O FANTÁSTICO MUNDO CAIMAN PANTANAL
Bastou tomar a estrada, de Campo Grande rumo a Miranda, no Mato Grosso do Sul, para receber as boas-vindas de um casal de araras em algazarra no voo. Meu rosto se abriu num sorriso bobo, sem imaginar o que estava por vir. Uma explosão de paisagens paradisíacas cravejadas de vida selvagem acompanharia meus dias na Caiman Pantanal.
Onças-pintadas, antas, cervos-do-pantanal, capivaras e tamanduás-bandeira foram os animais mais emblemáticos que cruzaram meu caminho. Tanto que são considerados os BIG FIVE do “safari brasileiro”, exatamente como nos moldes dos safaris africanos. Mas também vi tuiuiús (maior ave voadora do Brasil), emas, lobinhos-guará, tatus, cobras, jacarés, aranhas-caranguejeiras, muitas araras, e dezenas de outros animais. Eles povoam a maior área alagada no planeta, um ecossistema tão rico e tão diverso, que foi alçado a categoria de Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera, pela UNESCO.
Por mais de 200 mil quilômetros quadrados a planície pantaneira brasileira se estende pelos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Mas, o Pantanal cobre uma região ainda mais extensa do que isso, abrange partes da Bolívia e do Paraguai, sendo considerado o bioma mais bem preservado do mundo, com 80% de cobertura vegetal original devido à resiliência que o ciclo das águas traz ao solo, mesmo diante de ameaças ambientais constantes, como incêndios e desmatamento.
Metade do ano, de novembro a abril, as planícies inundam com a chuva e na outra metade a seca domina a cena. E é exatamente por isso que a vida explode por ali. Já foram identificadas mais de 650 espécies de aves, 300 de peixes, 150 de mamíferos e 50 de anfíbios, além das espécies de plantas que passam de dois mil.
DO SONHO À REALIDADE
Até algumas décadas atrás, o Pantanal, essa região belíssima do coração do Brasil, era pouco conhecido, e inclusive pouco valorizado pelos brasileiros. A família Klabin foi importantíssima na virada dessa chave.
Apaixonado pela cultura pantaneira desde a infância, o visionário, empreendedor e ambientalista Roberto Klabin assumiu o controle da Estância Caiman, em 1983, ao receber de herança uma parte da antiga Estância Miranda, de seu pai Samuel. O latifúndio de 240 mil hectares foi comprado em 1952, das mãos de ingleses que por aqui chegaram em busca de oportunidades, em 1912, por incentivo do próprio governo federal.
Se por um lado os estrangeiros trouxeram desenvolvimento para a região com empreendimentos pecuários e uma linha férrea conhecida como Trem do Pantanal, por outro iam exatamente na contramão da proposta atual da Caiman no que se refere a preservação da fauna local.
O feudo britânico ostentava um museu de armas, além de um constrangedor zoológico, onde eram aprisionados animais, como as cobiçadas onças-pintadas, que vez ou outra viravam casaco ou troféu. O comércio de peles era uma prática comum na época e, inclusive, as onças eram abatidas sob o pretexto de preservar o rebanho bovino.
As ruínas dessas jaulas que tiravam a liberdade e a vida dos animais selvagens continuam em pé na fazenda revelando a falta de consciência ecológica do passado e servindo como alerta para o futuro.
NASCE UMA ESTRELA
A formatação da Estância Caiman deu luz a um novo capítulo na história da valorização e conservação da biodiversidade do Pantanal. Como empresário, Roberto Klabin intuiu que além de um negócio lucrativo, aqueles 53 mil hectares de terra poderiam se tornar um destino turístico com a intenção de proteger o ambiente natural. E assim aconteceu.
Há três décadas a Caiman cumpre o sonho de ser muito mais do que um hotel. Se tornou um santuário ecológico que abraça projetos importantes, como o Onçafari, que faz a diferença na fauna local há dez anos, o Instituto Arara Azul que com o trabalho da bióloga Neiva Guedes tirou essas aves tão delicadas do risco de extinção e a RPPN Dona Aracy, que garante a preservação perpétua do bioma da região numa área de 5,6 mil hectares. O Pantanal como um todo se fortaleceu. Ganhou um ecoturismo estruturado e safaris como os da África.
Durante a pandemia, a Caiman Pantanal aproveitou o tempo de pausa para ser repaginada. Em meados de 2021, a “Casa Caiman”, que congrega a antiga sede da fazenda e a antiga casa da família, ganhou ares ainda mais sofisticados e aconchegantes.
Reabriu as portas de 18 suítes impecáveis, com piscina, redário, firepit, bar, restaurante, sala de estar com lareira e sala de descanso aberta para a natureza, numa área belíssima, muito verde e toda cercada de telas.
Além da “Casa Caiman”, o hotel oferece duas vilas independentes “Cordilheira” e “Baiazinha”, com 5 e 6 quartos respectivamente, para grupos fechados, a alguns quilômetros da sede.
Passar uma temporada nesse cantinho tão especial é a certeza de viver uma imersão em um dos cenários mais deslumbrantes e peculiares do Brasil. O Pantanal está em alta. Tem sido reconhecido mundialmente como um dos melhores destinos para observação de fauna.
NO RITMO PANTANEIRO
Sem pressa, os dias são anunciados por uma sinfonia de cantos e de cores enquanto o cheiro do café convida à mesa. E que mesa! Daquelas tão caprichadas que dá vontade de ficar por horas beliscando os pães, bolos e tantos petiscos recém saídos do formo. Mas, do lado de fora, a natureza tem muito a oferecer. É hora de se preparar para boas aventuras.
A bordo da simpática Land Rover camuflada do Onçafari, projeto focado no estudo e preservação da biodiversidade, avistei cinco onças-pintadas num único dia. Nusa e Robusto namoravam sem o menor constrangimento a alguns passos do carro enquanto a mamãe Gatuna brincava com suas filhas Anouk e Rainha, de um ano, logo adiante. Isso seria muito difícil não fosse o empenho dos biólogos que monitoram os animais com colares GPS/VHS e câmeras trap.
Normalmente, a possibilidade de avistamento de onças é de 2%, no entanto esse número subiu para 95% na Caiman graças ao trabalho de habituação dos animais à presença dos veículos. Já foram registradas aproximadamente 200 onças circulando pela propriedade, sendo que 8 delas são monitoradas com colares.
O projeto Onçafari foi desenvolvido há mais de dez anos numa parceria de Klabin com o ex-piloto Mario Haberfeld para proteger os animais de extinção. O resultado é espetacular.
Sabia que você pode adotar uma onça comprando anualmente um colar? O valor do colar de monitoramento, que tem vida útil de um ano, é de 30 mil reais. Depois desse tempo, a bateria termina, o colar se abre e cai. Quem adota uma onça pode nomear sua “pintada” protegida, recebe fotos e vídeos regularmente. O projeto é lindíssimo, coloca a fauna como protagonista e serve como importante ferramenta de conservação.
A Caiman foi a primeira hospedagem no Brasil a trabalhar com guias locais nativos e guias naturalistas, especializados na fauna e flora do Pantanal. Eles acompanham os hóspedes nos safaris pela fazenda, em longas cavalgadas, passeios de bicicleta, aventuras de canoa canadense entre jacarés e tantas outras espécies tornando a experiência única ao traduzir o ecossistema. E assim, a cada passo, com o poderoso auxílio de Pedro, Kéfany, Wesley, Lucas, Lili e de toda equipe da Caiman, os olhos vão escaneando a paisagem em busca da vida pantaneira.
Entre um passeio e outro, a pausa para descansar é merecida. Tomar um drinque, ler um bom livro, dar um mergulho na piscina, almoçar divinamente bem ou simplesmente sentar na rede para curtir a força da natureza.
E ao cair da noite, as manchas avermelhadas que tingem o horizonte merecem ser reverenciadas do firepit até que o céu se cubra de estrelas e a mesa do jantar seja servida. A comida pantaneira é um capítulo à parte.
Numa noite de lua cheia fomos surpreendidos por um legítimo churrasco pantaneiro, feito em espetos de angico vermelho. O banquete foi servido na estrebaria com direito a apresentação de músicos pantaneiros interpretando sucessos do violeiro matogrossense Almir Sater e de seu primogênito Gabriel Sater, que por sinal revive o papel de Trindade interpretado pelo pai na novela Pantanal, exibida originalmente em 1990 pela extinta TV Manchete, e que agora, em 2022 volta à cena num remake da Rede Globo. Lembram de Maria Marruá, personagem interpretada por Cássia Kis? Mãe de Juma? Ela ajudou a jogar os primeiros holofotes sobre o Pantanal e agora é a vez de Juliana Paes virar onça.
É exatamente essa combinação de natureza, tradição e mistério que torna a cultura pantaneira tão peculiar.
QUANDO IR AO PANTANAL
A paisagem muda conforme as estações: seca e cheia. São dois universos distintos, mas igualmente encantadores.
De maio a novembro, com a planície seca, a circulação dos veículos de safari fica mais fácil e os animais que haviam se dispersado durante a cheia retornam. As temperaturas são mais amenas durante a seca e o céu mais estrelado.
Já, do final de novembro a abril é mais quente, chove bastante especialmente de novembro a fevereiro, os rios transbordam, as planícies inundam formando grandes espelhos d’água que fazem o céu e o chão se unirem em desenhos de tirar o fôlego. É nesse momento que as aves aquáticas podem ser avistadas com mais facilidade, enquanto os mamíferos migram para as áreas mais altas.
Mas quer saber a verdade? A quantidade de animais é tão grande que em qualquer época do ano a experiência será estarrecedora. O ideal mesmo... é voltar várias vezes.
QUANTOS DIAS FICAR
A Caiman Pantanal é um mundo. Fiquei cinco dias e poderia facilmente ter ficado uma semana (ou mais) para aproveitar a natureza espetacular, a peculiaridade da cultura local e o aconchego da propriedade. Recomendo que fique no mínimo 3 dias, mas já aviso que será pouco.
COMO ORGANIZAR O ROTEIRO
O Pantanal atualmente, oferece muitas opções de hospedagem e experiência. A Caiman foi a pioneira e desde que foi inaugurada é considerada a propriedade mais sofisticada da região e mais estruturada.
Se quiser conjugar com outras experiências recomendo:
- cruzeiro fluvial no Pantanal entre Corumbá (MS) e Poconé (MT);
- dividir a hospedagem entre a Caiman Pantanal e o Ecolodge Refúgio da Ilha uma propriedade familiar de apenas 8 acomodações, que fica a menos de 100 quilômetros da Caiman, também tem parceria com o Onçafari e por estar à beira-rio oferece safari de barco.
- conjugar Pantanal e Bonito onde acabou de abrir o hotel Promenade Bonito All Suites.
COMO CHEGAR NA CAIMAN PANTANAL
Localizada na zona rural da cidade de Miranda, o acesso à propriedade pode ser feito de carro alugado, transfer indicado pela própria Caiman ou avião turbo hélice que desce numa pista de pouso particular homologada.
Se optar por alugar carro, saiba que a partir de Campo Grande serão 236 quilômetros, sendo 36 em estrada de terra. O trajeto será feito em 3 horas e meia. Já, a partir de Bonito, a distância é menor, 160 quilômetros, feitos em 2 horas e meia, no entanto a malha aérea é mais reduzida. Caso queira conjugar Pantanal + Bonito, essa é uma ótima opção.
ENFIM...
O pioneirismo da Caiman na missão de preservar com tamanha paixão a fauna, a flora e a cultura pantaneira, ao mesmo tempo em que oferece uma estrutura hoteleira charmosíssima e sofisticada, é emocionante. O Pantanal é um mundo que você precisa descobrir.
Que sonho! Me senti no Pantanal ao ler essa matéria. Lindíssimo.
ResponderExcluirBeiunhos
Tuca
Um Brasil lindíssimo e cheio de peculiaridades. Tem que conhecer!
ExcluirCL