DESCUBRA A BAÍA DAS CARAÚBAS E A CASA DE SÃO JOSÉ EM CAMOCIM


Basta rodar noventa quilômetros à oeste da badalada Jericoacoara, por uma boa estrada asfaltada, para encontrar um segredo intocado chamado Camocim. A pequenina cidade cearense, de pouco mais de 60 mil habitantes, nasceu às margens da Baía das Caraúbas, com as praias selvagens mais bonitas do Brasil, e a poucos metros da Ilha do Amor, onde dunas e manguezais belíssimos podem ser alcançados de barco numa travessia de cinco minutos pelo rio Coreaú, a partir do centrinho histórico. Um verdadeiro tesouro. 

Ilha do Amor.

ERA UMA VEZ

A vila de Camocim foi fundada em 1879, onde anteriormente viviam tribos indígenas, e logo foi alçada a categoria de cidade quando ganhou uma importante linha férrea. A Estação de Ferro Sobral, foi construída com traços neoclássicos mostrando influência europeia. Nessa época, os trens representavam um meio de transporte eficiente no Ceará. Conduziam pessoas e mercadorias pelo estado todo. Assim, a economia da cidade foi impulsionada até que o ramal de Camocim foi extinto em 1950. O prédio da Estação Férrea foi desativado, tombado como Patrimônio Histórico do Ceará e agora funciona como sede da Secretaria Municipal de Educação. Ainda hoje, o centrinho de Camocim guarda a graça dos tempos idos em seus casarões coloniais.

Casarões coloniais de Camocim. 

HOTEL BOUTIQUE CASA DE SÃO JOSÉ 

Um dos casarões mais bonitos de Camocim atende pelo nome de Casa de São José. O hotel boutique pertence ao grupo MVC juntamente com a pousada Baía das Caraúbas (também em Camocim) e com a Casa de Santo Antônio (Parnaíba – Piauí).

O hotel boutique Casa de São José prima pelo conforto e pela elegância, enquanto mantém o charme de outrora. Suas dez acomodações (4 suítes e 6 chalés) se espalham ao redor da piscina e de um jardim tropical repleto de árvores frutíferas típicas da região. A decoração da Casa de São José foi feita por D. Milu, mãe do proprietário Mário Carvalho, uma decoradora portuguesa reconhecida na Europa.

Entrada da Casa de São José.

O bom gosto salta aos olhos por todos os lados. Cada acomodação tem sua decoração personalizada. Tanto as suítes localizadas na casa principal como os chalés do jardim são extremamente acolhedores. Conectam a simplicidade e a sofisticação com o astral rústico da região. As redes - marca registrada do nordeste brasileiro - são presença garantida nas varandas para o repouso ao longo do dia.

Minha experiência foi memorável no Chalé Jardim Real, de 57 metros quadrados, muito amplo, arejado, com pé direito alto, cama king size deliciosa com dossel, excelentes lençóis e travesseiros, área de banho ao ar livre a céu aberto e amenities maravilhosas. Um luxo.

Chalé Jardim Real, na Casa de São José, Camocim.

Vale destacar o café da manhã maravilhoso, servido com excelente protocolo de higiene e a pequena academia para ninguém ficar parado. Aliás, parado não dá para ficar! A região é belíssima e convida ao deslumbramento. Há muito para se ver e viver tanto na direção leste como oeste de Camocim.

Um belo café da manhã na Casa de São José.

RUMO A JERI - EXPLORANDO AS BELEZAS DO LADO LESTE

Andando um quarteirão a partir do hotel boutique Casa de São José, você chegará ao atracadouro onde há barquinhos de madeira para atravessar o rio Coreau - leste de Camocim - e alcançar as dunas da Ilha do Amor. Que lugar lindo, intocado e deserto. 

Ilha do Amor.

Passei a manhã toda caminhando pela ilha, mergulhando no braço de rio que encontra o mar e encontrei apenas um casal e um bugueiro. Para almoçar na Ilha do Amor sugiro a Barraca da Dona Rita, a Pioneira. Ela tem um cardápio bem local com pratos muito bem preparados como caranguejo e peixe frito. Só esse passeio já faz a viagem valer a pena.

Caranguejo. Barraca da Dona Rita.

Mas se quiser ir mais longe há muita beleza natural para o lado leste. Estique até Tatajuba, de buggy pela praia, onde existem as ruínas das casas antigas do vilarejo de pescadores que foi soterrado pela areia com os ventos fortes da região, que aliás fazem a alegria dos amantes do kite. Passe pela Lagoa da Torta, Lagoa Grande, pelas tantas dunas do caminho e se gostar de adrenalina encare uma tirolesa.

Casa Uca.

Vá mais distante. Passe por um mangue seco e almoce na Casa Uca, em Guriú. Jericoacoara está logo à frente, depois de uma travessia de balsa seguida de alguns quilômetros. Se quiser voltar pelo asfalto serão 90 quilômetros de estrada, de Jeri até Camocim. O hotel boutique Casa de São José pode organizar os passeios para os hóspedes.

Jericoacoara.

BAÍA DAS CARAÚBAS GLAMPING

Quer uma dica poderosa? Fique hospedado no centrinho de Camocim, na Casa de São José por três dias para explorar a Ilha do Amor e todas as praias, rios, manguezais e dunas no sentido leste, em direção a Jericoacoara, que citei acima.

Complemente a experiência ficando outros três dias (no mínimo) na Baía das Caraúbas Glamping, para explorar as praias selvagens e vilarejos do lado oeste, de Camocim a Bitupitá. A pousada é pé na areia, a poucos quilômetros do centrinho de Camocim.

Baía das Caraúbas Glamping.

A Baía das Caraúbas é um camping de luxo de apenas sete acomodações construídas em madeira sobre palafitas, de frente para um mar escandalosamente lindo que dança conforme a maré e se enche de piscinas naturais deliciosas ao longo do dia. Um lugar perfeito para quem quer recarregar as energias, com muita privacidade, hospitalidade, conforto e cercado de praias desertas. 

A pousada tem piscina com bar, uma capela linda no alto da duna e um mascotinho muito fofo, Guerreiro, um burrico bebê que ficou sem a mãe e foi adotado pela pousada.

Bangalôs cheios de charme na Baía das Caraúbas.

O projeto da Baía das Caraúbas surgiu com o desejo de manter a região, o mais virgem possível. Para chegar é preciso carro 4x4 ou buggy para atravessar as dunas. Os funcionários são todos da comunidade local mais próxima e os peixes servidos no restaurante são comprados diretamente dos pescadores do povoado.

Recepção da pousada Baía das Caraúbas Glamping.

E por falar em gastronomia, a cozinha da pousada é um dos pontos altíssimos. O cardápio é elaborado com capricho pelo chef Manuel de Castro desde o delicioso café da manhã, com todos os pães e bolos feitos no próprio hotel e servidos ainda quentinhos, sucos e frutas da estação, até o jantar que pode ser servido em áreas privativas ao luar ou no charmoso restaurante.

Restaurante da Baía das Caraúbas.

Como a baía tem águas pouco profundas e bons ventos para a prática de kite e windsurfe, principalmente de julho a dezembro, é um local propício para quem quer iniciar no esporte. Basta solicitar um instrutor e você terá uma pessoa certificada pela AKB e todos os equipamentos para a prática de Kite. 

Mas, se velejar não for sua intenção você terá muito para curtir na região.

RUMO AO PIAUÍ - EXPLORANDO AS BELEZAS DO LADO OESTE

De Camocim até Bitupitá (divisa com o Piauí) serão 50 quilômetros pela praia ou 70 por estrada asfaltada. Faça várias paradas no caminho, pois essa rota é espetacular. Inicie nas praias desertas de Caraúbas, repletas de piscinas naturais na maré baixa e amada pela galera do kite por sua tranquilidade. 

Downwind de Caraúbas a Bitupitá.

Passe pelo vilarejo de pescadores de Maceió (mas saiba que nos finais de semana o fluxo de turismo local é intenso, a região é ótima para ser explorada durante a semana) e Barrinha onde as dunas são muito altas e lindíssimas. A seguir dê uma paradinha no povoado de Xavier para conversar com os pescadores da região e ver as tantas turbinas eólicas que há pelo caminho. 

Casa de pescadores de Xavier, Ceará.

Logo você chegará à Barra dos Remédios onde a paisagem se destaca com grandes dunas em forma de cone entre o rio e um manguezal. Como as dunas são móveis, o cenário muda constantemente. Entre elas, dezenas de burricos vivem livres na região.

Muitos burricos vivem pelas dunas.

Atravesse o rio de balsa e siga até o vilarejo de Curimãs. Almoce no restaurante Brilho do Mar, do chef francês François Bourhis – Instagram @brilho.do.mar – produtos fresquíssimos da região com toque francês. Simples e imperdível!

Quatro quilômetros à frente e você estará em Bitupitá, divisa do Ceará com o Piauí, onde o estuário dos rios Timonha e Ubatuba apresenta a maior área de manguezal remanescente do Ceará. Ao atravessar o rio você estará na cidade de Cajueiro da Praia, um povoado coladinho a Barra Grande, no Piauí.

O impressionante "lençol de pedras" de Chaval.

Subindo vinte quilômetros desde Bitupitá pelo rio Timonha você chegará na cidade de Chaval. Não cheguei a fazer esse trajeto de barco. Parei na cidade de Chaval quando fazia o trajeto Camocim (Ceará) – Barra Grande (Piauí) pela estrada asfaltada, numa viagem em ritmo “slow travel” pela Rota das Emoções. Subimos na Gruta Nossa Senhora de Lourdes, um pequeno santuário, sobre uma grande pedra. Lá do alto, avistei salinas e um “lençol de pedras” que me impressionou. 

Foi assim que resolvemos explorar Chaval. Nossa anfitriã na cidade foi Felitita Silva, uma mulher inquieta e cheia de sonhos, presidente da Comissão de Educação, Saúde e Assistência Social, que busca auxiliar sua comunidade através do turismo comunitário, colaborativo e sustentável.

Chaval. salinas e pedras a perder de vista.

Chaval é um destino incrível. Tem muitas belezas naturais, culturais e históricas. A começar pelas formações rochosas que abrigam mais de 21 sítios arqueológicos, praticamente no centro urbano, sendo quatro deles já tombados como patrimônio. 

Visitei o sítio arqueológico Casa de Pedra, no singelo Bairro do Escondido que surgiu entre as pedras. No quintal da casa de uma família muito humilde há um paredão repleto de pinturas rupestres datadas de 6 a 9 mil anos. Paguei um pequeno valor para entrar. Fiquei impressionada com o tesouro que quase sumiu no tempo sem ser percebido. Graças a Felitita estudos começaram a ser feitos na região por uma equipe de arqueólogos e logo as pinturas começarão a ser recuperadas.

Pinturas rupestres da Casa de Pedra, Chaval.

Também fiquei surpresa com o estuário dos rios Timonha e Ubatuba, ao longo do qual Chaval nasceu. Ali há um imenso berçário de vidas marinhas em uma extensão de 2.165 quilômetros de manguezais preservados, sendo reduto de aves migratórias e do simpático peixe-boi. 

É possível fazer um passeio de barco desde o Porto das Canoas visitando manguezais, ouvindo as histórias dos pescadores da região, dos barqueiros que trabalhavam na produção e transporte do sal, viver a experiência da cata do sururu e conhecer o projeto de preservação do peixe-boi, que infelizmente está em extinção. Na volta vale fazer um pitstop no restaurante Gamboas para provar os sabores ribeirinhos como o sururu e a tainha amuquinhada, uma iguaria preparada segundo a tradição dos índios Tremembé. A gastronomia traduz a cultura de um povo.

  
Sururu e tainha amuquinhada no restaurante Gamboas, Chaval.

COMO ORGANIZAR SEU ROTEIRO E CIRCULAR PELA ROTA DAS EMOÇÕES

Meu roteiro de 30 dias desde Jericoacoara, Prea, Camocim, Caraúbas no Ceará subindo pelo Piauí e finalizando no Maranhão foi desenhado pelo e-group, uma aliança de pousadas e hotéis que tem forte conexão com a cultura local e oferece uma hotelaria de padrão internacional. O e-group está atrelado aos esportes de mar e de vento. É especialista em organizar experiências memoráveis combinando esportes náuticos, bons hotéis e bem-estar sob a filosofia de “essential experience”, a qual se refere a um conjunto de sensações e percepções que tem a força de eternizar momentos. Recebi todo o roteiro prontinho e muito bem organizado.

Meu motorista e guia durante a viagem foi o Marquim da Litoral Oeste Camocim (Instagram @litoraloestecamocim) contratado pelo e-group. Ele também fez meu transfer de Jericoacoara até Camocim e acompanhou a viagem toda pelo Ceará, Piauí e Maranhão. Um rapaz muito gentil, cuidadoso na estrada, que mora no vilarejo de Maceió e conhece as estradas da região como poucos.

COMO CHEGAR A CAMOCIM

O Aeroporto de Cruz, em Jericoacoara, fica a 90 quilômetros de Camocim. Contrate um transfer antecipadamente e em pouco mais de uma hora você estará no paraíso. 

MELHOR ÉPOCA PARA IR

Camocim é um destino que pode ser visitado o ano inteiro. Só depende do seu perfil. As épocas de maior movimento são dezembro e janeiro, carnaval e feriados. Se quiser tranquilidade evite esses períodos.

As chuvas costumam cair no primeiro semestre, sendo os meses de março, abril e maio os mais chuvosos. Mas, não chegam a atrapalhar. É nessa época que as lagoas ficam cheias e mais bonitas. Em julho começa a temporada do vento. O segundo semestre é mais seco, no entanto os ventos são constantes. É perfeito para os amantes dos esportes de mar e vento.

Dunas de Barrinha, Ceará.

ENFIM...

Camocim realmente me surpreendeu. Uma cidade que guarda o glamour de outrora. É cercada por praias belíssimas, ainda selvagens, dunas desertas, e além disso tem dois excelentes hotéis, Casa de São José e Baía das Caraúbas. Recomendo que fique uma semana, pelo menos, para viver sem pressa os tantos segredos de Camocim.

  
A região de Camocim, e arredores, é surpreendente.

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