PANAMÁ PERFEITO
O desembarque no novo Aeroporto Internacional de Tocumen confirma que o Panamá se tornou um dos hubs aéreos mais importantes das Américas. Pena que a maioria dos passageiros esteja ali em trânsito, fazendo apenas uma breve escala para chegar a outro destino. O que você precisa saber é que esse país espremido entre a Colômbia e a Costa Rica revela esconderijos fascinantes e merece mais do que uma simples escala. Merece ser o foco da viagem.
ENTRE OCEANOS
Sua localização estratégica faz a ligação por terra da América do Sul com a América do Norte e ainda mais interessante do que isso é a proximidade que existe entre os oceanos Pacífico e Atlântico (na linha do Caribe). Apenas oitenta quilômetros. Você pode tranquilamente tomar o café da manhã no Pacífico e almoçar no Caribe.
Pois foi exatamente esse privilégio geográfico, o responsável pela construção do famoso Canal do Panamá. Um feito que vai além de ser uma proeza de engenharia. É um ponto crucial para a navegação do planeta ao conectar os mares. Ele foi construído com o apoio dos Estados Unidos quando o Panamá se separou da Colômbia, em 1903. Sim, o Panamá fez parte da Grande Colômbia por oitenta anos depois de ter se tornado independente da Espanha, em 1821. A obra foi rápida, considerando sua grandiosidade, levou pouco mais de 10 anos. Os americanos estiveram no controle da administração até 1999. Hoje a receita dessa rota tão importante para o transporte de cargas global faz com que os navios economizem tempo e dinheiro ao passar pelo canal sem ter que dar a volta no extremo sul do continente. Em contrapartida o Panamá se transformou em uma das economias mais dinâmicas das Américas. Cada navio que atravessa por ali contribui financeiramente com o seu desenvolvimento.
NOVA MIAMI
Ao chegar no país comece sua jornada pela movimentada, histórica e contemporânea Cidade do Panamá. Ela ostenta um skyline tão imponente que já chama atenção pela janela do avião. Ao desembarcar, basta percorrer alguns quilômetros do aeroporto até a área mais central para ver uma cidade cheia de vida, com grandes avenidas, arranha-céus arrojados e... tantos shoppings, que até já ganhou o apelido de “Nova Miami”.
A capital do país se tornou um poderoso centro financeiro que atrai bancos e investidores internacionais, mas sabe conviver muito bem com o passado. O Casco Viejo - área antiga da cidade, também chamada de San Felipe - é a prova viva disso. O distrito histórico foi estabelecido em 1673, depois da destruição quase total da cidade original do Panamá - “Panamá Viejo” - a qual existiu de 1519 a 1671 e foi abandonada depois de sucessivos incêndios e ataques de piratas.
Se a “primeira” cidade hoje guarda apenas ruínas dos velhos casarões de pedra, do início do século XVI, é no Casco Viejo que está a graciosidade do passado vestida de presente. Suas ruelas pavimentadas de tijolos são repletas de prédios de arquitetura colonial espanhola, em excelente estado de conservação, muitos deles transformados em hotéis, bares, restaurantes e lojas. Aliás, a região é Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, desde 1997. Ficar hospedado por ali é um acerto.
Nas vitrines não falta o tal “chapéu-panamá” que curiosamente não é original do Panamá, mas do Equador. E tem história por trás disso. É que durante a construção do canal, o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt usou o chapéu durante uma visita por ser leve e fresco para o clima tropical panamenho. A temperatura costuma ficar na casa dos 300C ao longo do ano. Virou moda. No entanto, ele é feito com uma palha conhecida como “toquilla” encontrada apenas no Equador. A moda foi longe. Virou um dos símbolos da “malandragem” carioca, foi usado por Santos Dumont, Michael Jackson, Getúlio Vargas, Winston Churchill, Clark Gable, Humphrey Bogart, Tom Jobim e por aí vai.
ONDE FICAR
Para uma boa hospedagem na Cidade do Panamá recomendo que fique no Casco Viejo e indico os hotéis:
Plaza Herrera: acabou de abrir as portas, com apenas 9 acomodações, num prédio histórico restaurado recentemente, que já foi residência de um dos presidentes do Panamá. Perfeito para quem gosta de hotéis boutique.
Sofitel Legend: um clássico na cidade, voltado para o Golfo do Panamá e que também ocupa um prédio histórico do Casco Viejo.
American Trade: praticamente ao lado do hotel anterior e que pertence ao grupo Small Luxury Hotels, mas confesso que está precisando de uma repaginada. Dica: peça um quarto com vista para a praça. Faz toda diferença.
QUANTO TEMPO
Dois ou três dias são o ideal para descobrir os encantos da Cidade do Panamá. Mas vá além. Não dá para ignorar a beleza de suas duas principais estrelas: San Blas e Bocas del Toro. Aí estão as melhores versões azul-Caribe do Panamá.
BOCAS DEL TORO
Bocas del Toro é um arquipélago do Caribe panamenho situado a pouco mais de uma hora de voo da Cidade do Panamá, quase na divisa com a Costa Rica. Aviões pequenos – Air Panamá e Fly Trip - fazem essa rota em uma hora (Cidade do Panamá – Bocas del Toro), e a baixa altitude do voo ajuda a visualizar a cena paradisíaca formada por sete ilhas principais de vegetação abundante e uma grande quantidade de cayos e ilhotas cercados ora por águas claras e recifes de coral, ora por manguezais esverdeados. Por sua rica biodiversidade. A região ganhou o primeiro Parque Nacional Marinho do Panamá, declarado Patrimônio da UNESCO.
A Ilha Colon é a porta de chegada. E mesmo sendo uma das maiores do arquipélago, é bem pequena e rústica, mas de astral vibrante e com fama de ter uma vida noturna animada. Se é movimento que você quer, escolha um hotel por ali mesmo. Tem muitos. Caso queira tranquilidade, então tome um barco e em vinte minutos estará no estupendo Nayara Bocas del Toro.
NAYARA BOCAS DEL TORO
O Nayara Bocas Del Toro é um eco-resort de luxo - inaugurado logo após a pandemia - com um design que mescla sofisticação e sustentabilidade. A estética caribenha conversa com traços balineses e abusa de elementos naturais reaproveitados que criam um ambiente elegante conectado com a natureza exuberante do entorno.
Como o nome já diz, está localizado no arquipélago de Bocas del Toro, no norte do Panamá, em uma ilha privada. Suas 20 acomodações são divididas entre bangalôs sobre a água e casas na árvore. É um dos resorts mais exclusivos da região. Foi projetado para ter o máximo de privacidade, com vistas deslumbrantes do oceano ou das copas das árvores, sendo dedicado apenas a adultos, em sistema all-inclusive.
Para garantir bons momentos tem dois restaurantes – Elephant House e The Coral Café - e um bar lindo – Tipsy Beach Bar - na praia flutuante.
A gastronomia fica por conta do chef executivo Joseph Archbold, nativo de Bocas del Toro, mas com formação no Le Cordon Bleu e experiência internacional em restaurantes estrelados de Paris.
Para circular pelo arquipélago, o Nayara Bocas del Toro tem lanchas que chegam em menos de meia hora nos principais pontos de interesse, como Cayo Zapatilla I e II - composto por duas ilhotas banhadas por um mar cristalino de água azul turquesa - situado no Parque Nacional Marinho da Ilha Bastimentos ou Playa de Las Estrellas, cujo nome sugere que o destino tem estrelas-do-mar. Infelizmente, não mais. Estrelas-do-mar são muito sensíveis basta tirar por m breve instante da água e eles morrem ao entram ar na sua circulação. Nunca as tire da água. Nem mesmo toque nelas se quiser continuar apreciando sua beleza no mar. Para vê-las ainda há alguns lugares onde os barcos chegam, mas os turistas não são autorizados a descer. Que assim continue.
SAN BLAS
Esse não é um dos destinos mais óbvios do planeta. Afinal, estamos falando de um território marítimo indígena pouco explorado, sem muita interferência externa e por isso mesmo cheio de personalidade. E quer saber a verdade? É um dos lugares mais intocados, de azul mais turquesa e mais bonitos que já tive o privilégio de conhecer.
Então vou te contar um pouquinho da história dos índios Guna Yalas (também chamados de Kuna Yalas). Essa sociedade matriarcal, na qual as mulheres têm grande poder, vivia isolada nas florestas do Istmo de Darien, na fronteira do Panamá com a Colômbia, uma região montanhosa tida como extremamente perigosa. No início do século XX, quando o Panamá se separou da Colômbia, eles desceram para o mar e se instalaram nesse paraíso caribenho.
Após a revolução Tule, em 1925 - a área foi reconhecida por lei como Comarca Indígena Autônoma dos Gunas. Vale lembrar que “tule” significa povo no idioma dos Gunas e “yala” quer dizer terra. Já o nome, San Blas faz alusão a um santo cristão, de origem armênia, trazido pelos espanhóis no período colonial.
Dizem que o arquipélago de San Blas tem 365 ilhas, o que significa que você terá uma ilhota mais azul do que outra para explorar a cada dia do ano. No entanto, poucas são habitadas. E somente pelos Gunas. É por isso que o arquipélago se mantém intocado e longe das mãos de redes hoteleiras. As hospedagens possíveis em terra são em locais simples comandados pelos próprios moradores Portanto, a opção mais acertada é a escolha de um catamarã ou veleiro tanto pelo conforto como pela facilidade de explorar o arquipélago.
QUANDO IR
De dezembro a maio é o período de melhores condições climáticas para uma experiência no mar. Depois disso pode ter muito vento e atrapalhar a viagem.
SAIL LIFE EXPERIENCE
Escolhi a Sail Life Experience para uma experiência de 3 dias “al mare”, em um veleiro (fale comigo pelo Instagram @claudia_liechavicius e te conecto diretamente com eles para garantir um serviço personalizado).
A empresa oferece veleiros e catamarãs tripulados pelos proprietários, com uma experiência local incrível, inclusive com todas as refeições a bordo, incluídas no valor da diária. Nossos anfitriões foram Silvia, nutricionista das Ilhas Canárias e Pablo, velejador experiente de Mallorca. O casal passa 6 meses do ano em San Blas e 6 em Ibiza oferecendo essa experiência a bordo.
Para chegar a San Blas há duas possibilidades. De carro 4X4, serpenteando pelas montanhas num trajeto que dura ao redor de 3 horas, podendo ser mais longo. Ou em um avião pequeno (6 lugares) em 30 minutos.
Optei por voar com a Aero Rental. Ao chegar no arquipélago, as taxas de entrada são pagas em dólar. Por pessoa são 12 dólares + 10 dólares para o avião pousar. Leve dinheiro vivo com as notas bem contadas para facilitar. Na saída também são pagas as mesmas taxas. Além disso, cada vez que você desembarcar em uma ilha, os moradores solicitam um pagamento de 2 dólares para que você entre no pátio deles. E que pátio!
Ao chegar em San Blas, nosso marinheiro Pablo já aguardava com um bote para irmos até a embarcação que estava atracada a poucos metros dali.
Caso você opte por ficar hospedado em uma acomodação ao estilo do povo Guna (é a única possibilidade de hospedagem em terra) precisará de um barqueiro para ir até a sua ilha.
Uma experiência “al mare” é mais do que especial, principalmente num lugar paradisíaco e remoto como San Blas, onde o luxo passa a ser redefinido pelo contato íntimo com a natureza, pelo privilégio de ter mais de 300 ilhas de azul cristalino ao alcance dos olhos, pela riqueza da fauna marinha, pela convivência com a simplicidade do povo do arquipélago e pelo privilégio de ter um anfitrião com grande sabedoria sobre o mar conduzindo os hóspedes por onde o vento levar.
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