mais de vinte anos que atravessei, de jardineira, pela primeira vez, aquelas dunas belíssimas com destino ao pacato povoado de Jericoacoara, depois de encarar 300 quilômetros de chão desde Fortaleza. A paixão foi imediata. Um vilarejo de pescadores sossegado, isolado à beira-mar, movido pelo embalo das ondas e do vento. Ainda nem era cultuado pelo turismo. Seu charme rústico saltava aos olhos e flechava o coração em questão de segundos. Tanto que voltei muitas vezes para a paz de Jeri.

Naquela época, as casas do vilarejo eram habitadas quase que somente pelos nativos. Os barcos de pescadores chegavam cedinho com o alimento das famílias. Crianças brincavam livremente pelas ruas de areia. Senhoras vendiam seus pastéis caseiros de arraia. A dificuldade de acesso era garantia de isolamento. Mas, um dia, “Jeri” entrou para o rol das “praias mais bonitas do mundo” e muita gente descobriu o segredo. 

O pequeno vilarejo foi alçado a categoria de celebridade. Muita coisa mudou com o aumento do movimento, claro. No entanto, sua essência se mantém. Os sorrisos seguem fartos, as ruas continuam sem asfalto, carros não podem circular no centrinho, a maré dá as ordens na paisagem, os jegues vivem soltos pelas dunas, a simplicidade impera e os ventos são constantes de julho a dezembro trazendo os amantes dos esportes de mar e vento para o vilarejo. Ou seja, com todo esse charme, “Jeri” segue figurando na lista de destinos-sonho de muita gente.

TERRA DO VENTO

Foi em 1995, na mesma época em que conheci Jericoacoara, que um grupo de velejadores em busca por lugares paradisíacos para viver experiências marcantes no mar, se deparou com a geografia perfeita da costa cearense, de ventos constantes. Eles fincaram raiz na chamada Terra do Vento e desde então fazem o possível para preservar a alma do que encontraram ao chegar, a hospitalidade genuína de uma gente rica de tradições e de sabedoria popular.

Pelas mãos deles, a Vila Kalango veio ao mundo em 1999, conectada com a cultura nativa do povoado, integrada à natureza e imbuída de responsabilidade com o meio ambiente. Sua localização é privilegiada, a alguns passos da duna do pôr do sol, de frente para o mar, numa área de 5 mil metros quadrados cheia de coqueiros e cajueiros nativos. Um verdadeiro oásis de tranquilidade e bem-estar.

Na construção da pousada foram usadas madeiras reaproveitadas, como cumaru, maçaranduba, e até cascas de coco do próprio jardim. A arquitetura favorece a circulação do vento de modo que o ar condicionado seja dispensado. Dormir com as venezianas entreabertas, em uma cama king size imensa, com excelentes lençóis e travesseiros, protegida por um grande mosquiteiro, tendo o frescor da brisa do mar, é uma delícia.

Suas 24 acomodações, divididas em palafitas, bangalôs e apartamentos, convidam os hóspedes a se sentirem em casa, com muito conforto, ao mesmo tempo em que oferecem uma experiência da “Jeri original”. A decoração é interessantíssima e prioriza objetos rústicos feitos por artesãos locais. A gastronomia segue a mesma linha. Os sabores do Ceará dominam a mesa do café da manhã ao jantar, com ingredientes locais frescos, muita criatividade e toques da cozinha mediterrânea, no restaurante Vila K.

Mimos não faltam. Ao entardecer, uma lenda da região é enviada aos hóspedes por WhatsApp, diariamente, junto com um recado de boa noite que anuncia a chegada de um docinho. Detalhes que fazem a diferença. A Vila Kalango é muito elegante.

Como já citei acima, Jericoacoara faz parte da Terra do Vento, que vai do Ceará ao Maranhão, passando pelo Piauí, e se consagrou como a “Meca dos Esportes Náuticos”. Atrai turistas interessados tanto na sua beleza natural como também os apaixonados pelos esportes de vela, vindos de todas as partes do mundo. Por isso, a Vila Kalango fez uma parceria com a escola Tico Wind, criando o primeiro Water Sports Center do Nordeste. Oferece toda a estrutura para quem quer velejar, surfar, aprender modalidades novas do kite e do windsurfe como “wind foil” e “wing foil”. 

Além de Jericoacoara, outro importante ponto para os esportes de velejo é a praia do Preá, 12 quilômetros ao leste de Jeri. No Preá, as pousadas Rancho do Peixe e Preabeach Villas, também têm espaço dedicado aos esportes náuticos e de vela, estando preparadas para auxiliar desde os iniciantes aos atletas de nível avançado, com profissionais reconhecidos. Vale lembrar que em 2024, o kitesurfe na modalidade “foil” será disputado nos Jogos Olímpicos de Paris.

E-GROUP HOTELS

A Vila Kalango inspirou a criação do e-group, uma aliança de pousadas e hotéis que respeita a natureza e a cultura local oferecendo uma hotelaria de nível internacional. Quando você opta por se hospedar em alguma propriedade do grupo garante automaticamente um padrão de qualidade chancelado por ele, com extremo conforto e bem-estar. 

O e-group está genuinamente atrelado aos esportes de mar e de vento. É especialista em proporcionar experiências memoráveis combinando esportes náuticos, bons hotéis e bem-estar sob a filosofia de “essential experience”, a qual se refere a um conjunto de sensações e percepções que tem a força de eternizar momentos. Por isso, busquei o time da e-group para desenhar meu roteiro slow travel de 30 dias pela Rota das Emoções, indo do Ceará ao Maranhão. Meu ponto de partida foi Jericoacoara, onde fiquei hospedada no sensacional Vila Kalango por cinco dias. 

Veja o ROTEIRO COMPLETO AQUI.

O MELHOR DE JERI

Jericoacoara está estrategicamente posicionada em frente ao mar e ao lado de dunas espetaculares. Portanto, as praias são sua principal atração. Interessante que a cada vez que retorno, a paisagem está diferente. Seja pelo movimento das dunas, pelo vento, pelas chuvas ou pela dança da maré. De janeiro a junho, por ser estação mais chuvosa, se formam lagoas entre as dunas, especialmente depois de março. De julho a dezembro, a chuva vai embora e os ventos entram com força, as lagoas secam, o mar se enche de “ovelhinhas” e as pipas de kite e wind colorem o horizonte. 

Você pode caminhar longas distâncias pela praia, tanto na direção leste, rumo a praia do Preá, ou na direção oeste indo no sentido de Guriú.

Vamos começar pelas praias e lagoas do lado oeste? 

Esse é o passeio mais clássico de Jericoacoara. Indo para o lado oeste você passará por muitas dunas, praias desertas, atravessará de balsa até Guriú onde recomendo que almoce na Casa Uca, um hotel charmosíssimo de uma francesa com apenas 6 acomodações e com uma piscina deliciosa de frente pro mar. A partir dali você passará por um mangue seco, cheio de redes e balanços, seguirá por dunas fixas e dunas que se movimentam, passará por duas lagoas com tirolesa, pelo Lago Grande, pela Lagoa da Torta onde tem bares e restaurantes com aquelas redes dentro d’água que são muito comuns na região e chegará no vilarejo de Tatajuba. Se quiser evitar aglomeração, saia cedinho do hotel, vá até Tatajuba parando onde tiver vontade e na volta almoce na Casa Uca (imperdível!). Se quiser ir mais longe vá até a Ilha do Amor e almoce na Barraca da Dona Rita, rústica, com peixes e caranguejos fresquíssimos e uma trilha sonora que impressiona pelo bom gosto.

A distância de Jericoacoara até Tatajuba é de aproximadamente 25 quilômetros. Escolha um bugueiro nativo para conduzir você. De Tatajuba até Camocim são mais 20 quilômetros. Dá para ir de Jeri a Camocim pelo asfalto em 1h 30m.

Agora vamos para os lados leste e sul? 

Indo em direção a Preá, mas desviando da costa no sentido sul estão a Lagoa Azul e a Lagoa Paraíso. Elas têm nomes diferentes, mas na verdade são conectadas. Primeiro vem a Lagoa Azul, depois a Lagoa do Paraíso. 

Pare rápido para um mergulho na Lagoa Azul e siga até o restaurante B&B, na Lagoa do Paraíso. É preciso fazer reserva antecipadamente para ter acesso. Ao chegar você faz o pedido dos pratos e então desce até a beira da lagoa enquanto aguarda. Tem um quiosque com água de coco, bons drinques e petiscos, prancha de stand up paddle, ombrelones, balanço e redes dentro d’água. Em uma ou duas horas a refeição será servida no restaurante. O lugar é muito simpático. Outro restaurante que me foi indicado, mas não cheguei a experimentar foi o Restaurante do Paulo, na Lagoa do Paraíso.

Se você é da tribo da aglomeração talvez o Alchymist seja sua praia. O Beach Club é enorme, cheio de gente e bem animado.

Outro lugar interessante para almoçar nessa região é o Komaki, em Barrinha, num lugar lindíssimo à beira-mar logo depois da pousada Rancho do Peixe (clássica na praia do Preá), onde começam as dunas dessa região.

Na volta, aproveite para curtir o pôr do sol na Pedra Furada, um grande arco rochoso que foi esculpido pelo mar e se tornou um dos cartões-postais de Jeri. Se quiser voltar caminhando da Pedra Furada para Jeri, a trilha tem aproximadamente 5 quilômetros e passa pela praia da Malhada, onde há várias piscinas naturais. A maior e mais conhecida delas se chama Poço do Ananias.

Se você preferir aplaudir o pôr do sol já em Jeri suba a “duna do pôr do sol” e o espetáculo será garantido.

Além disso, tem uma novidade em Preá chamada de Buraco Azul. Dá uma lida aqui para entender o que é. Você sabia que para fazer estradas e casas nessa região, são feitas escavações para retirada de barro? Pois bem, num desses buracos, quando choveu, se formou uma verdadeira piscina de água muito azul pois o terreno tinha calcário. Alguns nativos passaram a nadar nessa piscina. Até que o Bruno Gagliasso andou por aqui gravando uma campanha publicitária e o tal Buraco Azul ganhou fama. O proprietário do terreno cercou o piscinão, colocou um restaurante e agora cobra 15 reais para a entrada de cada visitante. Vive lotado. Será que é para você?

Para fazer esses passeios indico Seu Chagas Soares, um senhor muito gentil, nativo de Preá, Instagram @preapasseios

ONDE COMER EM JERICOACOARA

Vila K. Restaurante delicioso da pousada Vila Kalango. Tem ótimos drinques feitos pelos dois bartenders Francisco e Jefferson Araujo Instagram @fjbartender. Serve cozinha com sabores do Ceará preparada com ingredientes locais e inspiração mediterrânea. 

Tamarindo. Um dos restaurantes mais antigos de Jeri, com cardápio bem extenso. Vive lotado!

Na Casa Dela. Têm dois restaurantes, um deles na rua principal e outro no Beco do Forró (que acho mais charmoso). Serve cozinha brasileira com toque requintado, mas o ambiente é o que mais salta aos olhos. 

Ello. Cozinha contemporânea, chef belga que está bem badalado em Jeri. Utiliza técnicas francesas e ingredientes do nordeste e orgânicos.

Pimenta Verde. Restaurante de cozinha brasileira, bem descontraído, na rua principal. É bom para almoçar.

Naturalmente. Creperia bem antiga de Jeri, na rua da praia. 

Kaze. Restaurante japonês. Tem duas casas. Uma no Beco do Guaxelo e outro na rua do Forró.

Araxá. Para quem quer comer uma boa pizza. 

Sorveterias: Casa de Pedra (mais artesanal), Gelato & Grano (bem tradicional de Jeri) e Leonardo da Vinci. 

COMPRINHAS EM JERI

Associação de Crocheteiras Mundo Jeri. Uma lojinha formada por um grupo de 18 mulheres reunidas para vender seus produtos feitos a mão com muita habilidade e enviados até para a Europa. Instagram @mundojeri_crochet

Jeri Arte. Loja linda à beira-mar que reúne artesanato do Ceará, Piauí e Maranhão. Entrega no Brasil todo. Instagram @jeriarte08.

COMO CHEGAR 

A Vila Kalango está a 4 horas de carro do Aeroporto de Fortaleza e a 40 minutos de carro do Aeroporto de Jericoacoara (que está operando desde 2017). Contrate um transfer antecipadamente para ter mais tranquilidade ao chegar. Não alugue carro, pois além da circulação excessiva de carros na região impactar o meio ambiente, você não terá permissão de circular em Jericoacoara. Todos os carros devem ficar estacionados fora da vila.

Também há a possibilidade de helicóptero a partir de Fortaleza num voo de tirar o fôlego.

TAXA PARA ENTRAR EM JERICOACOARA

Paga-se uma taxa de 30 reais por pessoa para ficar uma semana em Jeri.

QUANDO IR

Jericoacoara é um destino que pode ser visitado o ano inteiro. Tudo depende do seu perfil. As épocas lotadas são dezembro e janeiro, carnaval e feriados. Se quiser tranquilidade evite essas épocas. 

O período chuvoso acontece no primeiro semestre, sendo os meses de março, abril e maio os mais chuvosos. Mas já estive por aqui nessa época e nunca chove sem parar. Não chega a atrapalhar. E é exatamente nessa época que as lagoas ficam cheias e belíssimas. O melhor mês para ver as lagoas azuis no meio das dunas é junho.

Julho começa a temporada do vento. O segundo semestre é mais seco, no entanto os ventos são constantes. É perfeito para os velejadores.