BARRA GRANDE, ONDE BONS VENTOS E NATUREZA SE ENCONTRAM NO PIAUÍ
Espremido entre o Ceará e o Maranhão, o pequenino litoral do Piauí tem apenas 66 quilômetros de extensão, mas é gigante em termos de beleza natural, tranquilidade e biodiversidade. Ao pisar no vilarejo de Barra Grande imediatamente entendi a paixão desfiada na forma de palavras de amor e o brilho nos olhos de quem já mergulhou nesse mar. Águas quentes e cristalinas, praias desertas a perder de vista, dunas belíssimas, bancos de areia que dançam com a maré, rios que desaguam no mar, manguezais bem preservados e ventos perfeitos para a prática de kitesurfe. Tudo isso, arrematado pelo conforto de belas pousadas e bons restaurantes, faz de Barra Grande do Piauí um destino mágico.
Talvez a distância que separa a capital Teresina da costa do Piauí - aproximadamente 400 quilômetros - tenha sido o grande golpe de sorte para manter intocado esse pedacinho de paraíso, que se estende desde o estuário do rio Timonha até o delta do rio Parnaíba, e serve de lar para guarás, peixes-bois e tantas outras espécies. É um dos trechos do litoral brasileiro que mantém seu ecossistema mais bem preservado.
Quatro municípios compõem o litoral do Piauí: Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia.
Pois Barra Grande do Piauí está a exatos oito quilômetros de Cajueiro da Praia, uma área de proteção ambiental - APA - que evita o turismo de massa para proteger seus ilustres moradores da extinção, os peixes-bois. Esses simpáticos mamíferos aquáticos podem pesar mais de 600 quilos e atingir 4 metros. São animais dóceis, têm locomoção lenta, são gorduchos, lindos e vivem até 50 anos. As fêmeas têm um filhote a cada 3 ou 4 anos, a gestação dura cerca de um ano e a amamentação vai até os dois anos de vida. Alimentam-se de algas e capim. Para avistá-los é preciso subir o estuário dos rios Timonha e Ubatuba em barco a vela ou caiaque, em silêncio, para que não fujam. Já deu para perceber o quanto essa região é especial.
Felizmente, Barra Grande do Piauí passa longe do turismo predatório. Conseguiu manter o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação por estar praticamente desconectada da malha aérea brasileira, por ser protegida pelo município vizinho de Luís Correia que absorve o turismo regional e por ter nascido livre da circulação de carros pela praia, um mal que assola o estado vizinho do Ceará.
Barra Grande se revelou com a chegada da galera do kitesurfe em busca dos ventos que sopram boa parte do ano. Aos poucos foram surgindo pousadas rústicas, bons restaurantes, lojinhas e o centrinho da vila foi ganhando um charme que atiçou a vinda de europeus ávidos por cantinhos secretos no mundo, antes mesmo de ser descoberto pelos brasileiros.
Ruas de areia onde os jegues passeiam livremente, poucos carros e muita tranquilidade fazem de Barra Grande um belo refúgio. Trânsito por aqui só mesmo das pipas de kite ao entardecer, quando o vento sopra forte e as velas deslizam pelo mar. No mais é desacelerar, caminhar longas distâncias pela praia sem encontrar quase ninguém, avistar ao longe os guarás se alimentando nos manguezais e velejar com instrutores credenciados pela ABK (Associação Brasileira de Kite), na BGkite School, da pousada BGK.
HOME OFFICE EM BARRA GRANDE - POUSADA BGK
Aliás, essa é a dica quente de hospedagem em Barra Grande. A pousada BGK foi uma das primeiras do vilarejo. Já tem mais de 13 anos de história. Tudo começou como casa de veraneio do médico Ariosto e de sua esposa Tereza Ibiapina. Não demorou para a pousada abrir as portas e acolher hóspedes vindos dos quatro cantos do mundo, além dos amigos do casal.
Sua localização é privilegiada, de frente para o mar e na sombra de um coqueiral. As 23 simpáticas acomodações têm conexão com as características naturais da região. Presam pelo conforto e acima de tudo pela simplicidade. E como bem disse Leonardo da Vinci: “A simplicidade é o último grau da sofisticação”.
Tive uma experiência deliciosa em um bangalô frente mar, feito de madeira sobre palafitas, com teto de palha, com varanda voltada para o pôr do sol, equipado com cafeteira e minibar, tendo o conforto de ar condicionado, mosquiteiro e televisão.
O lounge privativo do bangalô é seu ponto alto, ocupa um espaço pé na areia debaixo da própria palafita com rede, sofá, mesa, cadeiras e até tapete. Mais charmoso impossível. Serviu como nosso home office durante a viagem.
Na área comum, a BGK conta com uma piscina linda com curvas que fazem referência aos riozinhos da região, tem bar na praia, quiosque de açaí, sorveteria, espaço para leitura, área de televisão, loja de souvenires, escola de kitesurfe e aluguel de caiaque.
Outra pousada menor, mais recente, muito charmosa, praticamente colada a BGK é a Pousada Titas, também da família BGK. Ela tem o melhor restaurante de Barra Grande, o Mô Cozinha Afetiva comandado pela chef Paula Leite (Instagram @paulaleitte). De entrada fomos no tradicional bolo frito piauiense com carne de sol na nata. Como prato principal: arroz de pescador com camarão e lagosta, e massa com caranguejo ao molho beurre blanc e parmesão. As sobremesas também são divinas. Provamos e aprovamos torta de queijo com goiabada e mousse de chocolate com paçoca de castanha de caju e caramelo de caju. Tudo maravilhoso!
Outros bons restaurantes em Barra Grande são o Manga Rosa, La Cozinha e a pizzaria La Pizza.
O QUE FAZER EM BARRA GRANDE DO PIAUÍ E ARREDORES
Em Barra Grande a ordem é desacelerar, deixar a pressa de lado, praticar kitesurfe, fazer boas caminhadas, curtir o pôr do sol, ler um bom livro e namorar.
Caso queira fazer passeios mais distantes sugiro que vá ao Delta do Parnaíba. Os barcos que circulam pela região partem do Porto dos Tatus, a 85 quilômetros de Barra Grande. Você entrará em contato com os nativos, poderá vivenciar a cata do caranguejo e do sururu, comer em um restaurante local, circular pelas tantas dunas e ver a belíssima revoada dos guarás.
Já, em Cajueiro da Praia, a 8 quilômetros de Barra Grande, está o maior cajueiro do mundo. Aproveite para conhecer o projeto de preservação do peixe-boi no estuário dos rios Timonha e Ubatuba.
Chaval pode ser alcançada em uma hora. Lá você poderá viver a experiência do trabalho em uma salina e visitar os sítios arqueológicos com pinturas rupestres de mais de 6 mil anos. Aproveite para almoçar no restaurante Gamboas. Peça um prato de sururu de entrada e uma “tainha amuquinhada” como prato principal. Esses são os pratos típicos da cidade.
QUANDO IR PARA BARRA GRANDE DO PIAUÍ
Duas estações bem definidas ditam o clima em Barra Grande. A estação chuvosa costuma ir de janeiro a maio, sendo março e abril os meses de chuvas mais intensas. A estação seca vai de junho a dezembro, sendo acompanhada de ventos constantes que fazem a alegria dos amantes do kite. Se quiser mais sossego evite períodos de férias e feriados.
COMO CHEGAR EM BARRA GRANDE
Como eu estava fazendo a Rota das Emoções, com roteiro desenhado pelo e-group, fiz o trecho de 100 quilômetros de Camocim (Ceará) até Barra Grande (Piauí) por estrada asfaltada, em aproximadamente 1 hora e 30 minutos, com motorista. Essa estrada deve ser percorrida sem pressa pois passa na beira de povoados onde sempre há animais soltos na pista.
Caso você não esteja fazendo a Rota das Emoções e vá apenas para Barra Grande do Piauí, o aeroporto mais próximo é de Parnaíba, a 70 quilômetros. Ele recebe dois voos semanais da Azul provenientes de Campinas às quartas e domingos. Voo direto com 3h30m de duração, sendo que a ida aos domingos e a volta nas quartas tem escala em Teresina.
Outras possibilidades são o Aeroporto de Jericoacoara que está a 180 quilômetros e o Aeroporto de Teresina, a 400 quilômetros. Caso vá por Teresina você pode aproveitar para conhecer o Parque Nacional de Sete Colinas que fica exatamente no meio do caminho entre Teresina e Barra Grande.
ALUGAR CARRO SIM OU NÃO
Essa foi minha dúvida ao programar a Rota das Emoções indo de Jericoacoara (Ceará) até Atins (Maranhão), ficando 4 dias em Barra Grande. Optei por ter um motorista experiente me acompanhando em veículo 4x4, pois há alguns trechos com estradas de areia e locais onde carros não podem circular. Mas saiba que as estradas são asfaltadas na maior parte do trajeto. Em Jericoacoara o carro não tem permissão para entrar (ficando num estacionamento), na Baía das Caraúbas, em Camocim, apenas buggy e veículo 4x4 conseguem atravessar a areia fofa até a pousada Baía das Caraúbas Glamping e em Barreirinhas (Maranhão) também é preciso deixar o carro parado e seguir de lancha até Atins.
Caso você chegue pelo Aeroporto de Parnaíba para ir diretamente a Barra Grande, sugiro que contrate um transfer de taxi especial com o Seu Zezinho, um motorista muito cuidadoso e gentil. Anote o contato: +55 86 99983 1721. Ele trabalha com o filho Junior e atende também pelo Instagram @junior_transfer.
Em Barra Grande carro não é necessário. O vilarejo é pequeno e tudo será feito a pé.
Alugar carro pode ser interessante caso queira ficar um tempo longo na região e tenha a intenção de visitar outras cidades nos arredores como Parnaíba, Camocim, Chaval, Jericoacoara ou Preá, por exemplo.
ENFIM...
Barra Grande do Piauí é um refúgio secreto, totalmente preservado, com ruas de areia nos moldes da Jericoacoara de 20 anos atrás, com ventos perfeitos para a prática do kitesurfe, ótimas pousadas, restaurantes que traduzem a cultura local com sabedoria e praias intocadas a perder de vista, onde tive o prazer de cruzar com muitos guarás no meu caminho. Tudo rústico, singular e cheio de charme.
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