UMA AVENTURA AUSTRAL NO TIERRA PATAGONIA


Com porte elegante, pelo dourado e olhos atentos, um guanaco atravessou na frente do carro embelezando ainda mais minha chegada ao Tierra Patagonia. Esses animais vivem nas regiões mais altas do hemisfério sul e são, juntamente com os pumas, símbolo do Parque Nacional de Torres del Paine, onde eu viveria dias inesquecíveis na gelada primavera do sul do Chile.


Tierra Patagonia em sintonia com a paisagem.

No aeroporto, o motorista aguardava portando aquela plaquinha com o nome dos hóspedes que sempre arranca um sorriso de tranquilidade. Puerto Natales foi o ponto de chegada. Eu vinha de Santiago do Chile num voo da Sky Airline, com duração de 3 horas tendo uma escala rápida em Puerto Montes. Dali, em menos de uma hora avistei as curvas elegantes do Tierra Patagonia emolduradas por altas montanhas e pelo azul do Lago Sarmiento. Perdi o fôlego. É impressionante a integração entre a natureza e o design. O hotel está mimetizado em tal harmonia com a vegetação rala das pradarias da região que chega a emocionar.

Astral rústico do Tierra Patagonia.

É fácil entender porque foi eleito o melhor hotel do Chile pelo prêmio The Gold List 2023, organizado pela conceituada publicação internacional Condé Nast Traveler, além de ter sido apontado como um dos favoritos dos leitores nos últimos quatro anos consecutivos, de 2018 a 2021, como parte das votações do Reader’s Choice Awards.

Pelos janelões do Tierra, Torres del Paine.

Tomada por total encantamento brindei a chegada ao hotel bebericando a “limonada calafate”, feita com o fruto nativo “calafate” para dar as boas-vindas. Enquanto isso, meus olhos escaneavam curiosamente cada cantinho daquele imenso ambiente que congrega sala de estar, lareira, restaurante, bar, biblioteca e escritório de expedições. Não demorou muito até os Cuernos del Paine entrarem pelos janelões e me fazerem entoar uma sequência de “uaus”.

No aconchego do Tierra Patagonia.

Esse conceito de comunhão com a paisagem somado ao conforto e ao bem-estar acompanharam minha jornada. O hotel foi projetado exatamente para oferecer uma opção de hospedagem sustentável e harmoniosa com a natureza, tendo as vistas mais deslumbrantes de Torres del Paine tanto do salão principal, como da piscina e das janelas de todos os 40 quartos. É inacreditável. De onde quer que você esteja, aqueles chifres lendários vêm abençoar a viagem.

As janelas dos quartos são como quadros.

E realmente foram cinco dias abençoados. As tradições patagônicas permearam toda a experiência. Pelegos, muita lã e madeira trazem acolhimento. Todo o hotel é revestido em lenga, madeira nativa da região que garante aconchego aos ambientes espalhados na horizontal, para não falar mais alto do que a natureza do entorno. 

Os quartos se dividem em dois andares, tendo decoração em estilo rústico-chic e astral minimalista. O silêncio é o som que preenche todas as curvas do quarto pois não tem TV, som ambiente e wi-fi nas acomodações. A ordem é fazer um detox digital e relaxar na deliciosa banheira, peça fundamental para o descanso merecido depois das expedições.

Banheiro amplo e conectado com o quarto.

Quartos em estilo minimalista no Tierra Patagonia.

A agenda de cada hóspede - seja caminhada, cavalgada, bicicleta ou viagem cênica às fazendas, lagos, montanhas e pelos pampas da Patagônia - é definida com os guias no dia da chegada conforme o interesse e condicionamento físico de cada um, podendo ser repensada a qualquer momento. 

Opções não faltam. São mais de 30 passeios que variam em cinco níveis de dificuldade desde: muito fácil, fácil, moderado, difícil e muito difícil. Kineret Muñoz, líder de gestão de expedições, foi de uma gentileza sem fim trazendo informações preciosas sobre as tantas possibilidades.

Paisagens belíssimas recortam a Patagônia chilena.

O trekking mais puxado também é um dos mais célebres do mundo: o famoso Circuito W. Ele leva os aventureiros até a base das torres do Maciço de Paine. Sim, exige grande esforço físico para subir até o Passo do Vento, seguir até o Acampamento Chileno, continuar por um bosque e enfim chegar... depois de 5 horas de caminhada pesada, a um dos locais de visual mais emblemático da Patagônia, as espetaculares Torres del Paine. Se eu fui? Adoraria! Mas, não consegui fazer o trekking (preciso voltar) pois peguei dias com muita neblina e visibilidade péssima. Durante toda aquela semana, as pessoas que insistiram em encarar os 18 km, feitos em 10 horas de caminhada, saíram frustradas por não conseguir ver as torres.

A clássica chegada a base das Torres del Paine. Foto divulgação.

Se o Circuito W não rolou, outros caminhos me levaram ao céu. Tomada pela nostalgia de cenários enevoados minha primeira aventura revelou a magia da Laguna Azul. Numa trilha fácil às margens da lagoa, tive a companhia de guanacos e nandus (uma espécie de ema da Patagônia) enquanto o sibilo do vento enchia as estepes de vida. 

No retorno ao hotel, o queixo simplesmente caiu quando a parada para o chá da tarde foi às margens da Cascata Paine onde deságua o volumoso rio Paine que ostenta 30 quilômetros de largura e une 5 lagos formados pelo degelo do Glaciar Dickson. De uma beleza estonteante.

Laguna Azul.

Cascata Paine.

E mesmo que o trekking fosse leve, o relaxamento na piscina de borda infinita, aquecida, virou “obrigatório” pelos cinco dias em que o Tierra me acolheu. Além disso, o spa UMA é sensacional e merece agendamento diário. Então a sequência seguia: uma taça de vinho em frente a lareira, um maravilhoso jantar e cair nos braços de Morfeu até o próximo amanhecer. 

Piscina icônica do Tierra Patagonia.

Convite ao bem-estar.

Na Hunter’s Trail segui os passos dos primeiros habitantes da Patagônia, chamados Tehuelches. Eles estiveram aqui há mais de 11 mil anos. Um povo nômade, caçador. Na região, que dista 7 quilômetros da Laguna Amarga (repleta de flamingos) há vários sítios arqueológicos. Minha visita foi a Caverna das Pinturas Rupestres, que guarda desenhos deixados pelo povo Aonikenk feitos com pigmentos a base de minerais moídos com ferramentas de pedra, há 6.500 anos. De uma riqueza cultural incalculável. Nessa trilha é comum a presença de pumas. Não sei se dei sorte ou se foi a falta dela, mas nesse dia nenhum puma apareceu no meu caminho. Apenas guanacos e uma raposa solitária. Confesso que fiquei aliviada.

  
Pinturas rupestres na Hunter's Trail.

Uma cavalgada não faltou para animar a tarde. Às margens da Laguna Verde fica a Estância Entre Lagos de onde saem os passeios que conduzem os hóspedes pela Sierra del Toro indo até o Lago Sarmiento com vistas lindas para o Maciço de Paine.

Cavalgada na Patagônia.

No dia seguinte teve sol, neve, granizo e chuva para celebrar a ida ao Glaciar Grey. Cobrimos uma grande distância de carro e fizemos uma caminhada de aproximadamente uma hora até encontrar o barco que levaria aos pés do Glaciar Grey numa aventura de três horas onde a natureza se exibe com toda sua força.

Grey, um dos tantos glaciares do Chile.

A Patagônia é um verdadeiro chamado para os amantes do ecoturismo. No Parque Nacional de Torres del Paine há várias zonas ecológicas bem definidas com campos de gelo, glaciares, rios, mais de 14 lagos e lagoas, além de 3 grandes quedas d’água. Com tanta riqueza a ser vivida, o Tierra Patagonia oferece a melhor estrutura para a aventura. Além do hotel ter todas as refeições incluídas no valor da diária (sempre acompanhadas pelos vinhos produzidos na Matetic ou por um clássico Pisco Sour), todos os passeios também estão incluídos com guias especializados e carros de expedição com motoristas locais, o que garante segurança. Essa experiência merece constar na sua agenda entre os meses de outubro e maio, quando as temperaturas são mais amenas na gélida Patagônia.

A gastronomia é ponto alto do Tierra Patagonia.

Mesmo com esse leque em forma de expedições e aventuras, o Tierra tem espírito slow travel. É um convite perfeito para a contemplação da natureza e é também um destination hotel, ou seja, por si só já faz valer a viagem. Reserve momentos do seu dia para relaxar, fazer sauna, degustar os bons vinhos chilenos oferecidos pela casa, namorar, ler um bom livro, caminhar até o lago Sarmiento e você sairá renovado.

Lago Sarmiento.

O Tierra Patagonia nasceu em 2012. Seu irmão mais velho, o Tierra Atacama é de 2008 e desde que abriu as portas é uma unanimidade no Deserto do Atacama. Já, o irmão mais jovem, Tierra Chiloé, é de 2017 e nasceu após uma ampliação do hotel Refugia, da Ilha Grande de Chiloé. Os três irmãos passaram a integrar recentemente a coleção Baillie Lodges, um portfolio de lodges de luxo - em destinos exclusivos, de importância natural ou cultural - reconhecido por definir padrões premium no turismo de experiência.

O sensacional Tierra Patagonia.


Conte com minha experiência para planejar sua viagem. Entre em contato pelo email 
claudia@viajarpelomundo.com. Seu roteiro será personalizado e organizado por mim em parceria com uma agência da minha confiança. Enquanto eu faço a curadoria, a agência cuida de toda a operação oferecendo suporte 24 horas por dia.

No retorno, fiz uma parada na cidade de Santiago do Chile para rever essa velha amiga e conhecer o Hotel Magnolia que reabriu recentemente com foco em alto luxo e atenção aos detalhes. Passei dias deliciosos nessa mansão histórica, de 1929, que originalmente tinha três andares e agora abriga 41 charmosos apartamentos de diferentes categorias em sete andares de design elegante. As boas surpresas começam ao entrar pelo saguão do hotel. Percorrer seus corredores, entrar nas salas de estar, no restaurante, conversar com a delicada equipe e subir ao bar do rooftop é a certeza de se sentir em casa. O serviço é personalizado e você sente essa customização. Uma bela experiência, no centro de Santiago, ao lado do bairro Lastarria, do Museu de Belas Artes e da área histórica da cidade. Um lugar onde o simples vira excepcional e onde a conexão inicial marca a hospedagem como singular.

O charmoso hotel Magnolia, em Santiago do Chile.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES

COMO CHEGAR

A Sky Airline conecta o Brasil com o Chile num voo de 4h40m. De Santiago do Chile até a Patagônia foram 3 horas de voo com a empresa aérea low cost, com destino a Puerto Natales tendo uma escala rápida em Puerto Montes. Existem outras opções.

Voei pela primeira vez com a Sky Airline.

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

O Chile faz parte do Mercosul, assim sendo o passaporte não é obrigatório podendo ser apresentado apenas o RG original emitido há menos de 10 anos, e claro, em bom estado de conservação. Mesmo assim, eu prefiro viajar sempre com o passaporte. Também é necessário apresentar carteira de vacinação contra Covid-19 ou teste PCR com resultado negativo feito no máximo 48 horas antes do voo. (Informações de dezembro/2022)

O QUE LEVAR NA MALA

As temperaturas da Patagônia são sempre baixas e o vento costuma ser constante. Leve roupas para se vestir em camadas durante as expedições. Calça e camiseta térmica costumo usar apenas uma camada quando não tem neve, mas dependendo de quanto frio você costuma sentir vale usar duas camadas. Adicione um casaco com tecnologia para frio extremo, uma calça impermeável, meias até o joelho com boa proteção e finalize com uma parca corta vento impermeável. Não esqueça das luvas, gorro e óculos. Leve botas impermeáveis muito confortáveis para encarar caminhadas de até 20 km. Não esqueça das roupas de banho para a piscina do hotel e saiba que nas áreas comuns a temperatura é sempre gostosa, entre 20 e 220C. Portanto, leve apenas roupas de manga comprida, pois você não precisará de casacos dentro do hotel. Se precisar alguma coisa saiba que a lojinha do Tierra é excelente.

O frio é só do lado de fora do Tierra Patagonia.

QUANDO IR

Recomendo os meses de outubro e maio, quando as temperaturas são mais amenas na Patagônia. Os meses de dezembro e janeiro costumam ser os mais concorridos.

Estive no Tierra Patagonia em outubro de 2022, durante a primavera chilena.

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